A incidência de muitos destes tumores aumentou nos últimos anos, especialmente entre os jovens — uma tendência que contrasta com o declínio geral dos tumores sem relação estabelecida com o excesso de peso, como os de pulmão e pele.
A obesidade é o novo tabagismo? Não exatamente.
A relação entre o excesso de gordura e o câncer é muito menos clara do que no caso do tabaco. Embora aproximadamente 42% dos tipos de câncer — incluindo os mais comuns, como o colorretal e o de mama pós-menopausa — estejam relacionados à obesidade, apenas cerca de 8% dos tumores incidentes são atribuídos ao excesso de peso corporal. Há pessoas que evoluem com essas doenças independentemente do peso.
Muitas evidências indicam que o excesso de gordura corporal é um fator de risco para o câncer, mas a influência exata ainda é incerta. Por exemplo, será que ganhar peso mais tarde na vida é melhor ou pior para o risco de câncer do que ter excesso de peso ou obesidade desde cedo?
Outra grande dúvida é se a perda de peso na idade adulta altera esse risco. Em outras palavras, quantos desses 684.000 diagnósticos poderiam ter sido evitados se as pessoas perdessem o excesso de peso?
Quando se trata de peso e risco de câncer, “há muita coisa que não sabemos”, disse a Dra. Jennifer W. Bea, Ph.D., professora associada de ciências da promoção da saúde na University of Arizona, nos EUA.
Uma relação consistente, mas complicada
Dada a crescente incidência da obesidade — que atinge atualmente cerca de 42% dos adultos e 20% das crianças e adolescentes norte-americanos — muitos estudos têm avaliado os potenciais efeitos do excesso de peso nas taxas de câncer.
Embora a maioria das evidências venha de grandes estudos de coorte, deixando em aberto a questão de causa e efeito, algumas associações continuam aparecendo.
“O que sabemos é que, consistentemente, um índice de massa corporal (IMC) mais elevado — particularmente na categoria de obesidade — leva a um risco maior de múltiplos tipos de câncer”, disse o Dr. Jeffrey A. Meyerhardt, médico, codiretor do Colon and Rectal Cancer Center, Dana-Farber Cancer Institute, nos EUA.
Em um artigo amplamente citado, publicado no periódico The New England Journal of Medicine em 2016, a International Agency for Research on Cancer analisou mais de 1.000 estudos epidemiológicos sobre gordura corporal e câncer. A agência identificou mais de uma dúzia de tipos de câncer, incluindo alguns dos mais comuns e letais, ligados ao excesso de peso corporal.
Essa lista inclui adenocarcinoma de esôfago e câncer de endométrio, ambos associados a maior risco, bem como tumores no rim, fígado, estômago (cárdia gástrica), pâncreas, colorretal, mama pós-menopausa, vesícula biliar, ovário e tireoide, além de mieloma múltiplo e meningioma. Há também evidências “limitadas” que associam o excesso de peso a outros tipos de câncer, incluindo câncer de próstata agressivo e certos tumores de cabeça e pescoço.