Veículo: Tribuna da Bahia
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Data: 22/05/2024

Editoria: Sem categoria
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IA ajuda na estratificação de risco de câncer de mama por meio de exame de sangue

Pesquisadores brasileiros mostraram que uma solução de inteligência artificial é capaz de rastrear padrões ocultos complexos que conferem aumento do risco de câncer de mama por meio da análise de um simples exame de sangue, como o hemograma.
A conclusão é de um estudo, publicado recentemente na revista Scientific Reports do respeitado grupo Nature, e conduzido pela Huna, uma deeptech brasileira de inteligência artificial, em parceria com o Grupo Fleury e participação de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os pesquisadores utilizaram uma solução de inteligência artificial para analisar dados de hemogramas, realizados nos últimos 20 anos, de quase 400 mil mulheres, entre 40 e 70 anos, de oito estados brasileiros. Para treinamento do modelo de machine learning, os hemogramas foram rotulados com base nos resultados de biópsias e exames de imagem da mama, como mamografia ou ultrassonografia mamária.
“Tradicionalmente, exames de sangue de rotina são analisados usando parâmetros fixos e lineares. No entanto, doenças complexas como o câncer envolvem processos biológicos intrinsecamente não lineares. O uso de inteligência artificial nos permite detectar padrões complexos nas células sanguíneas associadas ao câncer de mama”, afirma Daniella Castro Araújo, PhD em IA, CTO e cofundadora da Huna, responsável pelo desenvolvimento da tecnologia apresentada.
No estudo, foram analisados 396.848 hemogramas, nos quais a estratégia abordada conseguiu identificar o grupo de pacientes com duas vezes mais probabilidade de ter a doença. Com isso, conclui-se que a ferramenta pode aprimorar a identificação de mulheres em maior risco, aumentando as chances de detecção precoce do câncer. O oncologista Pedro Henrique Araújo, diretor Médico da Huna, enfatiza a importância da detecção em estágios iniciais para obter melhores resultados clínicos. “Diagnosticar o câncer precocemente tem um impacto direto nas taxas de sobrevivência de pacientes, possibilitando tratamentos menos invasivos e, também, menos dispendiosos para o sistema de saúde”, explica.
O câncer de mama figura como o mais comum entre as mulheres brasileiras, assumindo o título de principal causa de óbito por câncer nesse grupo. Apesar da sua prevalência alarmante, o País ainda enfrenta desafios significativos na implementação de uma estratégia abrangente de rastreamento da doença para toda a população feminina. “Com esta abordagem, torna-se possível priorizar mulheres com maior risco de câncer de mama, otimizando a fila para a mamografia, exame crucial para o diagnóstico precoce e que quase 60% das mulheres brasileiras atualmente não têm acesso”, ressalta Daniella.
A estratégia apresentada no estudo não tem a finalidade de substituir exames convencionais, mas sim criar um indicador de risco para o câncer de mama que seja capaz de realizar uma “triagem” entre pacientes a partir de um exame rápido e acessível.
“Quando utilizamos um exame de sangue para essa análise, estamos adicionando valor a um procedimento já comumente realizado e atribuindo uma nova utilidade aos hemogramas. Em comparação com o modelo de estratificação de risco clínico mais conhecido, o Tyrer-Cuzick, o nosso apresenta desempenho ligeiramente melhor, com a vantagem de poder ser utilizado em larga escala em bases de dados laboratoriais”, explica Daniella.
Para além dos benefícios clínicos, a tecnologia prevê gerar economias substanciais para o sistema de saúde. “Essa abordagem é promissora porque não implica custos adicionais para o setor. Em vez disso, baseia-se na otimização do uso de exames já realizados rotineiramente, resultando em uma relação custo-efetividade favorável para o sistema de saúde como um todo”, afirma o Dr. Bruno Aragão Rocha, coordenador médico de Inovação do Grupo Fleury.
“Também, a solução apresentada no estudo pode apoiar otimizações e refletir uma mudança de paradigma na medicina preventiva. Os resultados são animadores, pois representam um exemplo concreto de como a análise de dados de saúde em larga escala pode impulsionar uma medicina mais preventiva e preditiva”, conclui a Dra. Daniella Marcia Maranhão Bahia, diretora Médica do Grupo Fleury.
Estudos preliminares com hemograma
Esse não é o primeiro trabalho da parceria entre a Huna e o Grupo Fleury com análise de marcadores sanguíneos. Durante a pandemia da COVID-19, ambos os times desenvolveram uma solução, também baseada em inteligência artificial, capaz de detectar a infecção ativa pelo coronavírus no organismo usando hemogramas. O resultado do estudo foi divulgado em uma das publicações científicas mais conceituadas no mundo, a Comunications Medicine – também do grupo Nature.
Os aprendizados obtidos na jornada conjunta de pesquisa para aplicação de IA ao diagnóstico da COVID-19 se somam à profícua trajetória de cooperação entre a grande empresa e a deeptech, configurando um exemplo palpável de inovação aberta que permite o desenvolvimento de soluções de uma forma mais rápida e eficiente por meio da colaboração entre diferentes agentes do ecossistema de saúde nacional.