Veículo: G1 - Rio Grande do Sul
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Data: 14/05/2024

Editoria: Sem categoria
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Minha bebê é um milagre que veio para me dar forças’, diz mãe que enfrentou câncer durante a gestação

A dona de casa Joce Schaeffer deu à luz Paola em 29 de julho de 2023, três dias antes de retirar um dos seios por causa do câncer de mama. A bebê nasceu com 37 semanas de gestação – um pouco antes do previsto, mas saudável. Neste domingo (12), as duas, que moram em Passo Fundo (RS), vão passar o primeiro Dia das Mães juntas.

“Deus esteve com a gente desde o começo, porque minha bebê é um milagre. Nós duas lutamos muito. Ela veio para me dar forças quando mais precisei. Acho que Deus sabia que eu não iria conseguir sozinha”, diz Joce, que continua em tratamento, em entrevista ao g1.

Ela se lembra de que que, em agosto de 2022, procurou um médico porque estava incomodada com um caroço no seio. A dúvida virou certeza quase no mesmo dia.

“Fiz ultrassom, e a doutora me olhou e disse que provavelmente era câncer e que era ruim. Foi a pior notícia da minha vida, que se confirmou após a biópsia apontar que já estava um pouco avançado.”

Joce conta como foram os primeiros meses após o diagnóstico: “No começo, tive de arrecadar dinheiro para fazer a biópsia e outros exames que iriam demorar muito pelo SUS [Sistema Único de Saúde]”.

Pouco antes do início da quimioterapia, ela estava com a menstruação atrasada e fez um exame de sangue que confirmou a suspeita: Joce estava grávida.

“Foi um susto. Eu e meu marido não esperávamos por isso. Não foi planejado, ainda mais naquele momento, com o câncer e o tratamento que eu tinha pela frente. Como seria esse tratamento? Qual risco o meu bebê corria? Passou de tudo pela minha cabeça.”

médica oncologista Solange Moraes Sanches, vice-líder do Centro de Referência em Tumores de Mama do Hospital A.C. Camargo, falou ao g1 sobre o risco de gravidez nesse cenário. Ela explica que, a depender do estágio da doença, o tratamento é seguro e plenamente viável.

“Uma vez que se saiba a extensão da doença, decide-se qual é o tratamento para essa paciente grávida, porque praticamente nenhum tratamento é possível no primeiro trimestre da gravidez: nem cirurgia nem quimioterapia ou radioterapia podem ser feitas em nenhum momento da gravidez”, afirma.

Com Joce, foi exatamente assim: a quimioterapia teve de esperar um pouco, justamente para diminuir a chance de aborto. O tratamento começou após o terceiro mês da gestação, com medicação adaptada.

“Mesmo sem ser planejada, a nossa filha foi muito desejada, desde que soubemos da gravidez. Sabendo que iniciar o tratamento aumentaria o risco de aborto, por isso optamos por esperar um pouco e dar mais uma chance para ela. Graças a Deus, foi essa a nossa escolha, pois hoje estou bem, e a minha filha está saudável, quase completando um aninho de vida”, comemora.

A mãe diz que o apoio do marido, Ezequiel Santos, foi fundamental para enfrentar o tratamento durante a gestação. Após o início da quimioterapia, veio a queda de cabelo, mas os sintomas de mal-estar foram leves.

Já a médica Solange Sanches afirma que, após o primeiro trimestre da gestação, a químio é segura, embora algumas medicações não sejam indicadas.

“Os casos são analisados individualmente. e esse tratamento é feito em concomitância com a avaliação do obstetra e de um neonatologista, porque a vamos acompanhando o crescimento do bebê, tomando algumas medidas para que o parto seja antecipado para uma data segura para o bebê e para a mãe, que está em tratamento”, descreve.

O nascimento de Paola

Por causa do tratamento e do estágio do câncer, Joce teve que optar por uma cesária na 37ª semana. Os médicos recomendaram que a cirurgia de mastectomia (retirada cirúrgica da mama) fosse feita imediatamente.

O procedimento é o mais convencional, explica a médica Solange Sanchez: “Na maior parte das vezes, a gestante faz um tratamento durante a gravidez e, depois do parto, vai para a cirurgia. Mas isso, obviamente, muda de acordo com o tipo, o estágio e a extensão do tumor”.

No caso de Joce e Paola, tudo ocorreu como o esperado, e em poucos dias as duas estavam em casa.

“Tivemos que antecipar o parto, e dias depois tirei toda a mama direita. Ela nasceu bem, a minha moça”, recorda a mãe.

Com a cirurgia e a quimioterapia, ela não pôde amamentar a filha. Mas Joce conta que, apesar de sentir falta desse momento íntimo com Paola, o preparo psicológico ajudou a enfrentar mais essa barreira.

“Fiquei tranquila porque, desde o começo da gravidez, eu já sabia que não poderia amamentar. Claro que fiquei triste, mas fui me preparando ao longo da gestação.”

Um começo e um recomeço

Passados quase 10 meses do nascimento de Paola e da cirurgia, Joce comemora os momentos com a filha e a nova chance dela própria como mãe e mulher.

“Agora, só preciso fazer o acompanhamento, e estou curtindo esse momento com a minha filha. Cuidando dela. Porque, como disse, ela é um milagre e nasceu guerreira. Esse Dia das Mães, com certeza, é muito especial para nós duas”, comemora.