Veículo: InfoMoney
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Data: 20/07/2024

Editoria: Sem categoria
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Ibovespa fecha em queda e perde os 128 mil pontos; nem Petrobras salva

O Ibovespa começou a semana com queda de 0,31%, aos 127.750,92 pontos, uma perda de quase 400 pontos. Foi decepcionante, porque o dia chegou a assistir o principal índice da Bolsa brasileira renovar máximas e conseguir certa folga no campo positivo, mas não resistiu ao peso das mesmas incertezas que vêm constantemente pressionando os negócios em São Paulo.

Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, que participou hoje do Morning Call da XP, disse que a casa tem conversado com uma série de investidores aqui no Brasil e lá fora com o objetivo de entender o sentimento com relação aos ativos brasileiros. “A gente tem visto uma piora e vem observando isso ao longo das últimas semanas. Essa piora tem a ver com alguns fatores”. O mais importante deles é o fiscal. Os riscos fiscais “não são uma novidade no Brasil”, ele afirmou. “Mas depois da revisão das metas em abril feita pelo governo, percebe-se que os investidores e o mercado passaram a ver os resultados fiscais ainda piores adiante”, ressaltou. O segundo risco é o da condução da política monetária após a última votação do Copom da taxa Selic, com dissenso entre seus membros. “O mercado começou a debater como será a condução da política monetária à frente e colocou um prêmio de risco na curva DI”, destacou. E ainda há a tragédia no Rio Grande no Sul: “o mercado começa a debater qual será o impacto econômico tanto no PIB, que certamente terá uma queda no 2º trimestre, como na inflação, principalmente de itens agrícolas”.

Na mesma toada, o dólar comercial começou em alta, virou para baixa com certa tranquilidade, para então fechar com mais 0,05%, a R$ 5,10.  Lá fora, há “algum otimismo no mercado americano frente a dados econômicos mais positivos na última semana e expectativa alta em relação a divulgação dos resultados da Nvidia nessa quarta-feira (22). Esse movimento aliado aos gatilhos positivos e negativos em balanço na precificação de risco da bolsa brasileira, hoje, elevam o fluxo externo nos mostrando uma alta na cotação do dólar”, disse Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital.

Em Wall Street, os principais índices terminaram o dia de forma mista, com recordes novamente nas manchetes, após os 40 mil pontos inéditos do Dow Jones semana passada: o Nasdaq, de alta tecnologia, atingiu um máximo histórico intradiário, enquanto o S&P 500 subiu para próximo de um novo fechamento recorde. Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da CFRA Research, entende que “se eles (os resultados da Nvidia) continuarem a superar (as expectativas do mercado), mas em menor quantidade, o avanço das ações diminuirá, mas as pessoas não estarão vendendo tão cedo. Estamos apenas no início de um boom impulsionado pela IA que elevará não apenas a Nvidia, mas muitas outras ações”.

Entretanto, o J.P.Morgan observa a possibilidade dos EUA não caminharem para um pouso suave que evitará uma grande desaceleração. O banco está preparado para os riscos que podem inviabilizar o tal pouso suave – conseguir levar a inflação à meta de 2% sem aumentar demais o desemprego e sem comprometer o PIB -, disse seu presidente Daniel Pinto. “Claramente, há incertezas”, acrescentou.

Por aqui, no Brasil de um Rio Grande do Sul ainda destroçado, aguardado toneladas de donativos do país inteiro e toneladas de dinheiro do governo federal, abre-se também os olhos para Santa Catarina, que teve sua cota de destruição.

Ibovespa, Vale e Petrobras

Em São Paulo, o dia viu a Vale (VALE3) cair 0,05%, após trocar de sinal algumas vezes durante a sessão. Nem mesmo o minério de ferro na máxima de três meses sustentou VALE3 no azul. Além disso, a mineradora afirmou hoje que as negociações sobre uma nova proposta de acordo relacionado ao rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), seguem em andamento no Tribunal Regional Federal da 6ª Região.

Já a Petrobras (PETR4) conseguiu se manter firme e forte no campo positivo, apesar do petróleo internacional em baixa, e subiu 0,16%, depois de uma semana desastrosa, quando acumulou perdas de mais de 11%.

Entre as petro juniores, houve alívio nas preocupações. Foi assim que o mercado recebeu no fim da semana passada a notícia da 3R Petroleum (RRRP3de que seu conselho de administração aprovou a incorporação da Enauta (ENAT3), formando uma companhia de petróleo com “alto” potencial de crescimento nos próximos anos, segundo fato relevante divulgado ao mercado. Entretanto, hoje, as duas caíram respectivamente 2,13% e 1,46%.

Entre os bancos, apenas BB (BBAS3) teve uma alta consistente, com 0,83%, enquanto no varejo Lojas Renner (LREN3) caiu 0,27%, enquanto Ambev (ABEV3) perdeu 2,26%.

É preciso destacar também a performance positiva de Suzano (SUZB3), com mais 0,78%, entre as mais negociadas do dia, com banco elevando recomendação das ações. É o mesmo motivo pela qual Klabin (KLBN11) ganhou 1,36%. Braskem (BRKM5), por sua vez, avançou 3,23%, com vitória bilionária na Justiça.

Os riscos e as incertezas estão afetando a caminhada do Ibovespa. Os estrategistas do Santander cortaram a previsão para o Ibovespa de 160 mil para 145 mil pontos para 2024, vislumbrando um nova era de crescimento mais forte e taxas de juros mais elevadas, em uma “mudança de marcha” das perspectivas do final do ano passado, de crescimento modesto e juros mais baixos. “Muita coisa mudou desde dezembro de 2023, principalmente em relação aos Estados Unidos”, afirmou a equipe liderada por Aline Cardoso, chefe de pesquisa e estratégia de ações para Brasil do banco.

O Boletim Focus de hoje também foi atingido por essas preocupações do cenário Brasil: projeções para inflação e Selic em 2024 sobem e a do PIB cai. A mudança nas projeções “mais importante sem dúvida foi a revisão da Selic para 10% ao final do ciclo, ou seja, o mercado espera mais dois cortes de 25 pontos e para. Esta é uma mudança substancial nas expectativas dos economistas e reverbera o último Copom”, disse o economista André Perfeito.

Leonardo Costa, economista da Asa Investments, acredita que o Banco Central interrompeu o atual ciclo de corte de juros na reunião de maio, com a taxa Selic se mantendo em 10,50% em 2024, ante previsão de 9,75% anteriormente. “Não obstante, a divisão exposta na última reunião deve se seguir na próxima reunião (ou até mesmo nas próximas reuniões), com risco de um corte adicional de 0,25% em junho”, disse.

“Acreditamos que o Focus deve continuar registrando piora nas expectativas de inflação mais longas (26, 27, 28), o que deve se chocar com o desejo do BC de reancoragem à meta; além disso, o cenário externo segue desafiador, com a inflação nos EUA ainda em nível resistente, especialmente a componente de serviços, postergando o início do ciclo de corte de juros”.

O cenário não chega a ser sinistro, mas anda desanimador. Entretanto os humores mudam de tempos e tempos: qual será o próximo catalisador? (Fernando Augusto Lopes)