Veículo: Valor Econômico
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Data: 12/07/2024

Editoria: Sem categoria
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Auxílio ao RS puxa vendas, e alta do varejo surpreende

As vendas no varejo surpreenderam em maio, com a quinta alta mensal consecutiva e efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul localizados. A perspectiva é que a atividade no comércio continue forte nos próximos meses, especialmente para segmentos mais dependentes da renda. Em contraposição, os dependentes de crédito devem continuar a ter recuperação lenta, afirmam economistas.

O volume de vendas no varejo restrito subiu 1,2% em maio ante abril, na série com ajuste sazonal, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE nesta quinta-feira (11). A alta foi puxada principalmente por vendas de hiper e supermercados. Na mediana de estimativas coletadas pelo Valor Data, a previsão era de recuo de 0,5%.

Na comparação com maio de 2023, o varejo restrito avançou 8,1%. O ritmo de alta foi quase o dobro da mediana de consultorias e instituições, de aumento de 4,2%.

 

No varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, material de construção e atacarejo, o volume de vendas subiu 0,8% na passagem entre abril e maio, quando a projeção de mercado era de queda de 0,6%.

Frente a maio de 2023, o volume de vendas do varejo ampliado subiu 5%, também acima da expectativa mediana, de alta de 1,8%.

Os dados de maio mostram um comércio “expressivo” em 2024, com cinco altas seguidas, sequência que não era observada desde 2020, na recuperação exatamente posterior aos primeiros meses da pandemia, comentou o gerente do IBGE Cristiano Santos, responsável pela PMC.

“É um resultado bastante forte do comércio varejista em 2024, com um acumulado de 5,6% nos cinco primeiros meses, enquanto o ano inteiro de 2023 foi de 1,7%. É bastante expressivo, e está em um crescente desde março”, afirmou.

As taxas mensais de expansão do varejo ao longo de 2024 foram de 1,9% em janeiro, 1% em fevereiro, 0,3% em março, 0,9% em abril e 1,2% em maio. O crescimento dos últimos meses tem sido puxado pelos setores de supermercados e de artigos farmacêuticos.

Em maio, o varejo restrito renovou seu maior patamar da série histórica e teve alta em cinco das oito atividades. As taxas positivas foram em tecidos, vestuário e calçados (2%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,6%), hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,7%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,2%), e livros, jornais, revistas e papelaria (0,2%).

Tiveram queda móveis e eletrodomésticos (-1,2%), combustíveis e lubrificantes (-2,5%), e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-8,5%).

Será um semestre que cresce, mas com taxas menores”

— Isabela Tavares

Em maio, a receita nominal do varejo restrito subiu 1,3%, na comparação com abril. A do varejo ampliado avançou 1,7%.

 

Em maio, o segmento de hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo atingiu o maior nível da série histórica da pesquisa, em 2000.

Rio Grande do Sul

A corrida aos supermercados e as doações por causa das enchentes ajudaram o comércio do Rio Grande do Sul a crescer 1,8% das vendas do varejo restrito em maio, acima da média brasileira, de 1,2%. Já a receita teve alta de 1,2%, ante variação de 1,3% no Brasil.

O resultado do varejo no Estado ficou muito acima do esperado, afirma Isabela Tavares, da Tendências Consultoria.

“Apesar da queda de 2,8% no ampliado no Estado, a alta do restrito mostra essa corrida a supermercados por itens de necessidade básica”, afirma, ao lembrar que a expectativa era de queda no Rio Grande do Sul.

Daniel Arruda, economista da LCA Consultores, afirma que as vendas no varejo decorrentes do volume de doações para as regiões atingidas mais que compensaram as quedas vistas nessas áreas.

“O lado negativo ficou concentrado em veículos e peças, que têm grande peso no ampliado. O volume de vendas caiu 34,2% nesse segmento, em termos anuais, no Estado. Bem distante do dado nacional, de alta de 10,6%”, diz.

No curto prazo, ele prevê que as vendas no varejo devem se beneficiar do mercado de trabalho aquecido e da reconstrução no Rio Grande do Sul. “Será um impulso positivo com a recomposição de estoques de bens, como móveis e eletrodomésticos que terão de ser comprados por famílias atingidas pelas chuvas”, afirma.

Renda

Os fortes números do varejo ofuscam uma heterogeneidade, afirma Georgia Veloso, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

“Vemos que o varejo restrito, por exemplo, vem positivamente influenciado por alguns dos principais segmentos, aqueles mais associados à renda, como hiper e supermercados e artigos farmacêuticos”, diz, ao citar a melhora do rendimento das famílias e a resiliência do mercado de trabalho, que acabam beneficiando atividades associadas à renda.

Mas os seguimentos associados ao crédito ainda não apresentaram uma recuperação sustentada, diz. “Tem havido muita oscilação nos últimos meses. E não uma recuperação homogênea”, diz.

No varejo ampliado, o cenário é semelhante, diz Veloso. “Um fator que associávamos à recuperação do varejo de forma mais homogênea em 2024 seria essa queda continuada dos juros. A redução desse ciclo preocupa para os próximos meses, já que não há recuperação sustentada de atividades mais dependentes do crédito neste ano e o endividamento das famílias ainda ainda está alto”, diz.

No segundo semestre, a perspectiva é de um varejo ainda forte, mas com sinais de desaceleração, afirma Tavares

“Ainda teremos um cenário parecido. Será um semestre que cresce, mas com taxas menores que no primeiro”, diz. “Do lado positivo, o mercado de trabalho forte ajudará a manter níveis altos [de vendas no varejo]. Mas o cenário adiante também contempla maiores incertezas, com confiança do consumidor mais volátil e incerteza das condições financeiras.”

Além da redução dos juros menos forte que o esperado antes, Tavares acrescenta maior incerteza no campo fiscal, pressionando os juros de mercado e a taxa de câmbio.