O investidor pessoa física está sabendo navegar melhor pelos ciclos da bolsa brasileira? Cerca de 45% dos alocadores em ações no Brasil bateram o Ibovespa nos últimos 12 meses findos em 28 de junho deste ano, de acordo com o último levantamento do app Grana Capital. A plataforma, parceira da B3 para o cálculo do Imposto de Renda (IR) sobre ganhos na bolsa, avaliou a performance das carteiras dos seus mais de 62 mil usuários.
Ou seja, de acordo com o levantamento, mais de 28 mil investidores pessoa física na base do app superaram o retorno do principal índice acionário da B3 nesse intervalo. No fim de 2023, o grupo de investidores da Grana Capital que tinham superado o Ibovespa entre janeiro e dezembro daquele ano era menor, de 39,3%.
Carteira de ações de pessoas físicas X Ibovespa*
Rentabilidade | Número de Investidores PF | Fatia da base |
Entre -100% e -91,68% | 207 | 0,33% |
Entre -91,67% e -8,34% | 6.472 | 10,42% |
Entre -8,33% e -0,01% | 6.063 | 9,76% |
Entre 0% e +8,32% | 21.234 | 34,18% |
Entre +8,33% e +141,66% | 28.128 | 45,28% |
Acima de 141,67% | 13 | 0,02% |
Mas esses números podem levar a conclusões distorcidas. E ainda é cedo para afirmar que o investidor do varejo evoluiu suas estratégias na bolsa brasileira.
Na realidade, o investidor médio pessoa física que aloca em ações na B3 não passou ileso pelos chacoalhões da renda variável neste início de ano.
“A começar que os investidores brasileiros já são, em média, mais avessos ao risco, porque a nossa bolsa tem uma volatilidade maior que as de outras bolsas mundo afora. Mas ele tende a conseguir bater o Ibovespa nas crises porque é nesses momentos que vai montar posições mais defensivas [de menor volatilidade] na sua carteira de ações, como em papéis de grandes bancos, de empresas do setor elétrico e de boas pagadoras de dividendos“, pondera João Felipe Guimarães, economista da Grana Capital.
Entre as companhias mais buscadas na plataforma Grana Capital pelos investidores de ações, Banco do Brasil, Vale, Petrobras, Bradesco e BB Seguridade lideraram o ranking do fim de junho
Performance X performance
Outros fatores precisam ser adicionados neste cenário para compreender os paralelos entre a performance da carteira da pessoa física e o retorno do Ibovespa nessa janela do levantamento.
A começar que investidores da bolsa brasileira já costumam concentrar investimentos nas poucas blue chips (as empresas com os maiores volumes de negociação), que também dominam uma fatia generosa do índice.
Por aí, seria difícil descorrelacionar as performances. Mas o Ibovespa, com 86 papéis, está sob efeito de contrapesos nem sempre benéficos. Apenas 19 ações da carteira teórica (ou seja, 22% dela) encerraram o primeiro semestre deste ano em alta.
Por exemplo: só o preço da ação preferencial (com preferência por receber dividendos) da Petrobras, PETR4, acumulou cerca de 28% de alta nesse período. Ou seja, um investidor que possui este papel já teria superado o Ibovespa em quatro vezes.
E então vem o segundo e mais importante fator para analisar este cenário: ficou mais fácil bater o Ibovespa.
O índice acionário mais negociado da B3 acumulou ganhos de 22% entre janeiro e dezembro de 2023. Entre julho de 2023 e junho de 2024, esse saldo se transformou em 6,2% de ganhos. Ou seja, nesse primeiro semestre, o índice “devolveu” boa parte da alta conquistada basicamente nos últimos dois meses do ano passado.
Esta janela dos últimos 12 meses pôs ênfase à volatilidade da bolsa no Brasil. O Ibovespa dos 110 mil pontos em meados de 2023 até seu recorde acima dos 134 mil pontos no fim do ano e então de volta à casa dos 120 mil pontos em junho.
“O app apresenta um histograma que faz uma comparação de rentabilidade da carteira do usuário com a base da plataforma. E isso ajuda enquanto elemento psicológico. Quando a pessoa está frustrada com os 7% de rentabilidade dela no período, por exemplo, mas vê que está melhor que 85% dos investidores, ela tende a segurar o impulso de sair da bolsa num momento ruim [com preços dos ativos muito descontados]”, diz Alexandre Fischer, diretor de produtos da Grana Capital.
Falando em desespero, pouco mais que 12,7 mil investidores de ações da base de clientes da Grana Capital (ou 20,5% do total) acumularam perdas na janela analisada pelo levantamento. Mas a maioria se concentra nas faixas com desvalorização de até 8,33%: representam 47,6% dos que “saíram no prejuízo”. Em outras palavras: perderam, mas não foi uma sangria desatada.