São poucas, não chegam a sete, as cooperativas de consumo de bens de varejo que apresentam dinamismo e expansão de suas atividades. Elas contrastam com um cenário nacional de estagnação. De acordo com a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), são 160 as cooperativas que trabalham nos ramos de supermercados, farmácias, postos de gasolina, vestuário, combustíveis, veículos e equipamentos. Juntas, reúnem-se por volta de 1,85 milhões de cooperados.
“São números estabilizados, que não crescem de forma significativa há anos”, diz Marcio Valle, representante nacional do varejo na OCB. Na maioria, são poucas cooperativas que surgem para gerar benefícios para funcionários de empresas, autarquias e instituições públicas, que juntas têm maior poder de compra, mas nem sempre contam com estrutura e administração profissional.
As cooperativas de varejo eram comuns até os anos 1970, quando mais de 2.400 organizações atuavam no país. Os tempos mudaram. O comércio hoje é dominado por grandes varejistas, com elevada escala comercial. As cooperativas de consumo também perderam atração a partir de 1997, quando passaram a ter o mesmo tratamento tributário das demais concessionárias.
“Para sobreviver, uma cooperativa de consumo tem que ser tão eficiente e competitiva quanto uma rede varejista tradicional”, diz Pedro Mattos, CEO da Coop, a maior cooperativa de consumo do país. A Coop foi fundada em 1954, em Santo André (SP), quando a cidade carecia da oferta adequada de bens e serviços. Atualmente, conta com mais de 1 milhão de cooperados ativos, 33 supermercados, um atacarejo e 70 farmácias na região do Grande ABC e no interior paulista, além de uma plataforma de vendas online. Em 2023 obteve uma receita de R$ 2,66 bilhões.
Em 2024 a Coop planeja uma nova unidade em Diadema (SP), com supermercado e farmácia, com um investimento de R$ 10 milhões. Para 2025 os planos serão inaugurados mais dois supermercados e dez farmácias. Hoje, 85% das vendas são para os cooperados. “Conhecemos os hábitos de consumo dos nossos clientes e isso nos permite planejar melhor as compras e as ofertas”, diz Mattos.
O cliente de uma cooperativa é, na maioria das vezes, também um sócio, o que cria um vínculo maior com a cooperativa. Como a cooperativa não visa lucro, as sobras operacionais são repartidas anualmente entre os cooperados de forma proporcional às compras do período, uma espécie de cashback – que, no caso da Coop, é em média de 1% do total dos gastos no ano, segundo Mattos.
Para ser um cooperado, o interessado faz uma assinatura de capital de R$ 100, valor que pode ser descontado do cashback anual. O cooperado passa a ter direito a voto nas assembleias cooperativas e acesso a mercadorias com preços exclusivos nas lojas. “Nossa captação de cooperados ocorre entre clientes não cooperados, que se interessam pelos descontos”, diz Mattos. Em média, a Coop registra 100 mil novos associados por ano.
Com 350 mil cooperados e um faturamento de R$ 1,5 bilhão em 2023, a Cooper é uma das principais varejistas da região de Blumenau (SC), onde conta com 20 unidades entre supermercados e farmácias em nove cidades. “Somos fortes na região e despertamos o interesse das indústrias, que querem estar presentes em nossa carteira de compras”, diz Osnildo Maçaneiro, presidente executivo da cooperativa.
Hoje uma instituição independente e aberta a toda a comunidade local, a Cooper foi fundada em 1944 para atender funcionários da Companhia Hering, vínculo que vigorou até o início dos anos 1990. O novo associado só tem que pagar uma assinatura de R$ 50, valor que pode ser debitado na repartição de sobras de fim de ano. Em troca, conta com descontos e acesso a uma série de cursos culinários e palestras de saúde.
Entre 2024 e 2025, a Cooper projeta quatro novas unidades em Santa Catarina: duas em Blumenau, uma em Jaguaré do Sul e outra em Joinville. “As novas lojas são a fonte de geração de novos cooperados”, diz Maçaneiro. A projeção para 2024 é de uma receita de R$ 1,8 bilhão.