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Data: 03/06/2024

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Grupo Dia paga para vender rede no Brasil

A venda da rede de supermercados Dia Brasil, para o Lyra II Fundo de Investimento em Participações, foi acelerada de um mês para cá pela necessidade de os sócios espanhóis “limparem” o balanço global, e reduzir o risco Brasil dos números. A MAM Asset, do Banco Master, estruturou o fundo, mas não tem relação com a operação. O Valor apurou que um grupo de ex-executivos da Alvarez & Marsal está à frente do fundo.

A operação local está em recuperação judicial desde março, e deve ser entregue ao fundo por valor simbólico (€100). No fim das contas, o grupo praticamente pagou para operar nos últimos anos, e para se desfazer da rede no país.

Valor apurou que, apesar da evolução do projeto de retomada operacional da empresa, de algumas semanas para cá ganhou força a visão mais financista do russo Benjamin Babcock, também conhecido como “Ben”, presidente do conselho de administração do Dia. Babcock é diretor da empresa de investimentos LetterOne, com 77% das ações do grupo.

Por essa linha, seria preciso buscar uma solução mais rápida para a rede no Brasil – num ambiente de negociação com bancos estrangeiros para refinanciar a dívida da varejista na Espanha.

Inclusive, a conclusão da venda está condicionada à obtenção pelo Dia do aval dos bancos às condições do acordo, que inclui uma última injeção de dinheiro na operação local. “O LetterOne não queria pôr mais dinheiro aqui, e precisava reduzir alavancagem. Por isso, a prioridade absoluta virou se desfazer de Brasil”, diz uma pessoa a par do tema. Existiam duas propostas, do Lyra II FIP e dos administradores do Dia Brasil, e bateu-se o martelo pela primeira.

Pelo acertado com o fundo, informa comunicado da matriz, o Dia colocará €39 milhões (R$ 222 milhões) na empresa no Brasil e arcará com €30 milhões em dívidas garantidas (R$ 171 milhões) junto ao Santander. Deve gastar € 5 milhões (R$ 28,5 milhões) em despesas com a transação, num desembolso total de R$ 422 milhões.

Como efeito contábil, sem desembolso de caixa, são € 27 milhões (R$ 154 milhões) em ajustes cambiais. No total, considerando efeito caixa e contábil, o impacto atinge R$ 575 milhões.

Na última década, de € 500 milhões a € 1 bilhão teriam sido aportados na subsidiária brasileira

 

Na última década, entre € 500 milhões a € 1 bilhão teriam sido aportados na subsidiária, segundo uma segunda fonte, incluindo o período de descoberta de uma fraude contábil, em 2019.

O anúncio da transação com o fundo, na sexta-feira (31), ocorreu horas antes de ser procolocado na Justiça o plano de recuperação da empresa, com dívidas concursais de R$ 1,1 bilhão, como antecipado pelo site do Valor.

A expectativa é que os investidores do fundo, por meio da administração, abram negociações com credores em cima do plano protolocado, dizem dois advogados de credores da indústria ouvidos.

“Há um projeto de retomada do Dia, foi isso o que ouvimos, e acreditamos que isso ainda está de pé. É essa sinalização que queremos dos novos donos”, diz um dos advogados, que criticou a falta de transparência da matriz nas informações a respeito do fundo. A informação do Lyra II FIP consta apenas num comunicado ao órgão regulador do mercado espanhol.

O fundo, estruturado pela MAM Asset, foi registrado na Junta Comercial em 17 de maio, especificamente para a transação. Nos últimos dias, circularam informações no mercado de que o investidor Nelson Tanure poderia estar à frente do acordo, por conta de suas operações por meio da MAM. O Valor apurou que Tanure não está no negócio.

O principal banco credor é o Santander, com dois créditos (R$ 85 milhões e R$ 90,9 milhões). O Banco do Brasil tem a receber R$ 27,3 milhões e o Daycoval, R$ 16,5 milhões. A maior parte da dívida está com fornecedores.

Com a venda de Brasil, os controladores do grupo Dia passam a operar só na Espanha (90% da receita) e Argentina. A decisão surpreendeu o mercado e o comando no Brasil, que liderava a retomada da rede, e fechou em março projeto de reestruturação com a matriz.

Liderada por Sébastien Durchon, a rede tem melhorado o desempenho – o consumo de caixa diminuiu e as perdas se reduziram em quase dois terços frente ao montante pré-recuperação, apurou o Valor. Do total de lojas, 343 foram fechadas entre março e abril. Hoje, são 244 lojas (121 próprias e 123 franquias) além do centro de distribuição em Osasco (SP)

Pela versão do plano protocolado na sexta-feira, e que pode sofrer alterações após as negociações com credores, as empresas que decidirem ser credores colaboradores não terão qualquer desconto na dívida, mas não podem litigiar contra a companhia. Ainda deverão manter o fornecimento com as melhores condições comerciais praticadas nos últimos 150 dias que antecederam o ajuizamento da recuperação.

Nos primeiros dois anos após a homologação, o prazo de pagamento das compras da rede ao credor colaborador será de, no mínimo, 30 dias ou o que foi praticado antes do ajuizamento (vale o que for maior). O Dia se compromete a pagar esse credor em 96 parcelas mensais, após o término de uma carência de dois anos.

Ainda há condições de pagamento aos credores cuja dívida não tem garantia (quirografários), aos credores trabalhistas e àqueles de pequenas e micro empresas. Pelo plano, o Dia se compromete com a manutenção das atividades, e considera vender ativos para pagar as dívidas de R$ 1,1 bilhão.

Considerando as instalações, máquinas, móveis e utensílios, o saldo residual é de R$ 88,1 milhões, segundo laudo de viabilidade anexado ao plano. O saldo residual de todos os ativos imobilizados é de R$ 413 milhões.