É possível que nem a gigante da moda Shein passe ilesa da onda de recuperações judiciais no Brasil. A plataforma de comércio eletrônico chinesa emprestou US$ 20 milhões, cerca de R$ 100 milhões, para Santanense, empresa de Josué Gomes, em julho de 2023, quando a companhia já estava numa grave crise financeira, e menos de um ano depois do recurso liberado, a Santanense e sua controladora, a Coteminas, pediram recuperação judicial.
O comunicado a respeito da recuperação foi feito nesta quarta-feira pelo grupo. A lista de credores ainda está sob sigilo.
Não é um hábito da Shein financiar indústrias e varejistas nos países onde atua, pelo risco da transação; por isso, a operação, antecipada pelo Valor em 2023, chamou a atenção do mercado. Se confirmado o papel de credora, será a primeira vez que a Shein ocupa essa posição numa empresa brasileira em recuperação judicial.
Três escritórios de advocacia consultados pelo Valor já receberam ligações de credores da Coteminas nesta quarta na busca de informações mais detalhadas do processo. O Valor apurou que as estimativas dos escritórios são de uma ação judicial superior a dívida de R$ 1 bilhão ao se considerar todos os passivos de todas as empresas do grupo.
Em julho de 2023, foi concluído contrato de empréstimos entre a Santanense e a TopFashion (empresa da Shein no país) com vencimento em junho de 2026 e pagamento de juros anuais.
Na época, o Valor apurou que Gomes ofereceu para a Shein a opção de converter a dívida em ações da empresa em três anos, mas a Shein não aceitou a proposta.
Em abril de 2023, apenas três meses antes de o financiamento sair, a Companhia de Tecidos Norte de Minas assinou memorando com a Shein para um acordo de produção que foi na época celebrado pelo ministro da Economia, Fernando Haddad, como sinal de investimentos no país.
Ficou estabelecido parceria com duas mil confecções da Coteminas do Rio Grande do Norte para produção a ser destinada à Shein. A governadora do Estado, Fatima Bezerra (PT), ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anunciou a parceria, em junho de 2023, como “a garantia do emprego e renda do semiarido nordestino”. Não há informações de como evoluiu esse acordo, considerando que a Coteminas vinha com dificuldades de compra de insumos junto aos fornecedores e, agora, possivelmente precisará renegociar dívidas com as confecções parceiras.
Alta alavancagem e dificuldades na retomada das vendas das marcas do grupo já há alguns anos levaram a empresa à crise atual.
A Coteminas ainda não se manifestou sobre detalhes do processo de recuperação judicial. A Shein também não se pronunciou.