Veículo: Estadão - Online
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Data: 02/05/2024

Editoria: Sem categoria
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‘Empresas que não conseguiram fazer mudança estrutural estão morrendo’, diz representante do varejo

A onda de recuperações judiciais e extrajudiciais que atingiu o varejo nos últimos meses, e que voltou à cena esta semana com o pedido de recuperação extrajudicial da Casas Bahia, é resultado da combinação de fatores macroeconômicos, como as altas taxas de juros, e microeconômicos, como a transformação do modelo de negócio do varejo.

A opinião é do presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, membro do conselho de administração de várias empresas do setor. No caso da Casas Bahia, tanto os juros como a transformação do modelo de negócio pesaram nas dificuldades enfrentadas pela companhia, que acumula dívidas de R$ 4,1 bilhões.

“Dez, quinze anos atrás, o varejo brasileiro não era feito de Mercado Livre e de Atacadão”, afirma o consultor. “Hoje, é dos marketplaces, de varejo físico omnichannelcross-border (comércio online de sites estrangeiros) e muito atacarejo”, diz Terra, ressaltando a mudança do modelo de negócio.

No passado, o varejo era muito físico e tradicional, lembra. Empresas que não conseguiram se adaptar a essa transformação, indo para o atacarejo, para o online ou marketplaces, não estão sobrevivendo. Para piorar, observa ele, nos últimos anos o ambiente macroeconômico também não ajudou.

A tendência da solvência das varejistas depende muito do cenário macroeconômico. Se os juros se mantiverem altos por mais dois anos, obviamente terá efeito sobre as varejistas, argumenta. “A resposta à pergunta se já acabou ou vem mais (recuperação judicial), tem muito a ver com o cenário macro.” A seguir, os principais trechos da entrevista.

Qual é a razão de tantas recuperações judiciais e extrajudiciais no varejo ultimamente? É um fator macro ou é um fator micro?

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É uma combinação das duas coisas. O varejo é um setor de muitas oscilações e ciclos. Nos últimos cinco anos, com a pandemia no meio, houve uma aceleração dessas oscilações. Setores de bens duráveis e semiduráveis, por exemplo, onde está o eletro, cama, mesa e banho, móveis, material de construção, tiveram altos e baixos. Para dar alguns exemplos: Tok&Stok, Casas Bahia, AmericanasMarisaPolishop. São todas as empresas desse conjunto de setores que passaram por altos e baixos muito grandes. Houve uma euforia, no primeiro momento, ali na pandemia, que gerou expansão, vendas e aceleração. Depois veio uma depressão muito grande, que acabou durando bastante tempo. Vamos lembrar: na pandemia chegamos a ter uma taxa de juros (Selic) de 2% ao ano. Para setores onde os juros são determinantes, tanto para financiar o negócio, quanto para financiar o cliente, isso gerou uma expansão. De repente, uma taxa de juros de 2% virou 13%, 14% ao ano e durou muito tempo. Isso virou uma ressaca e essa ressaca gerou frutos. Essa é a explicação macro.

E a explicação micro para tantas recuperações?

A explicação micro é que junto a isso vem essa onda de mudança estrutural do varejo. Isto é o efeito, marketplaces, ecossistemas, plataformas. De um lado você tem crescimento do Mercado Livre, Amazon, com propostas muito completas e no formato de ecossistema, que têm, pelos números, crescimento muito grande. De outro, você tem os crossborders e os ecossistemas internacionais, como ShopeeAliexpress e Shein, para dar três exemplos. Eles tomaram muito o mercado dessas empresas. Como exemplo você tem o efeito Shopee na Marisa, o efeito Aliexpress na Polishop. Eles são muito fortes. Essas empresas (Marisa e Polishop) perderam muita competitividade por conta dessas concorrências. Esse é um efeito mais estrutural, porque a competitividade hoje é diferente de cinco anos atrás.