O mercado de entregas a domicílio cresce mais devagar e com menos competidores do que na pandemia, quando o setor deu um salto importante. O desafio agora para as empresas do setor é ampliar a participação do “delivery” na mesa e no bolso do brasileiro. Para isso, a estratégia de marketing passa por promoções em restaurantes, algumas com ajuda da IA (inteligência artificial), patrocínios de abrangência nacional como o “reality show” BBB, e de eventos regionais como Carnaval, rodeios e festas juninas, de olho em estabelecimentos e consumidores fora das grandes capitais.
Em 2023, o volume de transações de pagamentos em plataformas de entregas avançou 22% ante 2022, aponta um levantamento da Spending Pulse Mastercard apedido da ANR (Associação Nacional de Restaurantes). Já em 2020, as transações mais do que dobraram, com alta de 125%. Em 2021, o avanço foi de 46% e, em 2022, de 44%.
“Após quebrar barreiras de uso tanto de consumidores como dos estabelecimentos, o segmento cresce em ritmo mais lento”, diz Fernando Blower, presidente da ANR, ao Valor. “Mas ainda há muito espaço para crescer em cidades de pequeno e médio portes e em outros momentos de consumo de refeições como o café da manhã”, ele observa.
“O ‘delivery’ passou a ser mais conhecido no auge da pandemia da covid-19, mas há uma percepção de que é mais caro pedir em aplicativos de entrega”, diz Ana Gabriela Lopes, diretora de marketing do iFood.
O serviço de entrega de refeições é uma opção para 83% dos brasileiros, sendo que 76% usam aplicativos, mas a frequência de pedidos ainda é baixa em relação a mercados mais maduros como a China. Por aqui, 38,2% fazem pedidos duas a três vezes por mês e 30,9%, de quatro a cinco vezes ao mês, segundo uma sondagem feita entre abril e maio de 2023 pela Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) com o Sebrae e a Vox Populi junto a 6.300 pessoas de 60 cidades. “Na China, a média é de 90 pedidos ao mês”, diz Lopes.
Para aumentar o uso desse serviço no Brasil, o iFood investe em promoções e cupons — a iniciativa é subsidiada pelos restaurantes (a maior parte) e pelo consumidor. Segundo a diretora de marketing, atualmente o Clube iFood, de pacotes de cupons, tem 5 milhões de assinantes, 11,6% de seus 43 milhões de usuários.
Atualmente, o valor médio por pedido na plataforma é de R$ 50 a R$ 55. Para efeito comparativo, o saldo do vale-refeição do brasileiro dura 12 dos 22 dias úteis do mês, considerando o valor médio de R$ 46,60 para uma refeição completa vendida pelos restaurantes brasileiros, segundo uma pesquisa divulgada em outubro pela empresa de benefícios Ticket.
A modalidade de entrega está presente em 68% dos estabelecimentos do ramo de alimentação no país, mostra outra pesquisa da ANR junto à consultoria Galunion e a Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos). O estudo feito com 680 respondentes, que representam 24.553 pontos de vendas, alerta que apenas 24% dos entrevistados estão totalmente satisfeitos com os serviços intermediados por plataformas de terceiros. O principal motivo de insatisfação, para 83% dos pesquisados, se refere às taxas cobradas pelas plataformas.