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Data: 23/01/2024

Editoria: Sem categoria
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Varejo e serviços têm leve recuperação. Mas vale a pena investir nas ações?

Na semana passada, o IBGE divulgou os dados de serviços e de varejo no país. Ambos os setores mostraram uma recuperação, ainda que gradual. Após meses de queda, o volume de serviços prestados subiu 0,4% em novembro. Já o varejo, após desapontar em outubro, teve uma leve alta de 0,1% em novembro, em linha com o esperado pelo mercado. Na bolsa, porém, os papéis desses setores seguem patinando. Mas, segundo analistas, o contexto macroeconômico vem caminhando para ser mais benéfico para eles em 2024. No entanto, devido ao passado recente mais difícil, nem todas as ações vão conseguir surfar essa onda.

 

Neste ano, só quatro subiram até o dia 16 de janeiro: Pão de Açúcar, com 17%; Assaí, com 7%; Vivara com quase 4% e Magazine Luiza, com 0,93%.

No setor de serviços o cenário foi um pouco melhor: de 11 papéis, oito subiram no ano passado. Foram eles: Hotéis Othon, com 142%; Smart Fit, com 94%; Getninjas, com 78%; Movida, com 57%; Azul, com 45%; Localiza, com 22%; Gol, com 22% e Zamp (dona do Burger King) com 4%. Mas neste ano apenas dois tiveram alta até 16 de janeiro: Zamp, com 1,7% e Time For Fun, com 0,95%.

Variação de ações de serviços e varejo

Ação Variação em 2024* Variação em 2023 Setor
Zamp ON 1,75 4,59 Serviços
Time For Fun ON 0,95 -11,72 Serviços
Getninjas ON -0,61 78,70 Serviços
Smart Fit ON -2,50 94,86 Serviços
IMC ON -3,54 -29,29 Serviços
Localiza ON -5,22 22,53 Serviços
CVC Brasil ON -6,00 -22,05 Serviços
Hotéis Othon PN -6,92 142,86 Serviços
Movida ON -15,48 57,81 Serviços
Azul PN -19,30 45,41 Serviços
Gol PN -23,08 22,21 Serviços
Pão de Açúcar ON 17,24 -40,67 Varejo
Assai ON 7,02 -30,22 Varejo
Vivara ON 3,97 55,44 Varejo
Magazine Luiza ON 0,93 -21,17 Varejo
Grupo Mateus ON -1,95 13,61 Varejo
Mobly ON -2,46 -32,33 Varejo
Grupo Natura ON -3,32 45,48 Varejo
Carrefour BR ON -3,61 -15,24 Varejo
Westwing ON -3,62 15,97 Varejo
Lojas Renner ON -4,08 -11,79 Varejo
Grupo Soma ON -4,30 -25,63 Varejo
Arezzo ON -6,00 -15,39 Varejo
C&A ON -6,39 241,92 Varejo
Track Field PN -6,39 45,04 Varejo
Americanas ON -7,69 -90,57 Varejo
Quero-Quero ON -10,80 49,52 Varejo
Petz ON -10,89 -36,74 Varejo
Alpargatas PN -13,14 -32,89 Varejo
Guararapes ON -13,30 0,31 Varejo
Casas Bahia ON -15,38 -81,03 Varejo
Lojas Marisa ON -23,66 -40,48 Varejo

A perspectiva, porém, é positiva. Afinal, o cenário atual mostra que a inflação parece estar sob controle e, consequentemente, os juros devem continuar caindo. De quebra, a taxa de desemprego está menor e a massa salarial, maior.

Isso significa que o contexto é ideal para que as pessoas gastem mais.

 

Além disso, há uma outra consequência de juros menores que também favorece as empresas de varejo e serviços. Isso porque essas companhias costumam ser mais endividadas, porque muitas reinvestem seu dinheiro para crescer. Como a maior parte do valor de mercado atribuído pelos investidores a essas empresas depende de fluxos de caixa que estão anos a frente, quando os juros ficam menores, esses fluxos têm valor presente maior.

Em resumo: o fluxo de caixa dessas companhias está concentrado no futuroPortanto, com juros menores, elas passam a “valer mais” no presente.

Mas nem tudo são flores…

 

Mas como nem tudo são flores, existem alguns pontos de atenção. O primeiro deles é que, apesar de o cenário ser favorável para essas companhias, algumas não conseguirão aproveitá-lo da melhor maneira. A razão para isso acontecer é que muitas dessas empresas fizeram dívidas maiores durante a pandemia, quando os juros ficaram em patamares muito baixos, esperando que aquele investimento se convertesse em mais lucro. No entanto, na prática, não foi isso que aconteceu para todas.

“Grande parte das empresas de varejo de eletrônicos, por exemplo, se alavancou e fez investimentos altos na época da pandemia. Naquela ocasião, os juros eram baixos, a demanda do consumidor estava forte e as lojas físicas concorrentes não conseguiam competir com o digital, então elas investirm muito nisso. Mas elas não conseguiram rentabilizar esse investimento, porque logo depois os juros subiram e a demanda diminuiu. Então, elas chegam em um cenário favorável, mas muito mais frágeis e focadas em se recuperar“, afirma José Daronco, analista da Suno.

 

Um outro fator que pode atrapalhar as varejistas é a concorrência estrangeira. Segundo Daronco, empresas como Mercado Livre e Amazon têm ganhado cada vez mais espaço no mercado brasileiro. Além delas, outras companhias que podem representar uma ameaça são as asiáticas Shopee, AliExpress e Shein, conhecidas pelo comércio de roupas e acessórios.

No entanto, analistas afirmam que, com as recentes discussões sobre a taxação das compras feitas em e-commerce estrangeiros, as vendas dessas companhias aos consumidores brasileiros têm diminuído. Portanto, o risco existe, mas suas consequências podem ser menores do que o esperado.

Como e em quem investir, então?

 

Dado o contexto de dualidade entre um bom cenário macroeconômico, mas empresas comprometidas na parte microeconômica, analistas afirmam que a escolha dos papéis exige um pouco mais de cuidado.

Phil Soares, analista-chefe da Órama, sugere uma postura um pouco mais conservadora. Ele destaca, por exemplo, companhias mais voltadas para o público de renda mais alta. Como esses consumidores tendem a comprar mesmo em períodos de eventuais crises, isso se reflete em uma “estabilidade maior na lucratividade” dessas empresas, segundo o analista. Ele aponta Arezzo e Vivara como boas escolhas dentro desse contexto.

Daronco, da Suno, também afirma que está otimista com Vivara e também com a marca Track&Field, que é outra mais direcionada à alta renda. “Pelo que temos visto, a gente acredita que elas devem ter excelentes resultados”, afirma.

Fernando Siqueira, chefe de análises da Guide Investimentos, também aponta a Vivara como uma boa escolha. Ele explica, inclusive, que a abertura de novas lojas tem sido feita de forma inteligente, a trazer mais retornos. “Eles expandiram bem e são uma empresa com menos concorrência”, afirma.

Outra companhia que, na visão de Siqueira vem melhorando seus resultados é a C&A, que em 2023 teve mais de 200% de altas nas ações. “Ela sempre foi menos eficiente que os concorrentes e no último ano começou a dar resultado. Acertou mais em coleções, investiu em uma comunicação melhor. Ainda não chegou em um nível de outras empresas boas do varejo, mas melhorou“, diz.

As apostas de Siqueira no varejo de vestuário, porém, se concentram mais em Arezzo e Grupo SBF (dono da Centauro). A marca de calçados e acessórios, segundo o analista, começou a demonstrar resultados melhores nos últimos trimestres e não sofre tanto com a concorrência da China, justamente por ser voltada para uma renda mais alta. O Grupo SBF, segundo o analista, teve alguns problemas com a parceria com a Nike, mas que foram “bem endereçados” e, por isso, a companhia tende a apresentar resultados melhores.

No varejo alimentício, uma das principais apostas, segundo os analistas, é no atacarejo Assaí, que tende a se beneficiar de um cenário de normalização da inflação.

“Em linhas gerais, alimentos é um nicho mais estável no contexto do varejo e a gente vê muita coisa boa acontecendo com Assaí. Já tivemos normalização de inflação que ajuda a companhia. Porque um ambiente deflacionário é ruim para atacarejo, já que as pessoas compram menos estoque. Mas isso já se encerrou e ela tende a apresentar resultados positivos”, afirma Soares, da Órama.

Já Daronco, da Suno, destaca o Grupo Mateus que, segundo ele, tem uma vantagem por ser focado principalmente nas regiões Norte e Nordeste.

Para o varejo de eletrônicos, eletrodomésticos e móveis, os analistas têm sido mais cautelosos. “Quando olho para essas empresas, vejo um risco alto e potencial de alta mais limitado. Acho que o momento atual é focar em qualidade, ativos rentáveis, setores perenes”, afirma Daronco.

Essa cautela também é aconselhada para muitos setores de serviços, como as aéreas, por exemplo. Segundo Daronco, elas enfrentaram um 2023 difícil e agora estão mais frágeis. “A Gol tem passivo descoberto, estão precisando fazer reestruturação de capital. Então, estamos pessimistas”, afirma o analista.

Siqueira, da Guide, cita a rede de academias Smart Fit como uma companhia do segmento que conseguiu bons resultados. “Ela está em expansão, apesar de já ter bastante presença no Brasil. Mas eles expandem fora do país também e a volta das pessoas para as academias após anos ruins de pandemia foi algo positivo”, afirma.

Em um relatório recente, o Santander reiterou a recomendação de compra para as ações da rede de academias, justificando sua “sólida abertura de novas unidades”.

Seja como for, a orientação principal dos analistas nesse momento tem sido por cautela na escolha dos papéis. Apesar de as perspectivas para o futuro serem otimistas, ainda existem muitas incertezas no caminho, que podem colocar em cheque o resultado de empresas que não estejam com as contas organizadas.