O risco sacado, linha de crédito inicialmente apontada como o principal truque da antiga gestão da Americanas para promover as fraudes, parece já ter sido absolvido pelo mercado. Pelo menos essa é a visão de um dos bancos que mais atuam nesse segmento, o Itaú BBA, que indicou ao Pipeline que o produto tem respirado ares de normalidade após o susto inicial causado pela crise da varejista.
“O risco sacado foi atacado injustamente durante um período muito longo”, afirma Michel Cury, diretor de produtos do Itaú BBA. Segundo ele, algumas instituições chegaram a interromper a oferta do produto no início, o que levou uma parte dos clientes a buscarem quem não havia parado, como o Itaú. “Mas hoje, todos os players, maiores ou menores, voltaram e estão atuando normalmente.”
Destinado a clientes pessoa jurídica, o risco sacado é um crédito para empresas que precisam de recursos para pagar fornecedores. O banco antecipa o dinheiro ao fornecedor e a empresa compradora passa a dever ao banco. No caso Americanas, a acusação feita em janeiro do ano passado pelo ex-CEO Sérgio Rial era que a varejista considerava a dívida do risco sacado uma despesa com fornecedores e não uma dívida bancária, o que aliviava os indicadores de endividamento.
Embora o produto não fosse o problema em si, mas sim a postura de uma empresa cliente, a oferta de crédito com risco sacado acabou sendo afetada. O próprio Banco Central admitiu em um relatório ao mercado que o caso Americanas pode ter deixado os bancos mais cautelosos. Isso, porém, não chegou a representar uma retração brusca nos empréstimos.
Segundo dados levantados pelo BC a pedido do Pipeline, o volume nominal contratado de risco sacado no Brasil teve uma queda de 6,5% no primeiro semestre de 2023, ao somar R$ 281,5 bilhões, em comparação a igual período do ano anterior.
Cury, do Itaú BBA, lembrou também que o estouro da crise da Americanas ocorreu justamente em um momento em que o mercado ainda estava receoso quanto ao cenário macroeconômico. Com o governo Lula no início, ainda havia dúvida sobre qual seria o rumo da política econômica, o que pode ter também pesado no comportamento do risco sacado, um produto sensível ao varejo.
Seis meses depois, em junho, o cenário já era outro. Além de boa parte do receio do mercado com a economia já ter se dissipado, uma investigação interna feita pela nova gestão a Americanas trouxe um novo elemento. A empresa indicou em relatório que o risco sacado não era o principal instrumento para as fraudes, mas sim o que se chama de verba de propaganda cooperada (VPC), com contratos fictícios de publicidade que melhoravam artificialmente os resultados operacionais da companhia, no valor somado de R$ 21,7 bilhões.
Se isso ajudou a retomar as concessões de risco sacado, Cury, do Itaú BBA, afirma que é difícil cravar. Mas lembra que o segundo semestre tem uma sazonalidade favorável para o produto, porque muitas empresas começam a preparar os estoques para o aquecimento do consumo no fim do ano, o que deve resultar em um desempenho melhor nas próximas divulgações do BC.