As vendas do comércio brasileiro caíram 1,3% em 2023. Mas, em dezembro do ano passado, mostraram aumentos de 0,9% ante novembro; e de 1,8% ante igual mês em 2022. Os dados constam da 12ª edição do Índice de Atividade Econômica Stone Varejo, cujo resultado foi antecipado ao Valor.
Para Matheus Calvelli, pesquisador econômico e cientista de dados da Stone responsável pelo indicador, as vendas do comércio em baixa, no primeiro semestre, levaram à queda anual. Mas esse quadro negativo não se repetiu no segundo semestre, notadamente positivo. “No segundo semestre [de 2023] tivemos quatro taxas positivas no indicador”, salientou. Para o especialista, o desempenho positivo em dezembro pode indicar tendência positiva para o comércio no começo de 2024.
Calculado pela Stone em conjunto com o Instituto Propague, o índice tem como base dados públicos da Receita Federal e dados transacionais de cartão dos clientes do grupo StoneCo.
Ao falar sobre a queda anual do varejo, o especialista citou os segmentos de material de construção e de combustíveis como os que mais “puxaram para baixo” o indicador. Foi notada volatilidade de vendas nesses segmentos, principalmente no primeiro semestre, disse. A performance de vendas nesses segmentos, combinada com cenário de consumo mais fraco, levou a cinco quedas mensais consecutivas em 2023, na leitura do indicador.
Essa sequência de recuos, continuou ele, foi interrompida apenas no segundo semestre. Mais precisamente em setembro do ano passado, quando o indicador voltou a subir.
Na prática, as vendas do varejo melhoraram beneficiadas por ambiente macroeconômico mais favorável ao consumo, notou o especialista. Nos últimos seis meses do ano passado, foi iniciado corte na taxa básica de juros (Selic), pelo Banco Central (BC), que norteia juros de mercado – como de compras a crédito. “E tivemos melhora no indicador de endividamento das famílias, no ano passado, em dados mais atualizados do BC”, acrescentou ele. Na semana passada, o BC divulgou que o endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro fechou outubro de 2023 em 47,6%, menor do que em setembro (47,7%).
Calvelli explica que, com menor endividamento, o comprometimento de renda das famílias com dívidas diminuiu. Isso abre mais espaço, no bolso do brasileiro, para novas compras.
Com melhora no poder aquisitivo do brasileiro, um dos campos mais acessados para novas compras foi o de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo. Esse segmento terminou dezembro do ano passado com alta de 2,2% ante dezembro de 2022, no indicador da Stone. Foi a mais forte entre os segmentos usados para cálculo do índice, nessa comparação. Ante novembro de 2023, a alta em dezembro nesse segmento foi de 0,9%. Esse é, também, o de maior peso no cálculo do indicador da Stone, entre os pesquisados, disse ele. Portanto, qualquer performance favorável, nele, ajuda a sustentar resultado positivo no índice.
Entretanto, destacou o especialista, o indicador da Stone em dezembro mostrou resultado positivo sólido, como um todo – não somente por conta de um segmento específico. “Em dezembro [de 2023] no indicador total, notamos aumentos não somente na comparação com dezembro de 2022, como ante novembro de 2023”, frisou. O pesquisador lembrou que, na série, dezembro de 2022 é considerada base de comparação fraca, prejudicada por vendas de Natal não muito favoráveis. “Então, podemos dizer que não tivemos alta de vendas somente por ‘efeito estatístico’ [de comparação com base fraca]”, afirmou.
Assim, para Calvelli, as taxas positivas no fim do ano passado podem indicar atual tendência positiva para o comércio. “Não gostamos de fazer previsões”, disse. “Mas tudo está indicando que o ano vai começar bem [para o varejo].”