A Americanas está próxima de fechar o plano de recuperação judicial com os credores, e discute apenas pontos do acordo que vai regê-lo. O CEO da varejista, Leonardo Coelho, afirma que os números, como o do aporte de R$ 12 bilhões pelo trio de acionistas de referência, não mudarão.
“Do ponto de vista dos números, não muda nada. O que está se discutindo agora é a redação jurídica do acordo que rege como vai ser o plano de recuperação judicial”, afirmou ele ao Estadão/Broadcast. O executivo acaba de apresentar os números da empresa nos anos de 2021 e 2022, já com a contabilização da fraude bilionária que levou a Americanas à recuperação judicial.
Coelho afirmou que as vendas do Hortifrúti Natural da Terra (HNT) e da Uni.co ainda podem acontecer, mas que para isso, a Americanas buscará propostas com preços adequados. “Fizemos um ‘market sound’ (sondagem), que trouxe preço quase que de ativo em liquidação, o que não é o caso”, disse.
Enquanto as discussões sobre o plano chegam à etapa final, a empresa avança na reformulação de sua atuação, que deve levá-la aos indicadores que prometeu entregar ao mercado em 2025. Segundo Coelho, a Americanas vai inverter a lógica do que apresentou aos investidores na última década: sua força será o canal físico, complementado pelas vendas do online, e não o contrário.
“Nós gastávamos dinheiro para perder dinheiro”, disse ele sobre a operação de varejo virtual da companhia. Daqui em diante, a Americanas oferecerá no estoque próprio do site o mesmo tipo de produto que vende nas lojas. O restante virá dos vendedores parceiros, em um modelo que a companhia acredita que será mais rentável.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
Os credores financeiros estão totalmente de acordo com as condições do plano?
A minha experiência diz que totalmente de acordo eles só vão estar quando fizerem a votação na assembleia. Tirando esse conservadorismo quase que profissional, a conversa com todos eles tem sido bastante boa nas últimas duas semanas e estamos chegando a um formato final. Devemos ter a maior parte deles embarcada até o fim do trabalho.
As divergências relativas a valores e condições de pagamento dos credores já estão pacificadas com os grandes credores, os bancos?
Está pacificado e na assembleia (geral de credores), por tudo o que temos hoje, o plano vai ser ratificado pelos credores. Basicamente, é isso. Obviamente, tenho de fazer essa ressalva, dentro de uma recuperação judicial não se consegue pagar todo mundo, então obviamente que tem gente que não foi contemplada com o melhor desenho possível, portanto não vai ter aprovação de 100%. Mas é um plano que está mais alinhado com os credores do que no passado.
Pode haver modificações em relação ao plano apresentado? Quais os pontos pendentes?
Do ponto de vista dos números, não muda nada. O que está se discutindo agora é a redação jurídica do acordo que rege como vai ser o plano de recuperação judicial. A mecânica financeira e os passos do plano de recuperação judicial estão acertados. O que está faltando nesse momento é a redação jurídica das cláusulas.
Vocês esperam uma aprovação em Assembleia Geral de Credores (AGC) até o final do ano, mas ouvimos que talvez a AGC vá para o ano que vem. Tem uma chance grande disso acontecer?
Não trabalhamos com outro cenário que não seja a realização da AGC neste ano.
Vocês soltaram comunicado sobre a desistência da venda da Hortifrúti e da Uni.co. Foi basicamente por preço?
Sim. Fizemos um market sound, que trouxe preço quase que de ativo em liquidação, o que não é o caso. Estamos com a liquidez equilibrada, e com o plano de recuperação judicial aprovado, essa liquidez continua equilibrada para o médio e longo prazo e, portanto, não há necessidade de fazer uma queima de ativo.