Veículo: Valor Econômico - Online
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Data: 09/11/2023

Editoria: Sem categoria
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Varejo surpreende, mas não altera cenário para o PIB

O comércio varejista teve um desempenho acima do esperado em setembro. O volume de vendas no varejo restrito teve alta de 0,6% ante agosto, na série com ajuste sazonal, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em comparação com o mesmo mês do ano passado, o crescimento foi de 3,3%. Ambos os resultados superaram bastante as medianas das projeções captadas pelo Valor Data, que apontavam queda mensal de 0,1% e alta de 2% na comparação com setembro do ano passado.

Com o resultado, o varejo restrito agora acumula alta de 1,8% até setembro. Embora haja consenso entre os economistas ouvidos pela reportagem de que a surpresa em setembro não muda o panorama negativo das expectativas para o resultado do PIB do terceiro trimestre, gera a esperança no setor de que o desempenho no fim do ano se mantenha positivo.

A queda da taxa de desemprego, que começou o ano em 9,3% e já estava em 7,7% em setembro, junto com a inflação mais controlada neste ano justificam o otimismo, segundo o assessor econômico da FecomércioSP Guilherme Dietze.“A recuperação do mercado de trabalho e a inflação mais baixa permitem um poder de compra maior e possibilitam crescimento mais elevado em supermercados, farmácias e assim por diante”, afirma Dietze. “Além disso, o crédito continua farto, por mais caro que esteja. Isso tem propiciado um aumento fora da curva, por exemplo, de eletrodomésticos e veículos”, observa.

 

Entre as categorias, na comparação entre setembro e agosto, a maior alta foi em móveis e eletrodomésticos, que cresceu 2,1%, fato incomum em meio ao patamar elevado da taxa de juros. Dietze explica, porém, que a massa maior de empregados e renda no país mantêm esse subsetor ativo, mesmo que seja mais dependente de um crédito ainda caro.

 

O cenário desperta otimismo, na visão do economista da FecomercioSP, devido à injeção de renda que virá em novembro e dezembro com os depósitos do 13º salário. “Estamos vendo um cenário promissor para Black Friday e Natal. A variável fundamental do nosso termômetro é o 13º. E, como estamos falando de um número muito superior de pessoas empregadas com carteira assinada em relação a 2022, isso nos leva a crer que essa injeção do 13º salário deve movimentar bastante o comércio no fim do ano”, prevê Dietze. “Temos emprego, inflação mais baixa, sobretudo deflação em alimentos, aumento do poder de compra e crédito disponível para abrir os carnês, mesmo que mais caro do que o desejado. É uma boa combinação”, conclui.

 

No varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, material de construção e atacarejo, o volume de vendas subiu 0,2% na passagem entre agosto e setembro, já descontados os efeitos sazonais. No entanto, o IBGE fez forte revisão no desempenho de agosto. A queda de 1,3% foi revista para alta de 0,6%. Na comparação com setembro de 2022, o volume de vendas do varejo ampliado subiu 2,9%.

 

É um resultado ainda muito beneficiado pelos setores de alimentação, tanto supermercados quanto o atacarejo”

— Carlos Lopes

Por outro lado, nenhum economista acredita que a surpresa positiva de setembro altere o panorama mais negativo para o resultado do terceiro trimestre do PIB, que será divulgado no começo do mês que vem. O varejo restrito cresceu 0,8% no terceiro trimestre ante o segundo e o varejo ampliado ficou estável na mesma base de comparação.

Além disso, conforme indicou gerente de pesquisa do IBGE, Cristiano Santos, os produtos alimentícios, que puxaram a alta de 1,6% do setor de supermercados, garantiram o bom desempenho do setor.

O economista do banco BV Carlos Lopes também chama a atenção para esse elemento. “É um resultado ainda muito beneficiado pelos setores de alimentação, tanto supermercados quanto o atacarejo de alimentação, que têm pesos bem relevantes no índice, ainda mais num momento em que as condições de trabalho e renda estão melhores do que as condições de crédito, o que ajuda esse varejo mais essencial e prejudica o varejo mais dependente do crédito e com tíquetes médios maiores.”