A queda de 0,2% no volume de vendas do varejo restrito, na comparação entre agosto e julho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), menor que as projeções, sinaliza uma tendência ainda negativa, mas o pior momento já pode ter passado, de acordo com avaliação dos economistas.
O resultado do varejo em agosto corrobora a expectativa de desaceleração mais forte da atividade após surpresas nos primeiros dois trimestres do ano, avalia a economista da Tendências Consultoria Isabela Tavares.
“O resultado veio na direção do que esperávamos, com uma queda ligeiramente menor do varejo restrito, mas maior do ampliado. Bens essenciais, como supermercados e medicamentos, tiveram bom desempenho, mas bens duráveis seguem mostrando resultados negativos”, diz a economista.
“O programa Desenrola começou em julho, mas seus efeitos ainda são marginais. Acredito que deve ter mais impacto no fim do ano, à medida que as renegociações façam cair a inadimplência e, com ela, o risco de crédito”, acrescenta Isabela.
Para o ano, a Tendências mantém a projeção de alta de 1,4% do varejo restrito e 3,4% do varejo ampliado.
Na avaliação do Santander, o resultado de agosto mantém o comércio varejista com tendência negativa, em linha com o panorama de desaceleração da economia mais ampla.
Com cinco das dez atividades varejistas pesquisadas apontando queda, o setor manteve uma tendência baixista e continua a contribuir negativamente para a atividade econômica, diz o comentário assinado pelo economista Gabriel Couto. “Olhando adiante, esperamos que o setor mantenha desempenho tépido. O carrego estatístico para o terceiro trimestre é de +0,4% e -0,7% para os conceitos restrito e ampliado, respectivamente.”
Após a divulgação da PMC, o banco manteve o monitor em tempo real para o IBC-Br de agosto em -0,9%, com ajuste sazonal – o dado será divulgado amanhã. Já o tracking para o PIB do terceiro trimestre se manteve em -0,3%, na comparação trimestral, também ajustada sazonalmente.
O pior momento do setor de varejo no Brasil parece ter passado, mas os resultados de terceiro trimestre podem ser piores do que o esperado, dado que algumas tendências esperadas pelo mercado não se confirmaram ou estão lentas, diz o BTG Pactual.
Os analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Pedro Lima escrevem que as empresas de comércio eletrônico devem crescer pouco, com a busca por melhores margens e lucratividade.
No entanto, o cenário de competição acirrada no setor e um mix de produtos focado em eletrônicos e produtos de maior valor para casa deve afetar o volume de mercadorias. O Mercado Livre deve ser diferente, com crescimento robusto.
Varejistas ligadas ao consumo de alta renda devem novamente ser o principal destaque positivo do setor, mas com desaceleração nas receitas em uma base sequencial. Arezzo pode ser um destaque positivo, enquanto Grupo Soma deve decepcionar.
Companhias de varejo de roupas também enfrentam pressões fiscais e competitivas, o que vai afetar seus números. A demora na recuperação do crédito no Brasil pressionam as empresas que oferecem serviços financeiros.
Varejistas de alimentos, por sua vez, devem ter resultados novamente fracos, impactados pela deflação no setor. Já farmácias e Smart Fit podem ter tendências de margens positivas.
O banco acredita que os múltiplos do setor estão baratos, em média 14 vezes o preço-lucro de 2024, mas a falta de visibilidade na recuperação nos resultados e nas questões fiscais impede um aumento na exposição às empresas de varejo.
Com informações do Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico.