— Paris
17/11/2025 00h51 Atualizado há 16 horas
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O governo francês está aumentando a pressão sobre a varejista chinesa de fast fashion Shein, justamente quando as exportações de produtos chineses são desviadas dos Estados Unidos, onde enfrentam tarifas elevadas, para a Europa.
Depois que a Shein, de propriedade chinesa, escolheu Paris, capital mundial da moda, para abrir sua primeira loja física, uma longa fila se formou diante da loja de departamentos BHV, onde o ponto comercial está instalado, durante a inauguração em 5 de novembro.
Segundo a mídia francesa, alguns dos consumidores eram visitantes de primeira viagem da BHV, conhecida por atender um público de alto padrão. Muitos comentaram sobre os preços acessíveis da Shein, e uma cliente disse estar animada por poder substituir peças com frequência.
Mas a inauguração também atraiu manifestantes com cartazes. Na França, onde críticos acusam a Shein de causar impactos ambientais negativos e explorar trabalhadores, houve ampla indignação com a instalação permanente da marca em uma icônica loja de departamentos parisiense.
A estilista francesa Agnes b., uma referência no país, decidiu retirar sua marca da BHV em protesto contra o fast fashion. “Gosto de roupas de boa qualidade e feitas com bons materiais”, disse Agnes b. “Você compra e elas duram muito tempo. São o oposto do que faz a Shein.”
A reação ao modelo de negócios da Shein foi apenas o início dos problemas. No começo do mês, bonecas sexuais que pareciam representar crianças foram encontradas à venda em sua plataforma online, junto com armas.
As imagens das bonecas circularam na mídia local por vários dias, e a reputação da empresa piorou quando autoridades abriram uma investigação por suspeita de pornografia infantil.
A França mantém leis rigorosas contra pornografia infantil, incluindo bonecas sexuais que aparentam ser menores. A distribuição eletrônica desse tipo de conteúdo pode resultar em até sete anos de prisão e multa de 100 mil euros (US$ 116 mil).
Tanto governo quanto oposição atacaram a Shein, e o Estado reagiu rapidamente.
O primeiro-ministro Sébastien Lecornu ordenou aos ministros que tomassem medidas para suspender o site da Shein. Em 6 de novembro, autoridades alfandegárias inspecionaram todos os pacotes da empresa no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris.
Além disso, o governo francês pediu à Comissão Europeia que investigasse a Shein e aplicasse sanções. Autoridades afirmam que a empresa pode ter violado a Lei de Serviços Digitais da União Europeia, que combate a venda de conteúdo ilegal em plataformas de comércio eletrônico.
A Shein também enfrenta pressão na área tributária. O orçamento preliminar de 2026 inclui uma taxa de 2 euros sobre pacotes importados, medida já em elaboração antes do escândalo. Algo semelhante está sendo avaliado no âmbito da UE.
Na reunião de ministros na quinta-feira (13), a UE decidiu abolir a isenção alfandegária para pacotes de até 150 euros, com implementação prevista para o próximo ano.
A maior fiscalização sobre a Shein parece fazer parte de um esforço mais amplo do governo francês para proteger varejistas locais da crescente concorrência de plataformas chinesas. Dos 4,6 bilhões de pequenos pacotes importados pela UE no ano passado, 90% vieram da China.
Pequenas empresas têm enviado inúmeras reclamações ao governo francês sobre a “terra sem lei” que o espaço digital se tornou, segundo Serge Papin, ministro das pequenas e médias empresas. O governo também anunciou medidas para revitalizar centros comerciais urbanos, incluindo apoio à renovação de lojas vazias.
A França tem um déficit comercial de 47 bilhões de euros com a China, que representa quase a metade de seu déficit total. O país importa grandes volumes de eletrônicos e roupas chineses. Como pequenas encomendas não entram nas estatísticas oficiais, o déficit real pode ser ainda maior.
A tendência deve se intensificar conforme empresas chinesas redirecionam exportações dos EUA para a Europa devido às políticas comerciais duras da administração Donald Trump. No acumulado até outubro, as exportações chinesas para os EUA caíram 18%, enquanto para a UE subiram 8%.
Apesar do discurso unificado contra a Shein, a política francesa continua dividida. Como nenhum partido detém maioria no Parlamento, o orçamento de 2026 segue incerto, enquanto a aprovação do presidente Emmanuel Macron cai para um recorde de 11%.