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O mercado de luxo brasileiro movimenta anualmente cerca de R$100 bilhões, impulsionado pelo aumento da renda e pela busca incessante por experiências exclusivas

No cenário altamente competitivo do mercado de luxo brasileiro, dois gigantes se destacam: o Grupo Iguatemi e a JHSF. De um lado, a Iguatemi, sob o comando da tradicional família Jereissati, com 17 shoppings e uma avaliação impressionante de R$7 bilhões. Do outro, a JHSF, dirigida por José Auriemo Neto, conhecido como “Zeco”, que detém empreendimentos icônicos como o Cidade Jardim e a rede Fasano. Essa disputa acirrada não é apenas uma batalha de marcas, mas uma verdadeira guerra bilionária pelo consumidor mais rico do país.
O Mercado de Luxo no Brasil
O mercado de luxo brasileiro movimenta anualmente cerca de R$100 bilhões, impulsionado pelo aumento da renda e pela busca incessante por experiências exclusivas. Neste contexto, a concorrência se transforma em um campo de batalha onde apenas os mais inovadores e visionários conseguem atrair o cliente AAA – aquele com alto poder aquisitivo.
Iguatemi: Pioneirismo e Tradição
Fundado em 1966, o Shopping Iguatemi São Paulo foi o primeiro shopping do Brasil e estabeleceu a família Jereissati como referência no varejo premium. Com 22 empreendimentos e cerca de 10 milhões de visitantes mensais, o grupo tem se destacado por sua solidez. Em 2025, suas ações (IGTI11) cresceram 48%, com um lucro líquido ajustado de R$128,9 milhões no terceiro trimestre, consolidando ainda mais seu protagonismo no setor.

JHSF: Inovação e Lifestyle
A JHSF, reconhecida como sinônimo de estilo de vida, não apenas investe em shoppings como o Cidade Jardim e o Catarina Outlet, mas também em empreendimentos de alto padrão, como a Fazenda Boa Vista e a rede de hotéis Fasano. Em 2025, seus shoppings geraram cerca de R$1,19 bilhão em vendas no segundo trimestre, com um lucro líquido consolidado de R$246 milhões, refletindo sua capacidade de criar um ecossistema de consumo que encanta a elite brasileira.

Conflitos de Interesse e Estratégias de Mercado
A rivalidade entre os dois grupos se intensificou em 2020, quando a JHSF lançou o CJ Shops Jardins, com 66 lojas premium na Haddock Lobo, em São Paulo. A Iguatemi, já questionada por práticas de exclusividade, manteve contratos que impediram a presença de marcas como Arezzo e Fast Shop nesse novo shopping, gerando controvérsias que chegaram ao CADE.
Vitrines como Armas
As vitrines dos shoppings tornaram-se verdadeiras armas na disputa. O Cidade Jardim, por exemplo, já abriga grifes renomadas como Tiffany e Dior e se prepara para receber uma flagship de 1.200 m² da Chanel, oferecendo serviços personalizados. Em resposta, o Iguatemi inaugurou a primeira loja H&M do Brasil, com planos de expansionismo nas próximas épocas.
Estratégias de Fidelização
Os grupos adotam estratégias distintas para garantir a lealdade do consumidor. A Iguatemi investe em seu programa de fidelidade One, que conta com 900 mil membros e oferece experiências VIP em lounges privados. Por sua vez, a JHSF aposta no modelo “share of life”, integrando moradia, lazer, varejo e saúde, além de operar o primeiro aeroporto internacional voltado à aviação executiva no Brasil.

O Futuro da Disputa
Nos bastidores, a JHSF monetiza seu ecossistema através da JHSF Capital, que administra R$2,7 bilhões em 12 fundos. O grupo recentemente estruturou a venda de R$4,6 bilhões em imóveis de luxo, um valor superior ao seu valor de mercado naquela época. Enquanto isso, a Iguatemi continua rotacionando seus ativos, adquirindo participações em shoppings, como os R$2,6 bilhões investidos nos Pátio Paulista e Higienópolis.
A Guerra pelo M² mais Caro
A competição pelo espaço mais valorizado do país também se transforma em uma disputa por recorrência. A Iguatemi investe em bairros integrados, como o projeto Casa Figueira em Campinas, enquanto a JHSF mantém seu foco em um ecossistema que permite ao cliente trabalhar, consumir, morar e voar sem sair da marca.
A disputa entre Iguatemi e JHSF transcende a mera rivalidade comercial. Está em jogo o domínio sobre o tempo, a renda e o estilo de vida do consumidor mais abastado do Brasil. Neste tabuleiro bilionário, cada nova “exclusividade” pode gerar mais valor do que um shopping inteiro ou até mesmo que ações na bolsa de valores. O futuro reserva surpresas, e é inegável que essa batalha moldará o mercado de luxo nacional por muitos anos.