As vendas do comércio varejista cresceram 0,4% em outubro, na leitura do Índice do Varejo Stone (IVS), cuja edição do mês passado foi divulgada ao Valor. Em setembro, o indicador mostrou mesmo resultado, de alta de 0,4%. Mas, em relação a igual mês de 2024, o faturamento do comércio caiu 1,5%, em outubro deste ano. Para Guilherme Freitas, economista e cientista de dados da Stone, o quadro reflete ritmo moderado da atividade varejista até outubro, e mais fraco do que ano passado.
Assim, o técnico não descarta que o setor encerre 2025 com performance mais fraca do que a de 2024. No ano passado, as vendas no comércio subiram 4,7%, segundo dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O economista comentou ainda que, para se entender o comércio com desempenhos de alta de vendas ante mês anterior; e de queda ante mesmo mês do ano passado, é preciso lembrar que o varejo continua a contar com “forças opostas” influenciando o ritmo de vendas.
De um lado, continuou ele, se tem emprego ainda resiliente, com renda originada do trabalho em alta, o que sustenta o consumo e a performance do varejo na ponta. Porém, do outro lado, encontra-se uma combinação de juros mais elevados, com maior comprometimento de renda com dívidas frente a 2024. Essa combinação tem funcionado como “freio” que impede a recuperação plena de desempenho do setor ao longo de 2025, notou Freitas.
“O que temos hoje é esse embate macroeconômico”, afirmou. “De um lado, temos essa massa de rendimento muito grande na economia [a movimentar o consumo] e, do outro esse mercado de crédito muito restritivo”, resumiu o especialista.
O menor ímpeto por compras a crédito no varejo, por conta de juros elevados, também foi percebido na performance de segmentos mais dependentes de vendas a prazo. Móveis e eletrodomésticos foi um dos três segmentos, de oito analisados, que mostrou recuo de vendas, disse Freitas, com queda de 0,5% em outubro ante setembro. Na comparação com outubro do ano passado, esse segmento mostrou recuo de 2,5% nas vendas.
Outro setor também muito dependente de crédito e que mostrou resultados ruins, tanto ante setembro quanto ante outubro do ano passado. foi material de construção, acrescentou ele. Nesse segmento, ocorreram quedas de 0,4% ante setembro e de 1,7% ante outubro de 2024.
“Esses dois setores estão bem abaixo de 2024 [em termos de vendas]”, disse. “Isso é muito puxado por situação difícil do mercado de crédito”, ponderou.
Por isso, Freitas reiterou sua percepção de que os resultados do comércio até outubro já indicam desempenho anual mais fraco do varejo em 2025, ante o ano passado.
“Novembro e dezembro são sempre meses bons para o varejo”, lembrou. Ele citou, respectivamente nesses dois meses, a Black Friday – semana promocional de vendas no setor – e o Natal, como períodos de alta de vendas, no comércio. “Muito provavelmente [as vendas do varejo de 2025 ] vão estar abaixo de 2024. Acho difícil essa tendência mudar nos últimos dois meses do ano”, afirmou Freitas.
A Stone apurou ainda recorte regional das vendas do varejo, em outubro em relação ao mesmo período do ano passado. Seis Estados apresentaram crescimento nas vendas, nessa comparação: Amapá (4,2%), Espírito Santo (2,7%), Sergipe (0,3%), Ceará (0,2%), Goiás e Mato Grosso (ambos com 0,1%).
O Índice do Varejo Stone acompanha mensalmente movimentação do varejo no país, com o mapeamento dos dados de pequenos, médios e grandes varejistas, de forma a divulgar um retrato do setor nacional. O estudo tem como base a metodologia proposta pelo time de Consumer Finance do Federal Reserve Board (Fed), que idealizou modelo de indicador econômico similar nos Estados Unidos. São consideradas as operações via cartões, voucher e Pix dentro do grupo StoneCo.