Quase um terço (32,4%) das principais varejistas brasileiras trocou de CEO entre 2021 e 2025. A taxa média anual de turnover no setor alcançou 7,5% no período, percentual considerado alto por especialistas em recrutamento. Os anos de 2023 e 2025 registraram os maiores picos de rotação de executivos, com 8,8%, ante a menor taxa verificada, de 5,9%, em 2021.
O varejo de supermercados foi o campeão de mudanças de comando, com um índice de 66,7%; seguido por atacarejo e eletroeletrônicos (50%), moda e calçados (35,7%). Em contrapartida, farmácias e drogarias (23,1%) e o atacarejo de construção (22,2%) mostraram uma maior estabilidade no alto escalão.
A análise faz parte de um levantamento da Flow Executive Finders, consultoria especializada na seleção de executivos do C-level, adiantado para o Valor. A pesquisa, finalizada em setembro de 2025, abrange dados dos últimos cinco anos e ouviu 102 empresas do varejo no Brasil, sendo 65% de capital fechado e 35% de capital aberto em dez ramos do comércio, como alimentação (33,3%), moda e calçados (13,7%), farmácias e drogarias (12,7%), petshops (9,8%) e construção (8,8%).
“Os dados representam um movimento de renovação nas lideranças do varejo”, avalia Luiz Gustavo Mariano, sócio da Flow Executive Finders. “Destacam uma rotatividade muito maior em companhias abertas [47,2% promoveram ao menos uma troca de CEO no período], do que em organizações familiares [23,3%]”, observa.
O tempo médio de permanência no cargo aponta 5,6 anos nas empresas abertas, contra 12,7 anos nas companhias fechadas. Mariano diz que as corporações listadas em bolsa são mais cobradas por investimentos, estratégias de inteligência artificial (IA), produtividade e interação com clientes, do que as marcas fora dos pregões. “Como consequência, acabam sendo ‘vitrines’ de talentos”, comenta.
Os CEOs de organizações listadas também atuam sob o monitoramento de investidores e conselhos, explica. “Essa dinâmica cria ciclos de liderança mais curtos e decisões orientadas a resultados imediatos”, compara. “Já nas companhias de capital fechado, há mais espaço para estratégias de longo prazo e construção de legados, o que reduz a rotatividade dos líderes.”
Ao mesmo tempo, ele diz que o “vai-vem” dos CEOs acontece em uma época peculiar do varejo. O setor está exposto a cenários desafiadores, como o custo do crédito pessoal, que dificulta o crescimento das vendas; juros elevados, que travam investimentos; além da inflação, que pressiona a rentabilidade das negociações com os fornecedores, também estressados pelas condições adversas do mercado, aponta.
De acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), as vendas do setor cresceram 0,2% em agosto, na comparação com julho. No comparativo com agosto de 2024, o crescimento foi de 0,4%. No acumulado de 2025, o varejo soma alta de 1,6%, enquanto nos últimos 12 meses o ganho é de 2,2%, a menor taxa verificada desde janeiro. A próxima aposta do setor é a Black Friday, data anual de promoções, que ocorrerá em 28 de novembro.
“Também vivemos um momento de transformação digital, com novos entrantes no setor, rompendo a forma como o cliente se relaciona com as empresas”, alerta. Nesse contexto, a recomendação de Mariano para executivos convidados para assumir como CEOs é conhecer qual a expectativa do empregador, a fim de alinhar planos e conseguir realizar as entregas. “Entre as competências fundamentais estão dominar, com profundidade, aspectos como investimentos e custos associados; saber reconhecer a hora de crescer, de ter eficiência e de privilegiar as margens [de lucro]”, diz. Do lado das varejistas, identificar o perfil correto do gestor para a fase do negócio pode fazer a diferença nos resultados mensais.