Comércio, serviços e indústria tiveram alta em agosto, ante julho, mostram os últimos números divulgados esta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Aquele foi o primeiro mês, desde março, em que os indicadores conjunturais dos três grandes setores da economia ficam no campo positivo ao mesmo tempo. Apesar de já estarmos em outubro, há uma defasagem na divulgação até a conclusão da apuração e análise dos dados.
Os indicadores mais recentes mostram uma economia que enfrenta os desafios de uma taxa de juros alta – que encarece o crédito –, mas ainda convive com um mercado de trabalho pujante. A taxa de desemprego está no menor nível histórico, o menor número de pessoas em busca de trabalho e o maior contingente de trabalhadores ocupados.
O ritmo mais acelerado de expansão em agosto foi o da indústria, com alta de 0,8%. Esse aumento, no entanto, recupera apenas parte da perda de 1,2% acumulada em quatro meses sem crescimento.
O comércio também teve um mês de recuperação em agosto, ainda que com alta menor, de 0,2%, depois de quatro quedas. O setor, no entanto, permanece próximo de seu maior patamar de vendas.
Os serviços mostram uma trajetória diferente: o setor subiu pelo sétimo mês seguido e desde abril vem renovando mensalmente seu patamar recorde.
Indústria, comércio e serviços podem ser considerados o trio de indicadores que dão a temperatura da atividade econômica, pelo lado da oferta, e têm seus desempenhos acompanhados de perto pelo IBGE.
Indústria
A produção industrial cresceu 0,8% em agosto, ante julho, com predomínio de taxas positivas: três das quatro grandes categorias econômicas – com exceção de bens de capital – e 16 das 25 atividades industriais pesquisadas, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal-Produção Física (PIM-PF) do IBGE.
O movimento, no entanto, foi beneficiado por uma base de comparação mais baixa, após a indústria ter ficado sem crescer entre abril e julho. Os resultados acumulados no ano (0,9%) e nos 12 meses até agosto (1,6%) indicam o ritmo mais lento do setor em 2025, sob impacto dos juros altos.
Apesar da alta, segmentos industriais com peso nas exportações para os Estados Unidos aparecem entre as quedas da produção em agosto, ante julho. Segundo o gerente da pesquisa, André Macedo, questionários de informantes sinalizaram efeito do tarifaço em alguns ramos, como na indústria de madeiras.
Comércio
O comércio teve comportamento predominantemente positivo em agosto, ante julho, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE. Cinco das oito atividades do varejo restrito e sete das dez do varejo ampliado registraram aumento no patamar de vendas. Tanto os resultados da média quanto esse espalhamento de taxas no azul são influenciadas por uma base de comparação baixa por causa dos quatro meses de queda.
No caso do varejo restrito, o patamar de vendas está apenas 0,7% abaixo do maior nível da série histórica, registrado em março deste ano. Em agosto, uma influência favorável veio do segmento de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (4,9%), favorecido pela queda do dólar.
O programa do governo Carro Sustentável, que dá incentivos para a compra de veículos menos poluentes, ajudou no resultado do varejo ampliado. As vendas de veículos, motocicletas, partes e peças cresceram 2,3% e puxaram a alta de 0,9% do varejo ampliado.
Serviços
O setor de serviços é o que apresenta desempenho mais consistente ao longo de 2025. O único recuo na Pesquisa Mensal de Serviços (PMC), na comparação com o mês imediatamente anterior, ocorreu em janeiro (-0,4%).
De lá para cá, foram sete altas seguidas. A mais recente, de agosto, foi a menos intensa (0,1%), mas reforça a resiliência do setor diante de um ambiente macroeconômico com juros altos. O patamar recorde de prestação de serviços vem sendo renovado desde abril. Serviços de tecnologia da comunicação e de transportes aparecem entre as principais influências positivas.
Mercado de trabalho
O emprego se manteve forte no trimestre encerrado em agosto, mostraram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do IBGE. A taxa de desemprego foi de 5,6% e repetiu o menor nível da série histórica, iniciada em 2012, e o número de desempregados também é o menor da série (6,084 mihões).
São 102,4 milhões de pessoas ocupadas, com recordes no número daqueles com carteira assinada (39,1 milhões). O rendimento médio do trabalhador era de R$ 3.488, apenas R$ 2 abaixo do recorde, do trimestre encerrado em julho. E a massa de rendimentos atingiu R$ 352,6 bilhões.
Inflação
No caso da inflação, os números são divulgados de forma mais tempestiva e já estão disponíveis os resultados de setembro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação no país, acelerou para 0,48% em setembro, após recuo de 0,11% em agosto. A taxa ficou pouco acima de setembro de 2024 (0,44%) e é a maior para o mês desde 2021 (1,16%).
A pressão nos preços foi concentrada na energia elétrica, que respondeu por 85,4% da alta do IPCA (0,41 ponto percentual da taxa de 0,48%). O comportamento reflete a devolução do chamado bônus de Itaipu, que tinha sido incorporado nas faturas emitidas em agosto, além da bandeira tarifária vermelha patamar 2.
O bônus é uma espécie de crédito que considera a conta de comercialização de energia da usina hidrelétrica. Em agosto, o preço da energia elétrica tinha caído 4,93% por causa do bônus de Itaipu. O grupo de alimentação e bebidas, que tem o maior peso no cálculo do IPCA, teve queda de 0,26% em agosto, a quarta deflação seguida.