Veículo: Folha de S.Paulo
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Data: 22/09/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Autora diz que bem-estar no trabalho é necessidade básica, não luxo para poucos

mercado de trabalho atual tem sido marcado pelo crescimento do emprego informal —a “uberização” das profissões—, funcionários insatisfeitos e aumento dos casos de burnout. Segundo dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt) divulgados pela Fiocruz, a síndrome do esgotamento profissional (burnout) acomete 30% das pessoas ocupadas no país.

Diante dessa realidade, a administradora especialista em estudos da felicidade e em psicologia positiva Renata Rivetti propõe repensarmos o modo como trabalhamos. Em seu livro “O Poder do Bem-Estar” (Objetiva), ela oferece um guia prático para que líderes possam reformular a cultura do ambiente de trabalho, tornando-a mais humana e empática.

“A minha proposta é rever o modelo de trabalho porque ele não está funcionando”, diz. “Rever processos, formas de mensurar resultados, ter conversas difíceis, e nem todo líder está a fim de tudo isso.”

A imagem mostra uma mulher sorrindo, com cabelo solto e levemente ondulado. Ela está vestindo uma blusa de veludo verde com um colarinho. O fundo é composto por painéis de madeira escura, criando um contraste com a roupa da mulher. A iluminação é suave, destacando seu rosto e a textura do tecido.
Renata Rivetti, autora do livro ‘O Poder do Bem-Estar’ (Objetiva), é também parceira exclusiva do 4 Day Week Global no Brasil – Isadora Relvas/Divulgação

Rivetti avalia que muitas empresas e pessoas resistem a um novo modelo de trabalho principalmente porque não é fácil olhar para uma estrutura e cultura estabelecidas e propor reorganizar todo o processo. Para ela, porém, a crise que vivemos é estrutural, de uma sociedade que gera pressão, sobrecarga e cansaço.

A especialista afirma que ainda se premia e valoriza o comportamento workaholic, que coloca o trabalho como centro da própria vida. “A gente pensa muito: qual a minha responsabilidade no meu bem-estar? E a gente tem um papel importante”, diz. “Mas, o burnout, por exemplo, é uma doença ocupacional, o indivíduo não pode ser responsabilizado por ela.”

O que acontece, segundo Rivetti, é que as empresas encaram o bem-estar e a saúde mental como itens de luxo, não como necessidades básicas. Uma necessidade básica, ela explica, inclui equidade, inclusão e pertencimento, aspectos fundamentais para uma cultura de felicidade corporativa.

“Eu acho que as empresas se voltam para o comando e o controle porque é o conhecido e é mais fácil”, afirma. “Essa ilusão de que eu preciso ficar mensurando é [sintoma de] uma cultura que a gente construiu de medo, de falta de confiança e também de imaturidade dos colaboradores.”

Isso, diz Rivetti, tem origem em duas grandes crises que estamos vivendo. A primeira é que o trabalho deixa de ser uma fonte de realização e significado. Se o funcionário está fingindo produtividade, sentindo que o que faz é um fardo, ele não está feliz.

A segunda é o cansaço de cultivar relações e vínculos, de ter momentos de lazer e descanso que sejam realmente intencionais. “Temos que ter uma discussão sobre como a gente, como sociedade, perdeu um pouco o que de fato importa na vida.”

Capa do livro ‘O Poder do Bem-Estar’ (Objetiva), de Renata Rivetti – Divulgação

Assim, voltamos à discussão de que é preciso ter o básico para sobreviver: um ambiente de trabalho digno e que traga segurança. Isso vale tanto para o debate sobre emprego informal quanto para discussões a respeito de uma flexibilização do modelo CLT.

Rivetti lembra que o Brasil ocupa o 36º lugar no ranking de felicidade da ONU. Os indicadores usados para o ranking não contemplam apenas a melhora do PIB ou da economia em geral, mas também a percepção de suporte social. Ou seja, vínculos e relacionamentos.

“A gente tem que olhar como sociedade, não no curto prazo, mas algo mais sustentável, revendo o impacto que as empresas têm nas pessoas”, afirma.

Como fundadora da Reconnect Happiness at Work and Human Sustainability, a autora é responsável por implementar no Brasil o piloto da semana de quatro dias de trabalho, prática ainda vista com receio por empresários, mesmo que pesquisas mostrem que o modelo faz bem à saúde e melhora o bem-estar no trabalho.

Isso não significa que uma empresa deva ser perfeita ou fazer alguém feliz, ela diz, mas que é possível reduzir a sobrecarga e gerar um ambiente melhor, com relações mais humanas.

Com o olhar da psicologia positiva, Rivetti elenca três pilares para tornar isso possível. O primeiro tem a ver com as relações, construindo um senso de pertencimento e segurança psicológica. A segunda questão é focar nas forças, não nas fraquezas, fazendo com que o líder coloque as pessoas nas atividades certas para elas. Por fim, reduzindo a sobrecarga com períodos de pausa e descanso para combater o estresse.

“Quando a gente pensa na visão da felicidade na psicologia positiva, estamos falando que, para quem tem as necessidades básicas atendidas, felicidade tem a ver com intenção, autoconhecimento, autorresponsabilidade e disciplina. E tudo isso pode ser feito para a construção de uma cultura de bem-estar”, conclui.