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Data: 18/09/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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2º tri mostra eficiência, mas juros altos ainda prejudicam varejo

2º trimestre de 2025 apresentou resultados que merecem ser lidos com lupa. Mostram que há, sim, avanços na gestão, na eficiência operacional e até mesmo na produção de valor. Contudo, a sombra dos juros altos continua a pairar sobre o setor, consumindo uma fatia importante dos resultados do esforço empresarial.

Se por um lado a operação prova resiliência, por outro, a política monetária ainda representa um freio nos negócios. O cenário é de um setor que já aprendeu a se reinventar em ambiente adverso, mas que não consegue escapar de um custo financeiro que sabota seu crescimento, com impactos em toda economia nacional.

A boa notícia é que a receita cresceu e se elevou o grau de eficiência. No consolidado do 2º trimestre deste ano, as receitas alcançaram R$ 141,1 milhões, alta de 6% em relação ao mesmo trimestre de 2024. Trata-se de crescimento moderado, mas relevante, sobretudo diante da conjuntura, marcada por taxas de crédito elevadas e pressão sobre a renda das famílias.

O avanço não se restringe ao faturamento bruto. O valor adicionado bruto também subiu, atingindo R$ 38,7 milhões, o que representa 27,4% da receita, contra 26,7% registrado 1 ano antes. Esse movimento não ocorre por acaso: reflete melhor controle de custos e maior disciplina na gestão de insumos.

Os insumos adquiridos de terceiros, que em 2024 representavam 67,5% da receita, caíram para 63,8% neste trimestre. Em outras palavras: as empresas estão conseguindo produzir mais valor com menos dependência externa, seja pela negociação com fornecedores, seja pela otimização de processos logísticos e operacionais.

Essa evolução não é trivial. Ela mostra que o setor está consciente da necessidade de capturar eficiência interna para sobreviver em um ambiente em que o crédito caro ainda limita a demanda. É, de certo modo, a prova de que o varejo brasileiro aprendeu a andar com mais disciplina.

Mas se há boas notícias no campo operacional, o mesmo não se pode dizer da esfera financeira. As despesas com juros cresceram e representaram 4,8% da receita no 2º trimestre de 2025, contra 3,9% no 2º trimestre de 2024. Isso equivale a um salto de quase 50% em só 1 ano.

No agregado, a remuneração de capitais de terceiros chegou a 5,7% da receita, acima do patamar do ano passado. Esse movimento revela uma contradição difícil de administrar. O setor melhora sua performance operacional, mas vê parte desse ganho ser neutralizado pelo custo do dinheiro.

Na prática, o esforço para criar valor encontra uma barreira que não depende apenas da gestão empresarial, mas da política monetária do país. O problema se agrava quando se observa que a receita financeira não cresceu na mesma proporção. Sem um colchão capaz de compensar o avanço do custo da dívida, o resultado líquido acaba pressionado. Essa é a razão pela qual, mesmo com vendas maiores e eficiência superior, o setor ainda sente dificuldade em transformar ganhos operacionais em lucro líquido consistente.

Há, contudo, um ponto a ser celebrado: a remuneração de capitais próprios voltou a terreno positivo. Em 2024, esse indicador havia sido praticamente nulo (0,1% da receita). Agora, no 2º trimestre, alcançou 1,5% da receita, sinalizando que o esforço operacional não foi em vão.

Esse resultado é importante porque mostra que, mesmo em cenário adverso, ainda é possível produzir retorno ao acionista. Ao mesmo tempo, revela a dimensão da oportunidade perdida: com juros mais baixos, esse percentual poderia ser muito maior, impulsionando investimentos e expansão.

É preciso destacar que o impacto dos juros não é homogêneo. Grandes companhias, com acesso a mercados de capitais e instrumentos de hedge, conseguem mitigar parte da pressão. Mas pequenas e médias empresas, dependentes do crédito bancário tradicional, sofrem de maneira desproporcional. No varejo de menor porte, no qual as margens já são naturalmente mais estreitas, o custo financeiro pode significar a diferença entre manter operações ou encerrar atividades.

Essa assimetria acaba por concentrar ainda mais o mercado, beneficiando grandes redes em detrimento de players regionais e locais. Quando falamos, portanto, que os juros travam o setor, não se trata só de uma análise macroeconômica. É também um diagnóstico de sobrevivência empresarial, que diz respeito à diversidade de competidores.

A LEITURA EM PERSPECTIVA HISTÓRICA

Comparar os resultados de 2025 com trimestres anteriores ajuda a contextualizar a análise. No 2º trimestre de 2022, os juros consumiam 6,3% da receita. Em 2023, esse número havia recuado para 5,4% e, em 2024, para 3,9%. Agora, em 2025, voltamos a 4,8%. O ciclo mostra que houve avanços, mas também retrocessos. A trajetória de redução do custo financeiro não foi linear. E esse vaivém compromete a previsibilidade necessária para que empresas planejem investimentos de médio e longo prazo.

Um país que pretende retomar o crescimento sustentável não pode conviver com tamanha volatilidade na relação entre juros e atividade. Se a cada trimestre o custo do dinheiro sobe e desce, a consequência é a mesma: postergação de investimentos, cautela nas contratações e limitação da expansão.

O debate não é técnico apenas. Está em jogo o futuro da economia brasileira. O varejo é um dos principais empregadores do país e depende diretamente do crédito para girar estoques e estimular o consumo. Quando o custo financeiro consome uma fatia relevante da receita, o efeito não se restringe aos balanços: repercute no nível de atividade, na criação de empregos e na arrecadação tributária. Se o setor não consegue investir e crescer, o impacto recai sobre toda a economia. A consequência é um círculo vicioso: menos consumo, menos investimento, menos crescimento e, por fim, mais dificuldade para reduzir juros de forma sustentável.

O 2º trimestre deste ano reforça a urgência de uma política monetária que olhe além da inflação corrente. Não se trata de ignorar a importância do controle de preços, mas de reconhecer que juros estruturalmente altos corroem a capacidade produtiva do país. O varejo mostrou, neste trimestre, que está disposto e preparado para fazer sua parte: controlou custos, elevou a produtividade e conseguiu expandir o valor adicionado. Mas não pode continuar pagando um pedágio financeiro que esvazia esse esforço.

Se o objetivo é retomar o crescimento sustentável, a redução consistente do custo do crédito precisa estar no centro da agenda econômica. Só assim os ganhos de eficiência do setor se transformarão em geração de valor, investimento e expansão.

DE OLHO NOS NÚMEROS

Vale utilizar a mesma lupa para analisar o gráfico abaixo e perceber a relação entre consumo e taxa de juros.

De 2015 a 2016, o consumo despenca (-4,3% e -6,2%), com Selic elevada (13%–14%), evidenciando a correlação negativa. De 2017 a 2019, com Selic em queda (14%–6%), o consumo volta a crescer moderadamente (2% a 2,3%). Em 2020, temos a mínima histórica da Selic (2%), mas o consumo se revela fraco (1,2%), claramente como resultado da pandemia.

Em 2021 e 2023, a Selic sobe rapidamente, até 13,75%, e o consumo desacelera (1,0%–1,7%). Em 2024, a Selic começa a cair, e o consumo dispara (+4,7%). Em 2025, conforme a projeção, a Selic volta a subir (~14,5%) e a expectativa é que o consumo desacelere (1,7% –2%).