Giorgio Armani construiu uma das marcas de moda mais conhecidas do mundo nas últimas cinco décadas. Sua morte, aos 91 anos, levanta inevitavelmente questões sobre o futuro da empresa italiana cuja independência ele tanto prezava.
Armani foi o único acionista majoritário do grupo que fundou com seu parceiro Sergio Galeotti (1945-1985) nos anos 1970, mantendo controle rigoroso sobre os aspectos criativos e gerenciais até o fim. Ele não deixou filhos para herdar o negócio, que teve receita relativamente estável de 2,3 bilhões de euros (R$ 14,6 bilhões) em 2024, embora os lucros tenham caído durante a recessão do setor.
Apesar da desaceleração, a empresa continua atraente, segundo Mario Ortelli, da consultoria Ortelli&Co. “A Giorgio Armani poderia ser um alvo interessante? A resposta é absolutamente sim —é uma das marcas mais reconhecidas do mundo, com visão estilística única”, disse Ortelli, embora negociações a médio prazo sejam improváveis.
Ao longo dos anos, a marca recebeu diversas propostas, incluindo em 2021 de John Elkann, da família Agnelli, e outra da Gucci sob Maurizio Gucci. Armani sempre evitou negócios que diluíssem seu controle e recusou abrir capital.
Ele preparou mecanismos para garantir continuidade e independência, envolvendo familiares de confiança e colaboradores de longa data. Ele deixa a irmã Rosanna, as sobrinhas Silvana e Roberta, e o sobrinho Andrea Camerana, todos com papéis importantes na empresa, além de Pantaleo Dell’Orco, braço direito considerado parte da família. O testamento deve esclarecer os planos nas próximas semanas, e os cinco são potenciais herdeiros.
GARANTINDO O LEGADO COM UMA FUNDAÇÃO
Armani planejou a sucessão para manter a independência da empresa, criando em 2016 uma fundação para “proteger a governança” do grupo. Ele disse que o mecanismo ajudaria os herdeiros a se entenderem e impediria que a empresa fosse vendida ou fragmentada.
A fundação detém atualmente 0,1% do capital da empresa, mas após sua morte deve receber uma participação maior, junto aos demais herdeiros
Armani também estabeleceu novos estatutos que entram em vigor após sua morte, definindo princípios de governança, incluindo “abordagem cautelosa a aquisições” e divisão do capital em categorias com direitos de voto diferentes. Qualquer oferta pública dependeria da maioria do conselho e só ocorreria cinco anos após a aplicação do estatuto.
PEQUENA, MAS PODEROSA
Comentando os resultados financeiros passados, Giorgio Armani ressaltou sua determinação em continuar desenvolvendo um negócio relativamente pequeno em escala, em comparação com o gigante francês LVMH e outros concorrentes, como a Kering, dona da Gucci, e a casa de luxo italiana Prada.
“Escolhi, de qualquer forma, investir em projetos de grande importância simbólica e prática, que são fundamentais para o futuro da empresa”, disse ele no comunicado de resultados em julho.
A empresa reformou lojas em Nova York e Milão, abriu o Palazzo Armani em Paris e internalizou a gestão de ecommerce.
A Europa gera quase metade da receita, enquanto Américas e Ásia-Pacífico respondem por cerca de um quinto cada. O grupo tinha 570 milhões de euros (R$ 3,6 bilhões) em caixa no final de 2024.
LÍDERES DA ARMANI PODEM ASSUMIR
Armani desejava uma transição gradual para colaboradores e familiares próximos, como Leo Dell’Orco, membros da família e a equipe de trabalho. Em termos de gestão, será necessário preencher os cargos de presidente do conselho e CEO antes ocupados por Armani, com veteranos como Giuseppe Marsocci e Daniele Ballestrazzi entre os possíveis nomes.
A estrutura criativa será mais delicada. A sobrinha Silvana trabalhou em coleções femininas, enquanto Dell’Orco colaborava nas masculinas.
O especialista Mario Ortelli observa que Armani provavelmente definiu diretrizes na fundação sobre a possível divisão de responsabilidades criativas, seja por diretor único ou múltiplos líderes de linha.