Veículo: Estadão
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Data: 05/09/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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BRB cai na Bolsa após reprovação do BC a negócio com o Master; veja quais são os próximos passos

Para os bancos Master e BRB, esta quinta-feira, 4, foi marcada pela volatilidade de seus papéis e pela incerteza sobre uma eventual revisão do Banco Central (BC). Na noite anterior, a autoridade monetária divulgou ter reprovado a compra de uma fatia do Master pelo banco estatal do Distrito Federal, um negócio anunciado 159 dias antes, em 28 de março, e desde então acompanhado com atenção pelo mercado financeiro e pelo ambiente político e alvo de muita polêmica.

As ações do Banco de Brasília (BRB) na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, amanheceram em baixa. Chegaram a despencar quase 15% pela manhã e fecharam em quedas de 5,57%, para as preferenciais (PN), e de 3,23% para as ordinárias (ON).

Enquanto isso, o movimento de Certificados de Depósito Bancário.(CDBs) emitidos pelo Master e vendidos no mercado secundário chegaram a oferecer mais de 20% de retorno ao ano para investidores que quisessem se arriscar.

O mercado secundário é onde investidores vendem e compram títulos já emitidos, sem a participação direta do emissor. Na prática, quando alguém decide resgatar uma aplicação em um CDB antes do vencimento, a corretora aumenta o spread (prêmio) para que esse ativo não fique parado nas prateleiras. Isso aconteceu no início de abril, logo depois que a venda de fatia do Master para o BRB foi anunciada.

Os dois bancos não jogaram a toalha. Eles terão 10 dias para tentar uma revisão da decisão. O prazo só começa a correr quando as instituições tiverem acesso aos detalhes da decisão — o que ainda não aconteceu.

Mesmo após o Banco Central ter recusado a autorização, o BRB pretende insistir na operação, segundo apurou o Estadão. De acordo com interlocutores do banco, os caminhos seriam pedir reconsideração por parte do Banco Central ou apresentar uma nova proposta para atender aos pontos levantados pela autoridade monetária.

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O BRB só tomará qualquer decisão após ter acesso à íntegra do documento do BC. Em fato relevante ao mercado, após ser informado da decisão do BC, o BRB informou oficialmente que irá “examinar as alternativas cabíveis”.

Em nota, o Banco Master diz aguardar acesso à íntegra do documento para avaliar seus fundamentos e examinar as alternativas cabíveis. “O banco continua confiante na sua estratégia e na sua operação, que fizeram com que se destacasse num mercado altamente concentrado”, afirma.

O risco de contaminação do banco estatal

O Banco Central ainda mantém em sigilo o documento que embasou a reprovação da transação. Mas integrantes que participaram das negociações dizem que um ponto foi central na decisão: o risco de o BRB ser contaminado pelos ativos do Master considerados “podres”, ainda que eles não fossem envolvidos na operação.

O problema é que, como o banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Master, teria ações no novo banco formado dentro do BRB (o BRB Corporate, fruto da compra, e que ficaria dentro da holding BRB), esses papéis poderiam ser vistos como uma garantia para cobrir os ativos podres do Master deixados para trás. E isso poderia arrastar o BRB, um banco público, para o problema do banco privado.

Como o Master fez bilhões em captações de CDBs cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), o fundo terá de honrar o passivo do Master — papéis emitidos em até R$ 250 mil — em caso de calote. Mas isso acarretaria uma dívida do banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Master, com o FGC. E é aí que entrariam as suas ações no novo banco formado como BRB.

O BRB chegou a estabelecer uma cláusula impedindo que esses ativos do novo banco fossem usados para cobrir quaisquer problemas do Master, mas, aparentemente, essa medida não deu segurança jurídica para o Banco Central aprovar a operação.

Ainda que parte desses créditos sejam no segmento consignado, ou seja, com garantias, havia dúvidas se essas carteiras não estariam “sobreavaliadas”, ou seja, com um valor de face maior do que o valor real.

Outras soluções ainda são possíveis. A adoção de um regime de resolução, como a liquidação extrajudicial ou a intervenção, são vistos como alternativas à disposição do BC.

Pelo regimento do Banco, caberia ao diretor de Fiscalização, Ailton Aquino, propor à diretoria colegiada a adoção de alguma dessas medidas. Outra possibilidade seria o Master tentar vender seus ativos para um terceiro interessado.

A reprovação do negócio aumenta as incertezas sobre o futuro da instituição do empresário Daniel Vorcaro e na Faria Lima já se fala até em uma possível intervenção da autoridade monetária, apurou o Estadão/Broadcast.

O Master tem passivos importantes vencendo no curto prazo. Só em CDB, o mais recente balanço publicado, de 2024, indicava R$ 5,3 bilhões vencendo este ano e R$ 21 bilhões com vencimento até 2027. Quando se consideram todas as obrigações, são R$ 46 bilhões vencendo até 2027.

A transação vinha sendo analisada há cinco meses e o perímetro de ativos do Master que seriam adquiridos pelo BRB sendo reduzidos. A estimativa inicial de R$ 50 bilhões em ativos que seriam levados pelo BRB foi reduzida para ao redor de R$ 20 bilhões ao final de diligências. /Com Altamiro Silva Junior, Alvaro Gribel, Amélia Alves, Cícero Cotrim e Cynthia Decloedt