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Data: 07/08/2025

Editoria: L-Founders, Pão de Açúcar
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PCAR3: ação cai 10% após balanço; alavancagem limita entusiasmo com melhora do Ebitda

Enquanto a rede de supermercados segue melhorando o que está sob seu controle, a dúvida dos analistas é se o caixa gerado será suficiente para cobrir os custos da dívida sem comprometer a operação

Murilo Melo

06/08/2025 17h35 • Atualizado 22 horas atrás

Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) entregou um segundo trimestre (2T25) com alguns números bem recebidos pelo mercado, especialmente na margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), que subiu 20 pontos-base na comparação anual e atingiu 9,0%.

Apesar disso, a reação do mercado foi negativa. No fechamento de terça-feira (5), PCAR3 era negociada a R$ 3,50, preço-alvo reiterado pelo Morgan Stanley, que mantém recomendação neutra para o papel. O Itaú BBA também classificou a ação como market perform (desempenho em linha com o mercado).

Mas a recomendação dos analistas, no entanto, não ajudou a rede de supermercados a engrenar na Bolsa. Nesta quarta-feira (6), as ações recuaram 10,36%, cotadas a R$ 3,03, apontando cautela dos investidores diante da alavancagem crescente e da perda de fôlego em parte das operações.

O desempenho operacional da bandeira Pão de Açúcar, que cresceu 6,5% em vendas nas mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês), chamou a atenção de casas como Itaú BBA e Morgan Stanley. Só que os resultados ainda não animam os analistas em relação ao papel, principalmente devido ao crescimento tímido das receitas, à piora na alavancagem e à falta de tração nas bandeiras Extra e Aliados.

Segundo a XP Investimentos, a receita líquida consolidada avançou 4% em relação ao segundo trimestre do ano passado, apoiada por um efeito positivo de calendário com a Páscoa empurrada para abril. Ajustando esse efeito, o crescimento das vendas em mesmas lojas foi de 5,1%, com desaceleração frente ao trimestre anterior em praticamente todos os formatos.

A companhia divulgou seus resultados na noite desta terça-feira (5)

O destaque, diz a corretora, foi a bandeira Pão de Açúcar, enquanto a operação de proximidade ficou praticamente estável e os parceiros do canal B2B (sigla para business to business) tiveram queda de 18% nas vendas.

A margem bruta caiu 0,8 ponto percentual, para 27,4%, afetada por maior atividade promocional em um ambiente competitivo acirrado e menor demanda. Essa pressão, no entanto, foi compensada pela queda de 16,5% nas despesas gerais e administrativas (G&A, na sigla em inglês), permitindo a expansão da margem Ebitda ajustada.

Um fator pontual também contribuiu: o reconhecimento de uma indenização tributária de R$ 100 milhões, que beneficiou o resultado da linha de “outras receitas operacionais” para R$ 10 milhões positivos.

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Para o Itaú BBA, por outro lado, a empresa tem conseguido executar bem seu processo de reestruturação, com ganhos de participação nas faixas premium (+1,1 ponto percentual em um ano) e na operação de proximidade (+0,8 ponto percentual). A controladora do grupo francês Casino apresentou Ebitda ajustado de R$ 197 milhões (excluindo o impacto da norma contábil IFRS 16), 13% acima do esperado pelo banco.

Ainda assim, o banco diz que o prejuízo líquido de R$ 171 milhões mostra que a pressão financeira continua forte. Com juros em 15% ao ano no Brasil, a dívida segue como um entrave à geração de lucro, pontuam os analistas.

Em relatório enviado ao mercado, a Genial Investimentos também reconheceu avanços operacionais, mas levanta dúvidas sobre a sustentabilidade das margens em meio à desaceleração das vendas. O desempenho do Pão de Açúcar, conforme a corretora, compensou a fraqueza de outras bandeiras, mas o volume de compras caiu frente ao primeiro trimestre e ainda não há clareza se o movimento é passageiro ou estrutural.

A Genial observa que, diante da piora do consumo, a companhia optou por interromper sua meta de 300 aberturas de lojas entre 2022 e 2026. Com 213 unidades já inauguradas, a empresa, observa a corretora, parece disposta a cortar ainda mais despesas e investimentos no segundo semestre deste ano.

Para o Morgan Stanley, o avanço de 6,8% nas vendas em mesmas lojas no Brasil superou as projeções, mas o banco diz que o resultado final foi equilibrado pela retração nas vendas do canal B2B. A equipe de analistas avalia que o Ebitda de R$ 420 milhões foi levemente superior às estimativas, sustentado por renegociações com fornecedores e ajustes na estrutura administrativa. Ainda assim, a margem líquida ajustada ficou negativa em 3,8%, mesmo após o efeito positivo de um ajuste monetário sobre créditos tributários.

A alavancagem da empresa, por outro lado, voltou a crescer. De acordo com a XP e o Morgan Stanley, o índice de dívida líquida sobre Ebitda ajustado (excluindo efeitos da IFRS 16) subiu de 2,9x para 3,1x em três meses. A estimativa do Itaú BBA, considerando ajustes de fluxo de caixa, é ainda mais conservadora: 5,2x, embora inferior à marca de 5,7x do primeiro trimestre. O problema, segundo os estrategistas, está no endividamento considerado um dos principais entraves para um re-rating da ação, ou seja, de uma reavaliação do valor do papel.

Sem grandes ativos para vender e com o espaço de expansão física limitado, analistas avaliam que uma das poucas alternativas remanescentes pode ser uma reformulação na FIC, joint venture financeira com o Itaú herdada dos tempos de grupo integrado com Assaí e Casas Bahia. Uma eventual reorganização que amplie a fatia das varejistas no negócio, segundo eles, pode se tornar um gatilho relevante no curto ou médio prazo.