Veículo: Valor Econômico
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Data: 17/07/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Importações pressionam varejo e indústria

Após um período de forte retração, as compras internacionais de pequeno valor apresentaram sinais de recuperação gradual no segundo trimestre. Embora ainda esteja abaixo dos picos registrados antes das taxações, a retomada desse comércio acende um alerta para o varejo e para a indústria têxtil nacional.

Segundo relatório do Santander, que compilou dados da Receita Federal, as vendas por meio do programa Remessa Conforme totalizaram R$ 3,77 bilhões de abril a junho, um crescimento de 21% em comparação com o trimestre anterior – o primeiro avanço desde outubro de 2024. Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve queda de 11% na receita.

“Essa aceleração pode ser parcialmente explicada pela antecipação de compras por consumidores que já esperavam o aumento do ICMS interestadual para compras internacionais”, escreveram os analistas liderados por Ruben Couto. Isso fez com que a base de comparação com o primeiro trimestre ficasse menor.

O número total de encomendas de abril a junho foi de 36,7 milhões, ainda 29% abaixo do pico de 51,7 milhões registrado no segundo trimestre de 2024. Na comparação trimestral, o volume cresceu 13% em relação ao primeiro trimestre, com um aumento de 7% no ticket médio. Para a equipe do Santander, os números indicam uma demanda internacional em “normalização e crescimento”.

O relatório destaca que ainda é cedo para dizer que a recuperação gradual do Remessa Conforme é má notícia para as varejistas brasileiras. Isso porque os dados não são divulgados por empresa, dificultando a análise de impacto específico, e os volumes ainda estão bem abaixo dos níveis pré-taxação.

Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), argumenta que “ninguém é contra as importações, desde que elas ocorram dentro dos parâmetros que deveriam reger as relações internacionais”.

Segundo o executivo da entidade, o imposto para compras internacionais de até US$ 50, que ficou conhecido como “taxa das blusinhas”, freou o ímpeto das importações, mas ainda não trouxe pleno equilíbrio para o mercado. “Aqui se paga 90% de imposto, enquanto para eles [estrangeiros] a carga é de 45%. Isso, evidentemente, tira competitividade do produtor local”, disse.

Para além das pequenas encomendas, dados da Abit mostram que as importações têm avançado na cadeia como um todo, pressionando a indústria nacional. Em 12 meses encerrados em maio, a produção têxtil no país cresceu 8,5%, enquanto as importações avançaram 20,5%.

“O vestuário tem sofrido mais porque a importação cresceu 19,3% nos 12 meses até junho, um ritmo quase cinco vezes superior ao da produção local [4,3%]”, afirmou Pimentel. Isso inclui, especialmente, compras feitas pelo regime convencional de importações, que representa a maior parte das compras internacionais feitas pelo setor.

Segundo Pimentel, essa realidade não é nova, mas vem se agravando com a escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. “Quando os EUA cortam importações da China, que é o maior exportador do mundo, eles vão colocar isso onde tem mercado, e o Brasil é uma opção”, afirmou. Atualmente, o país asiático é responsável por 60% das importações brasileiras no segmento de vestuário.

Em relação ao anúncio recente do presidente americano, Donald Trump, de aumentar para 50% as tarifas impostas ao Brasil, Pimentel diz que a medida “praticamente inviabiliza a exportação de qualquer produto brasileiro”. No caso do setor têxtil, as vendas para os EUA representam apenas 4% do faturamento total da indústria. Há, por outro lado, um efeito para empresas que compram mercadorias nos Estados Unidos, como o grupo SBF, dono da Centauro e operador da Nike no país, e para varejistas de vestuário que compram coleções em dólar.

O executivo participou da reunião entre representantes de setores da indústria com o governo federal, na terça-feira (15), que pediu, principalmente, a negociação do adiamento na aplicação da tarifa, que deverá começar em 1º de agosto, caso não haja um acordo. Os representantes também se manifestaram contra a retaliação das taxas por parte do Brasil, com base na Lei da Reciprocidade Econômica.

Apesar dos desafios, a expectativa é que o setor encerre o ano no azul. A Abit projeta um crescimento de 2,6% para o setor têxtil e de confecção em 2025, em linha com a previsão do PIB para este ano. Os dados de janeiro a maio mostram que a produção têxtil cresceu 11,8% e a de vestuário, 1,6%. O varejo de vestuário, por sua vez, avançou 5,4% no mesmo período.