Após um período de forte retração, as compras internacionais de pequeno valor apresentaram sinais de recuperação gradual no segundo trimestre. Embora ainda esteja abaixo dos picos registrados antes das taxações, a retomada desse comércio acende um alerta para o varejo e para a indústria têxtil nacional.
Segundo relatório do Santander, que compilou dados da Receita Federal, as vendas por meio do programa Remessa Conforme totalizaram R$ 3,77 bilhões de abril a junho, um crescimento de 21% em comparação com o trimestre anterior – o primeiro avanço desde outubro de 2024. Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve queda de 11% na receita.
“Essa aceleração pode ser parcialmente explicada pela antecipação de compras por consumidores que já esperavam o aumento do ICMS interestadual para compras internacionais”, escreveram os analistas liderados por Ruben Couto. Isso fez com que a base de comparação com o primeiro trimestre ficasse menor.
O número total de encomendas de abril a junho foi de 36,7 milhões, ainda 29% abaixo do pico de 51,7 milhões registrado no segundo trimestre de 2024. Na comparação trimestral, o volume cresceu 13% em relação ao primeiro trimestre, com um aumento de 7% no ticket médio. Para a equipe do Santander, os números indicam uma demanda internacional em “normalização e crescimento”.
O relatório destaca que ainda é cedo para dizer que a recuperação gradual do Remessa Conforme é má notícia para as varejistas brasileiras. Isso porque os dados não são divulgados por empresa, dificultando a análise de impacto específico, e os volumes ainda estão bem abaixo dos níveis pré-taxação.
Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), argumenta que “ninguém é contra as importações, desde que elas ocorram dentro dos parâmetros que deveriam reger as relações internacionais”.
Segundo o executivo da entidade, o imposto para compras internacionais de até US$ 50, que ficou conhecido como “taxa das blusinhas”, freou o ímpeto das importações, mas ainda não trouxe pleno equilíbrio para o mercado. “Aqui se paga 90% de imposto, enquanto para eles [estrangeiros] a carga é de 45%. Isso, evidentemente, tira competitividade do produtor local”, disse.
Para além das pequenas encomendas, dados da Abit mostram que as importações têm avançado na cadeia como um todo, pressionando a indústria nacional. Em 12 meses encerrados em maio, a produção têxtil no país cresceu 8,5%, enquanto as importações avançaram 20,5%.
“O vestuário tem sofrido mais porque a importação cresceu 19,3% nos 12 meses até junho, um ritmo quase cinco vezes superior ao da produção local [4,3%]”, afirmou Pimentel. Isso inclui, especialmente, compras feitas pelo regime convencional de importações, que representa a maior parte das compras internacionais feitas pelo setor.
Segundo Pimentel, essa realidade não é nova, mas vem se agravando com a escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. “Quando os EUA cortam importações da China, que é o maior exportador do mundo, eles vão colocar isso onde tem mercado, e o Brasil é uma opção”, afirmou. Atualmente, o país asiático é responsável por 60% das importações brasileiras no segmento de vestuário.
Em relação ao anúncio recente do presidente americano, Donald Trump, de aumentar para 50% as tarifas impostas ao Brasil, Pimentel diz que a medida “praticamente inviabiliza a exportação de qualquer produto brasileiro”. No caso do setor têxtil, as vendas para os EUA representam apenas 4% do faturamento total da indústria. Há, por outro lado, um efeito para empresas que compram mercadorias nos Estados Unidos, como o grupo SBF, dono da Centauro e operador da Nike no país, e para varejistas de vestuário que compram coleções em dólar.
O executivo participou da reunião entre representantes de setores da indústria com o governo federal, na terça-feira (15), que pediu, principalmente, a negociação do adiamento na aplicação da tarifa, que deverá começar em 1º de agosto, caso não haja um acordo. Os representantes também se manifestaram contra a retaliação das taxas por parte do Brasil, com base na Lei da Reciprocidade Econômica.
Apesar dos desafios, a expectativa é que o setor encerre o ano no azul. A Abit projeta um crescimento de 2,6% para o setor têxtil e de confecção em 2025, em linha com a previsão do PIB para este ano. Os dados de janeiro a maio mostram que a produção têxtil cresceu 11,8% e a de vestuário, 1,6%. O varejo de vestuário, por sua vez, avançou 5,4% no mesmo período.