Veículo: Valor Econômico
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Data: 15/07/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Governo começa a debater resposta aos EUA com empresários

Após assinar o decreto que regulamenta a Lei de Reciprocidade Econômica, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dará início hoje a conversas com empresários da indústria e da agropecuária em torno da tarifa de 50% prometida pelos Estados Unidos. A gestão quer articular com o setor e tomar para si a discussão sobre o tarifaço, especialmente diante da ofensiva do presidente americano, Donald Trump, de reabilitar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no cenário eleitoral brasileiro. Inicialmente, o governo quer negociar uma saída para o tarifaço, mas não descarta adotar a reciprocidade.

Em um primeiro momento, os diálogos serão coordenados por um comitê interministerial, que será comandado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin. Também participarão os ministérios da Fazenda, Casa Civil e Relações Exteriores. Lula não deverá participar por enquanto.

O objetivo dos encontros será ouvir as demandas das entidades de produtores e exportadores e buscar um entendimento entre setor público e privado para alinhar ações, apurou o Valor.

O primeiro encontro acontecerá hoje, às 10h, e contará com representantes da indústria. Foram convidados integrantes dos segmentos de aviões, alumínio, celulose, máquinas, sapatos, móveis e autopeças, entre outros. Ainda estará o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.

Para a segunda reunião, às 14h, foram convidados representantes do agro, como os setores de suco de laranja, carnes, frutas, mel, couro e pescado. Os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, e da Pesca, André de Paula, também deverão participar.

Primeiro encontro será de manhã, com representantes da indústria; à tarde reunião é com o agronegócio

“O que estamos fazendo é ouvir os setores mais envolvidos, para o setor privado se mobilizar e participar também. [Isso é para que] as empresas fazerem a articulação com seus parceiros [comerciais] congêneres”, disse Alckmin.

O titular do Mdic disse que os encontros são uma primeira parte do trabalho. Segundo ele, a gestão federal também pretende tratar com empresas americanas que têm interlocução na cadeia de comércio entre Brasil e Estados Unidos. “As empresas americanas [no Brasil] também serão atingidas; vamos conversar com as empresas americanas e entidades como a Amcham [Câmara Americana de Comércio para o Brasil]”, disse.

Alckmin minimizou o fato de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), estar costurando tratativas em paralelo ao trabalho feito pela gestão federal. O assunto veio à tona depois que o encarregado de Negócios dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, confirmou que irá se reunir hoje com o político paulista e empresários para discutir a tarifa imposta por Trump. Na visão do vice-presidente, não há problema de Escobar se encontrar com gestores estaduais sem a presença de autoridades do governo Lula. Este será o segundo encontro entre Escobar e Tarcísio em menos de uma semana. O último aconteceu na semana passada, logo após Lula criticar o governador paulista por sua postura amena em relação à decisão de Trump.

O setor privado, por sua vez, terá uma agenda intensa de reuniões em Brasília para tentar encontrar uma saída viável em meio ao tarifaço de Trump. Antes da reunião com Alckmin e Fávaro, empresários do agronegócio deverão se reunir com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e outros ministérios, como o próprio Itamaraty.

As declarações do presidente Trump são claras. Estaremos observando atentamente”
— Darren Beattie

Com as negociações ainda em andamento, integrantes do governo estão pregando cautela em relação à possibilidade de o Brasil pedir aos americanos, por exemplo, a criação de cotas de exportação para itens como café e suco de laranja, ou mesmo o adiamento do prazo de vigência da nova tarifa. Sobre isso, Alckmin negou que o governo brasileiro tenha apresentado qualquer proposta.

A orientação para a criação do comitê foi dada por Lula no último domingo, em reunião no Palácio da Alvorada. Segundo fontes do Valor, o pedido do chefe do Executivo foi de “firmeza e serenidade” no debate sobre as tarifas. Neste sentido, o presidente determinou que o governo negocie tais tarifas, mas rejeitou qualquer debate que envolva a soberania nacional, interferência às instituições brasileiras e decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com interlocutores, a gestão federal quer negociar as tarifas, mas, caso não avance tal negociação, vai adotar a Lei da Reciprocidade. Lula assinou ontem o decreto que regulamenta as mudanças, e o texto será publicado nesta terça, 15, no “Diário Oficial da União”. Já sancionada por Lula a Lei de Reciprocidade facilita a aplicação de tarifas sobre exportações realizadas por outros países para o Brasil e a suspensão de concessões comerciais. Mas alguns pontos estavam pendentes de regulamentação.

Ontem, em sua conta no X, o subsecretário de Diplomacia Pública dos Estados Unidos, Darren Beattie, endossou a carta em que Trump anunciou a tarifa. Beattie chamou o Supremo Tribunal Federal (STF) de “Suprema Corte de Moraes”, em referência ao ministro Alexandre de Moraes, e diz que Lula e o STF “atacam Jair Bolsonaro, a liberdade de expressão e o comércio americano”. “As declarações do presidente Trump são claras. Estaremos observando atentamente.”