Em um momento em que economistas estimam o prejuízo com o tarifaço promovido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra o Brasil, a atividade econômica dá sinais mais firmes de esfriamento. De um lado, o quadro é afetado pelo nível elevado dos juros, mas, por outro, há os estímulos fiscais do governo. Conhecido como “prévia do PIB do Banco Central”, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) recuou 0,74% em maio ante abril, já feito o ajuste sazonal. Foi a primeira queda do indicador no ano, veio abaixo do piso de estimativas do Valor Data e disparou as revisões de projeção para o crescimento.
A Oxford Economics cortou sua estimativa de expansão do PIB em 2025 de 2,5% para 2,2%. O ABC Brasil revisou de 2,5% para 2,3%. A XP Investimentos tem viés negativo para a sua projeção, de 2,5% – a taxa de Trump de 50% poderia tirar até 0,3 ponto percentual do PIB neste ano. A Buysidebrazil prevê alta de 2,3%, mas calcula que as tarifas podem impactar em 30% as exportações aos EUA. Nesse cenário, a economia brasileira teria impacto de até 0,6 ponto percentual no PIB em 12 meses, com a maior parte ocorrendo em 2026.
Para Daniel Xavier, do ABC Brasil, o IBC-Br deve ser bem-recebido pelo Banco Central, já que se aproximou de seu cenário, que aponta alta de 2,1% neste ano, ao mesmo tempo em que mostrou arrefecimento em setores cíclicos. A autoridade monetária promoveu um longo ciclo de elevação dos juros, que levou a taxa básica a 15% anuais em junho, para esfriar a economia e, assim, baixar a inflação. Rodolfo Margato, da XP, diz que o mercado de trabalho e medidas de estímulo do governo, que ainda não se refletiram nos dados, podem evitar uma reversão brusca na economia.
O mercado de trabalho de serviços – cerca de 70% do emprego formal – já dá sinais de arrefecimento contínuo. Pelo 5º mês seguido, o ritmo de demissões foi maior que o de admissões, na série acumulada em 12 meses do Caged. Para Janaína Feijó, da FGV, os dados indicam desaceleração da atividade no setor.