A Paris Plage, balneário organizado às margens do rio Sena, em Paris, durante o verão, tem uma vibração diferente neste ano. Com espreguiçadeiras, areia e samba, os visitantes se deixam levar pela imaginação de uma orla brasileira, quando se celebra 200 anos da relação Brasil-França.
É nesse clima, com a previsão de recorrência de 40 graus, como ocorreu na última semana, que a marca de moda carioca Haight abriu uma loja temporária na sexta-feira (11), que seguirá em operação até o dia 2 de setembro, na famosa Galeries Lafayette.
A grife, que completa uma década com roupa de praia minimalista, modelagem conceitual e materiais nada usuais, elegeu 2025 como o ano da internacionalização, com a construção de um plano de marketing para o mercado europeu. “Até aqui a gente exportava um produto. Daqui para frente, vamos construir a marca Haight na Europa porque o que acontece no verão europeu impacta todos os demais mercados, incluindo os Estados Unidos, onde já estamos, o Oriente Médio e o Brasil”, diz Marcella Franklin, sócia-fundadora da marca.
Com seis lojas no Brasil, três no Rio e três em São Paulo (sendo uma dentro do condomínio de luxo Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz, no interior de São Paulo), a Haight faturou R$ 26 milhões no ano passado. Do total, 10% foram provenientes das exportações.
Com a entrada no mercado europeu, a expectativa de Franklin é chegar a R$ 30 milhões, “não só pelas exportações”, mas também pelo impacto que a presença na Europa pode ter nas vendas no mercado brasileiro.”
“A presença de jovens marcas brasileiras, como a Haight [na França] é estratégica para a difusão e consolidação de uma visão mais abrangente da nova moda praia ‘Made in Brazil”, diz Paula Aciolli, pesquisadora e analista de moda. Segundo Aciolli, a Haight é conhecida por seu minimalismo chique, seu foco na atemporalidade.
A moda praia brasileira de luxo vem sendo valorizada no exterior em função de marcas nacionais, notadamente cariocas, como “a BumBum, Blue Man, Riggy e sobretudo Salinas e Lenny, que foram precursoras de designs icônicos, uso de formas, estampas, cores e estilos”, diz a pesquisadora.
Este é justamente o curioso diferencial da Haight, com cores sóbrias e nada de estampas. “Nossa brasilidade está exatamente em peças que refletem o comportamento da carioca, que vão da praia para o restaurante, dali para uma roda de samba ou uma festa”, diz Franklin. Na Galeries Lafayette estão em exibição peças clássicas da grife como o maiô Maria.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o movimento de moda praia e “fitness” no Brasil cresceu 3,87% em 2024, quando o mercado vendeu 219,9 milhões de peças, frente a 211,7 milhões de unidades em 2023. Em valores, no entanto, as vendas recuaram 1,57% no período, para R$ 1,59 bilhão.
Em relação ao mercado externo, de janeiro a junho deste ano, o país exportou o equivalente a US$ 5,3 milhões, sendo que US$ 2 milhões foram para os Estados Unidos. A França é o quarto país no ranking a importar a moda praia brasileira, atrás de Portugal e Espanha.
“Mesmo num cenário de guerras, temos muitas oportunidades pela frente, como o acordo Mercosul com a União Europeia que vai zerar o imposto de importação de 12%, melhorando nossa competitividade”, avalia Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da Abit. Ao analisar o plano do presidente dos EUA, Donald Trump, de taxar em 50% produtos brasileiros importados pelos EUA, Pimentel disse: “Não podemos considerar 50% como taxação. É mais um embargo, e a se manter será devastador para o setor têxtil e de vestimentas de forma geral. ”O executivo acrescentou que o setor conseguiu elevar as exportações para os EUA em 15% no primeiro semestre de 2025 comparado a um ano antes.
“As tarifas anunciadas não trazem impacto para a Europa. Em relação aos Estados Unidos, ainda estamos avaliando e no aguardo de eventuais novos desdobramentos”, disse a gerente de operação global da Haight, Tamis Cunha.
Há quase um ano, o grupo Shoulder, dono das marcas de moda feminina Shoulder e masculina Oriba, assinou um acordo de aquisição de 40% da Haight, que tem como sócios Franklin e Philippe Perdigão. A incorporação total está prevista para 18 meses. “Até aqui, tudo era feito de forma mais lenta, reinvestindo no próprio negócio. Agora, vamos poder acelerar tudo o que prevíamos”, diz Franklin, que, pelo acordo com a Shoulder, mantém a independência criativa e de produção. Nas fábricas terceirizadas no Rio, a marca produz roupa de praia, as linhas em tecido plano e tricôs.
A Haight está com a mesma agência de “branding” que trabalhou para as marcas Havaianas e Melissa no continente, a Bastille Rev. Até aqui, a marca exportava a partir do showroom 52, em Nova York, que acessava outros destinos de luxo importantes para a marca como Dubai. Roge Hanlon, a criadora do showroom, já representou outras marcas nacionais de moda praia no exterior como Lenny Niemeyer e Salinas. A Haight também é vendida na Zalando, Revolve, FRDW, Goop, Moda Operandi, Antropologie, Ssense, Ounass e Bloomingdales Dubai com tíquete médio de US$ 300.