Chinesa é a terceira maior credora da empresa brasileira
Por Adriana Mattos, Valor — São Paulo
10/07/2025 12h46 Atualizado há 51 minutos
A plataforma on-line chinesa Shein fechou diferentes operações de crédito para a Coteminas, com e sem garantias, segundo a lista de credores de uma das empresas da companhia têxtil, que somam R$ 108,8 milhões, em valores já convertidos no plano de recuperação judicial da indústria brasileira.
Trata-se da única operação dos chineses nesses moldes no mundo, já que a Shein não empresta dinheiro a companhias que não fazem parte do grupo.
A soma total supera dívidas de bancos como Bradesco, Itaú, Safra e Daycoval, e ao se considerar as dívidas de dentro e fora da recuperação judicial, trata-se da terceira maior do grupo, inferior apenas a do Banco do Brasil e do fundo de investimento Odernes.
A empresa recorreu aos chineses para conseguir capital de giro cerca de um ano antes de pedir proteção na Justiça.
Os acordos foram fechados com a Companhia Tecidos Santanense, fabricante de uniformes controlada pela Coteminas. Pela lista anexada pela Santanense na ação de recuperação judicial da fabricante, R$ 25,3 milhões foram fechados sem garantias (dívidas quirografárias) e quase R$ 32 milhões com garantia real das ações da Santanense.
O restante (R$ 51,8 milhões) refere-se a dívidas não sujeitas ao processo de recuperação.
Operações que envolvem alienação fiduciária de ações ficam fora de recuperações judiciais, como determina a lei que rege o tema, de 2005. Transações feitas em qualquer outra condição entram no plano.
Quando o acordo foi concluído, no segundo semestre de 2023, havia expectativa de que a Coteminas fizesse parte de uma parceria para produção de roupas para a Shein, algo que nunca avançou porque a empresa já enfrentava crise financeira naquele ano.
Em abril de 2023, o acordo chegou a ser celebrado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pelo potencial de geração de renda, após uma reunião em abril entre Josué Gomes — filho de José Alencar, ex-vice presidente nas primeiras gestões de Lula— e Marcelo Claure, principal executivo da Shein no Brasil na época.
O acordo da Shein com a Coteminas, presidida por Gomes, foi feito através da empresa Top Fashion Business Co. Limited, o registro da empresa no país no momento da operação que buscava injetar dinheiro na companhia.
MMartan comprometida
Paralelo a isso, o fundo de investimento em participações (FIP) Odernes, que tem R$ 180 milhões em mãos em debêntures da Ammo Varejo, empresa também do grupo, ficou de fora da recuperação por ter alienação fiduciária com garantia em ações da Ammo, formada pelas marcas Artex, MMartan, Casa Moysés e Persono.
Em 2023, quando a transação entre as partes se tornou pública, o fundo era gerido pela Farallon.
Na época, os desentendimentos entre Gomes e o FIP Odernes foram determinantes para o pedido de proteção judicial da Coteminas. No centro da questão estavam transferências de recursos do caixa da Ammo Varejo para a sua controladora, a Coteminas S.A., algo que o contrato entre as partes proibia.
Cláusula da escritura de emissão de debêntures, de maio de 2022, definia que, caso houvesse migração de recursos entre partes relacionadas após a emissão dos títulos, os debenturistas poderiam pedir o vencimento antecipado de toda a dívida. Foi isso que levou ao desentendimento naquele período, e acelerou a recuperação da empresa já com problemas financeiros ao longo de 2023.
As partes entraram em acordo, segundo anexo no processo de recuperação, na Justiça de Belo Horizonte (MG). O acordo envolve a aquisição da marca MMartan, avaliada em R$ 72,8 milhões.
Haverá um processo competitivo da marca, sem data ainda prevista, e qualquer valor obtido com isso será transferido ao fundo, até o limite a pagar aos debenturistas. O fundo terá direito de preferência na compra, podendo apresentar lance igual ao de um terceiro interessado (chamado “stalking horse”).
Isso deve levar à transferência da marca MMartan aos debenturistas, num negócio avaliado em pouco mais de R$ 70 milhões, segundo anexo na ação judicial. O negócio ficou fora do conjunto de eventuais ativos que poderiam ser vendidos para o grupo quitar os credores.
Shein, Odernes e Coteminas não comentam o assunto.
Coteminas — Foto: Carol Carquejeiro/Valor