Ideia é elevar ou pelo menos manter fatia na cesta do consumidor; com juro alto, porém, varejo é seletivo
Por Adriana Mattos — De São Paulo
04/07/2025 05h00 Atualizado há 7 horas
A indústria de consumo aumentou neste ano o lançamento de produtos mais baratos para tentar elevar ou, pelo menos, manter a participação de suas marcas na cesta de compras dos consumidores. De janeiro até a metade de maio, houve um saldo positivo de 2,5 mil itens entre produtos lançados e descontinuados, um salto de 65% em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com levantamento da empresa de pesquisas NielsenIQ (NIQ).
Essa estratégia, porém, criou um complicador: como o comércio cortou estoques neste ano, por causa do aumento do custo do capital, aumentou a importância de apostar no produto certo. A questão é que mais da metade dos lançamentos da indústria no mundo, historicamente, não vai bem, com vendas em queda ou sendo retirados das gôndolas até o segundo ano de vida. Apenas um terço dos novos produtos sobrevive a esse intervalo de tempo, segundo a empresa de pesquisas Kantar.
“O varejista quer pôr na loja o que realmente gira, porque ele não pode ficar com produto parado no estoque com os juros em 15% ao ano. Então, os lançamentos estão vindo em volume maior do que no ano passado, só que a loja tem hoje menos espaço para errar”, afirma Gabriel Fagundes, diretor da NIQ.
De janeiro a meados de maio, foram 39,5 mil lançamentos. Do total de produtos mais básicos da cesta de compras, 34% foram de itens com preços baixos, de até R$ 12. É um percentual relevante, considerando que, para produtos já vendidos regularmente, o peso dos itens mais baratos no total é menor – 27% custam até R$ 12. Além disso, 30% dos lançamentos de categorias básicas neste ano foram de produtos com preços abaixo da média do mercado – no mesmo intervalo de 2024 eles eram 27%.
Para Fagundes, o básico ganha relevância em períodos de aumento na inflação de alimentos, mesmo com a desaceleração recente na alta desses produtos, por causa da estabilização dos preços em níveis elevados.
Os consumidores continuam em busca de alternativas, num cenário de orçamento apertado. Segundo o consultor Ricardo Pastore, professor da ESPM, o avanço do atacarejo no país também fortaleceu o aumento dos lançamentos de básicos mais baratos. Cerca de metade do faturamento do mercado alimentar no país está no atacarejo, muito forte nesse tipo de produto.