Austin Kleon, autor do bestseller “Roube Como Um Artista”, escreveu sabiamente: “nessa era de abundância e sobrecarga de informação, aqueles que estarão à frente serão os que souberem o que deixar de fora, para assim se concentrar no que realmente importa.” Vivemos um tempo que nos incentiva a falar demais e a ter opinião sobre tudo. Ao mesmo tempo, emerge um paradoxo: nunca se produziu tanto conteúdo — e nunca se consumiu tão pouco, de fato.
Segundo Eric Schmidt, ex-CEO do Google, a cada dois dias geramos um volume de dados equivalente a tudo que produzimos do início da civilização até 2003. Uma pesquisa mostra que 73% dos vídeos no Reddit recebem votos (positivos ou negativos) mesmo sem terem sido assistidos. Estamos em um teatro de reações superficiais.
Nesse cenário, a confiança nas fontes de informação se fragmenta. O Relatório de Mídia Digital do Instituto Reuters de 2024 aponta que 47% dos brasileiros evitam consumir notícias — por cansaço ou por desconfiança. E mesmo entre os que acompanham, 51% o fazem exclusivamente via redes sociais como WhatsApp e Instagram. Há também um problema crítico de discernimento: o Brasil está entre os países com maior dificuldade em identificar o que é verdadeiro ou falso na internet.
Como profissional de reputação que sou – há mais de 25 anos -, tenho andado obcecada por esses dados. Elenco, aqui, 3 desafios das agências de comunicação contemporâneas:
1- Construir conversas transformadoras e relevantes num cenário em que as pessoas dizem gostar ou desgostar de algo sem ao menos acessar o conteúdo.
2- Liderar as narrativas jornalísticas ciente de que quase metade dos brasileiros afirma evitar notícias.
3- Controlar mensagens num mundo em que todos opinam, poucos discernem e quase ninguém aprofunda.
Muitas vezes, não há interesse para além das informações no feed dos veículos nas redes sociais. Isso mesmo: mais de 72% dos leitores nem clicam no link do título para buscar saber mais. De acordo com a mesma pesquisa do Instituto Reuters citada acima, os vídeos curtos se tornam a principal fonte de informação dos jovens do mundo e 60% dos brasileiros usam vídeos curtos como fonte de notícias semanalmente.
E ainda assim, nessa avalanche de “clickbaits” e desinformação, marcas e pessoas acreditam que precisam opinar sobre tudo, ainda que despreparados. Como bem disse Jorge Grimberg, jornalista e especialista em tendências, “é preciso respeitar as palavras para que nossa voz tenha valor. Para que quando a gente abra boca, não contribua para o barulho, e sim seja uma voz que faça a diferença e realmente tenha um pensamento crítico por trás. Só conseguimos fazer isso no silêncio.”
Acredito que as marcas precisam sair da disputa por atenção a qualquer custo, desenhar melhor sua jornada reputacional e escolher as narrativas mais relevantes e alinhadas aos seus valores. Parece fácil ou até mesmo óbvio demais, porém o que mais se vê em nosso mercado são as marcas caindo em armadilhas de atenção instantânea ou ficando paralisadas, por medo de errar na abordagem. Respeitar a jornada reputacional desenhada, usar a criatividade para participar das conversas certas, no timing correto e com mais profundidade pode ser a estratégia mais poderosa para gerar conexões fortes e vencer a irrelevância em um mundo saturado de informação.
“Eu só vou falar na hora de falar, então eu escuto”, já diriam os Secos & Molhados, em 1973.
Daniela Graicar é Co-CEO da PROS