Veículo: Valor Econômico
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Data: 30/06/2025

Editoria: L-Founders, Zara
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Zara aos 50: conseguirá a maior marca de moda do mundo manter seu apelo?

CEO da Inditex, controladora da Zara, vê muito mais espaço para crescimento, apesar da desaceleração nas vendas
Por Barney Jopson, Valor — Financial Times, de Madri
29/06/2025 11h56 Atualizado há um dia

Visão interna de uma loja da ZaraVisão interna de uma loja da Zara — Foto: Divulgação

A controladora da Zara insiste que ela pode continuar jovem mesmo entrando na meia-idade, com a maior marca de moda do mundo chegando aos 50 anos enfrentando um crescimento mais lento nas vendas, disputas comerciais e guerras generalizadas.

Apesar de dúvidas do mercado, que reduziram seu valor de mercado em quase 40 bilhões de euros desde dezembro, Óscar García Maceiras, executivo-chefe da Inditex, disse ao “Financial Times” que a companhia poderá continuar crescendo por meio da abordagem “seletiva” da Zara na expansão de lojas.

“Nunca adotamos a dinâmica de anunciar planos de triplicar o número de lojas em X anos, ou dobrar o balanço”, disse ele. “É projeto por projeto.”

No ano passado, a Zara entrou no Uzbequistão, seu 97º país, e no ano que vem abrirá uma loja na Carolina do Norte, seu 26º Estado americano. García Maceiras, que assumiu em 2022, disse que há espaço até mesmo para aumentar as vendas na Espanha — seu mercado mais maduro —, substituindo lojas da Zara menores e antigas por pontos de venda maiores e ma

O chefe da Inditex também identificou território virgem para as marcas menores que o grupo adquiriu ou criou na década de 90 — como Massimo Dutti, Berksha e Pull&Bear —, mas que só recentemente se lançaram em alguns mercados importantes.

A indústria da moda, no entanto, está passando por um momento difícil. A frágil confiança do consumidor está sendo abalada pelas guerras comerciais e conflitos armados, exacerbando uma pressão de longo prazo: a tendência dos consumidores de gastar mais com experiências e menos com roupas.

A Inditex liderou a recuperação do setor após a pandemia, mas o crescimento de suas vendas vem perdendo força desde então, caindo para 1,5% no primeiro trimestre deste ano — embora as oscilações cambiais tenham jogado contra.

García Maceiras disse: “Em certos momentos, ou durante campanhas específicas, o crescimento pode ser mais rápido e, em outros, um pouco mais moderado. Mas continuamos extremamente confiantes de que as capacidades de nossas equipes e do nosso modelo continuarão funcionando e que continuaremos vendo uma evolução positiva”.

O CEO é uma figura metódica e impassível, que não se encaixa claramente no mundo da moda. Na verdade, antes de ingressar na Inditex, ele galgou a hierarquia corporativa de bancos espanhóis, incluindo uma passagem como consultor jurídico geral no Santander.

García Maceiras, que faz 50 anos em outubro, declarou que ele a Zara “são ambos da safra de 1975”, referindo-se ao ano em que o bilionário fundador da Inditex Amancio Ortega abriu a primeira loja da Zara em La Coruña, noroeste da Espanha. A filha de Ortega, Marta, é hoje presidente do conselho de administração da Inditex.

A Espanha continua sendo o maior mercado da Inditex, com mais de 1.000 lojas, respondendo por 15% das vendas. Os EUA ocupam o segundo lugar em receitas, apesar de a Inditex operar apenas 100 lojas no país. A Rússia era seu segundo mercado até a empresa vender seus negócios no país em razão da guerra na Ucrânia.

O sucesso da Zara se baseia na velocidade de sua cadeia de abastecimento. Quase metade de seus produtos são provenientes dos chamados países de proximidade, especialmente Espanha, Portugal, Turquia e Marrocos.

Isso se soma a uma capacidade “forense” de determinar e processar o que os consumidores querem em termos de cores, tecidos e estilos, diz Richard Hyman, sócio da Aria Intelligent Solutions, um grupo de consultoria de varejo.

No fim das contas, isso significa que a Inditex consegue desenhar novos modelos inspirados nas passarelas e colocá-los nas lojas em apenas três semanas. Todas as peças passam obrigatoriamente pelos centros de distribuição da empresa na Espanha, ou por um centro na Holanda, mas García Maceiras disse que as lojas mantêm seu sortimento sempre renovado graças às entregas de novos lotes duas vezes por semana.

O modelo da Inditex ajudou o grupo a prosperar apesar da forte concorrência de marcas como Mango, Primark e Shein. O lucro líquido da Inditex cresceu 9% para 5,9 bilhões de euros no ano passado.

Embora tenha reduzido o número total de lojas de 7.500 para 5.500 desde 2019, a área total ocupada por suas unidades aumentou, pois a rede vem fechando lojas menores e concentrando-se em espaços maiores e mais eficientes. Essas lojas também geram vendas significativamente mais altas por metro quadrado. Desde 2021, cerca de um quarto de suas vendas é feito on-line.

“Com a Inditex entrando na meia-idade, ela está ultrapassada? De jeito nenhum”, diz Hyman. “Acho que ela está amadurecendo bem. Mas, aos 50, fica mais difícil repetir os mesmos números de crescimento de anos atrás.”

Além disso, o mercado da moda atual é desafiador até mesmo para os melhores operadores. “Quando a demanda está fraca há uma retração na inovação porque as empresas tentam proteger seus resultados”, afirma Hyman. “A Inditex é tão inovadora hoje quanto era há cinco anos? Talvez não. É o mercado como um todo que está menos inovador? Sim.”

García Maceiras afirmou que a sensação predominante de turbulência econômica poderá desencorajar os consumidores a fazer grandes compras — “como comprar uma casa ou trocar de carro”. Mas ele disse que os clientes continuam dispostos a comprar vestidos de festa e blusas de praia, desde que um indicador-chave — a taxa de desemprego — não esteja subindo.

Ele disse que desde a pandemia a taxa de desemprego tem se mantido “muito estável na maioria de nossos mercados”. García Maceiras também demonstrou tranquilidade em relação ao impacto da guerra comercial global desencadeada pela onda de tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump — principalmente porque a Inditex obtém grande parte de seus produtos da Turquia e do Marrocos, países sujeitos a tarifas mais baixas do que China, Vietnã e Bangladesh.

Seu argumento para que os investidores continuem confiando nas vendas da empresa é que o varejo de moda ainda é muito fragmentado. Isso significa que, mesmo sendo um gigante, a Inditex ainda detém uma fatia muito pequena do mercado, o que lhe dá espaço para continuar crescendo.

Por exemplo, a Oysho, uma rede de propriedade da Inditex que migrou das lingeries para a moda casual, entrou no Reino Unido apenas em 2023, enquanto a Bershka, que busca ser mais ousada e jovem, abriu sua primeira loja na Índia este ano.

Mas Simon Irwin, analista de varejo da Tanyard Advisory, questiona se as redes menores da Inditex possuem identidades suficientemente fortes. “Todo mundo sabe o que é a Zara. Mas Bershka, Stradivarius, Pull&Bear — elas são realmente tão diferentes?”

A Zara continua sendo a força motriz do grupo. García Maceiras se entusiasmou com os interiores elegantes e os cafés que estão sendo introduzidos nas lojas mais novas da rede.

Irwin diz que as reformas das lojas da Zara deram à empresa um “enorme impulso” nas vendas por metro quadrado. “Mas a questão é que não dá para continuar apostando nesse jogo para sempre. A densidade de vendas tem um pico natural, seja qual for a empresa”, disse ele. “Em algum momento, para continuar crescendo, será preciso expandir as vendas on-line ou aumentar o número de lojas.

Não se trata de uma crise da meia-idade para a Inditex. Mas para evitar a estagnação, um novo ímpeto certamente cairia bem.