O grupo LVMH, dono de marcas como Louis Vuitton, Dior, Tiffany & Co. e Bulgari, enfrenta a maior crise de sua trajetória. Na assembleia geral anual, os resultados confirmaram um cenário preocupante: mais de 120 bilhões de euros evaporaram do valor de mercado do conglomerado, que perdeu o posto de empresa mais valiosa da França. A queda reflete um abalo profundo não apenas na LVMH, mas em todo o setor de moda de luxo, que enfrenta retração em várias frentes.

Além do impacto direto nos negócios, a fortuna do CEO Bernard Arnault sofreu uma redução significativa, com uma perda estimada de US$ 54 bilhões em seu patrimônio líquido. Ainda assim, o executivo não demonstra intenção de deixar o comando da empresa, sobretudo após a recente aprovação do conselho para aumentar a idade limite para a presidência de 75 para 80 anos.
Mercado de luxo sofre pressão global
O desaquecimento no mercado de luxo atinge outros grupos além da LVMH. A Kering, dona de marcas como Gucci, Saint Laurent, Bottega Veneta e Balenciaga, também passa por um momento difícil. Entre os fatores que pressionam o setor estão a redução do consumo por parte dos compradores chineses e as tarifas comerciais impostas nos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump.
No entanto, analistas apontam que o principal motivo da crise da LVMH está em sua própria estratégia. Segundo a NSS Magazine, a insistência de Arnault em aquisições consideradas desnecessárias, o investimento pulverizado em setores como moda, beleza, hospitalidade e gastronomia e a ausência de um plano de gestão claro têm gerado insegurança no mercado.
Dior perde força e enfrenta denúncias
Entre os impactos mais visíveis está a perda de relevância da Dior, uma das joias da coroa do grupo LVMH. A marca, fundada em 1946, enfrenta críticas após sucessivos aumentos de preços, que afastaram consumidores, e denúncias sobre uso de mão de obra irregular na Itália como forma de cortar custos.
A chegada do estilista Jonathan Anderson como novo diretor criativo foi recebida como um sinal de renovação. Sua primeira campanha, estrelada por Kylian Mbappé e divulgada em 24 de junho, marca o início de um novo ciclo para a maison. Ainda assim, especialistas ponderam que o desafio de reverter os danos é grande.
Burberry anuncia corte de 1.700 vagas
Em maio, a Burberry anunciou uma ampla reestruturação que inclui o corte de cerca de 1.700 postos de trabalho em todo o mundo até 2027. A medida busca conter gastos após a marca registrar um prejuízo de 66 milhões de libras (quase R$ 500 milhões) no último ano fiscal.
A maior parte das demissões deve atingir os escritórios centrais da marca, com foco na sede em Londres. Atualmente, a Burberry emprega cerca de 9.300 pessoas globalmente. Segundo o CEO Joshua Schulman, os cortes são uma resposta direta ao cenário econômico desafiador que afeta a moda de luxo no mundo todo.
Hermès se destaca e ultrapassa LVMH em valor de mercado
Na contramão da crise, a Hermès conseguiu um feito inédito: ultrapassou o valor de mercado da LVMH. Com foco em qualidade, criatividade e tradição, a grife francesa manteve crescimento em praticamente todas as suas categorias, com exceção dos relógios.
Artigos de couro, vestuário, joias, acessórios e itens para casa apresentaram desempenho positivo, impulsionando os resultados da companhia. Como forma de reconhecimento, a empresa distribuiu um bônus de cerca de US$ 4.700 a cada um de seus 25 mil funcionários ao fim de 2024, reforçando seu compromisso com a equipe em meio a um cenário instável no setor.