Veículo: O Globo
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Data: 26/06/2025

Editoria: L-Founders, Pão de Açúcar
Assuntos:

GPA vai reformar lojas Pão de Açúcar para criar ‘circuito premium’ de olho na classe A

26/06/2025 10h00  Atualizado agora

O GPA está reformando 11 unidades do Pão de Açúcar em São Paulo e no Rio para criar o que o CEO Marcelo Pimentel chama de “circuito premium”. Além do banho de loja, o conceito prevê uma maior oferta de produtos importados e perecíveis e a volta de consultores especialistas em categorias como queijos e vinhos. O objetivo é aumentar a penetração na clientela de alta renda, que já é um público prioritário para a marca e cujo apetite de consumo é menos vulnerável à conjuntura de juros elevados que pune o varejo.

Batizado de Pão Premium, o novo modelo é descrito por Pimentel como um novo passo no plano de reestruturação que, nos últimos anos, envolveu, entre outros movimentos, a venda bilionária de hipermercados da marca Extra (da qual o GPA é dono) ao Assaí — “atacarejo” que foi cindido do grupo —, além da venda de postos de gasolina e até de sua própria sede administrativa.

O plano se dá no mesmo momento em que o grupo francês Casino, que controlava o negócio desde 2012, diminui sua fatia no GPA. O Pão Premium também sucede a outros formatos lançados nos últimos anos pelo grupo, como o Minuto Pão de Açúcar (de proximidade) e o Fresh (hortifruti de bairro).

— Isso tudo aconteceu nos primeiros três anos do “turnaround”. Mas aprovamos o planejamento estratégico para o próximo triênio, até 2027, e, após retomarmos nossa performance, decidimos dar o próximo passo. O objetivo desse circuito é buscar o “algo além” em termos de sortimento, para ter uma oferta ainda mais “premium” do que o GPA costuma oferecer e atrair um consumidor com orçamento discricionário maior — disse Pimentel em entrevista à coluna.

Desafio no balanço

 

A companhia não revela o valor do investimento. Inicialmente, o GPA escolheu para reformar e incluir no “circuito” dez lojas em São Paulo e uma no Rio — a da Rua José Linhares, no Leblon —, as quais Pimentel classifica de “formadoras de opinião”. Parte delas já foi reformada, mas a expectativa é que todas da lista sejam renovadas até o fim de julho. (A unidade carioca será reinaugurada com o novo layout amanhã.) Além das 11, uma outra em Campinas (SP) foi inaugurada já com o novo conceito.

— Queremos ir, gradualmente, adicionando outras lojas ao circuito, mas ainda não sabemos quantas serão. Queremos ver primeiro o desempenho. De todo modo, não vemos o Pão Premium implementado em 100% do pátio de lojas do Pão de Açúcar (são quase 200) — explicou.

Apesar da reestruturação, a aposta no novo formato de lojas se dá num momento em que a companhia ainda convive com prejuízos. A perda acumulada em 2024 foi de R$ 2,4 bilhões, 6% maior que o prejuízo do ano anterior. No primeiro trimestre deste ano, o prejuízo líquido foi de R$ 93 milhões, e a alavancagem (relação entre a dívida e a geração de caixa) avançou, incomodando investidores.

O lado meio cheio do copo é que as perdas de um ano antes foram muito maiores (R$ 407 milhões no primeiro trimestre de 2023), e a rentabilidade e as margens aumentaram. Embora o Pão Premium ainda não tenha representatividade no balanço da companhia, a estratégia vai na direção de uma loja que se pretende mais rentável.

— A gente quer que dê resultado no faturamento e nas margens dessas lojas. São unidades que vendem produtos mais premium, mais caros e rentáveis — justificou o CEO.

Treinamento no varejo de luxo

 

As reformas vão reforçar os tons de branco, madeira e verde-oliva da marca dentro das lojas e refizeram as adegas e as áreas de higiene das unidades. Além da volta dos especialistas em vinho e queijo, o GPA também “ressuscitou” no Pão Premium o “especialista do cliente” — uma espécie de ombudsman dos consumidores dentro da loja — e criou a figura do especialista de frutas, legumes e verduras. (A companhia sustenta que a função faz sentido para ajudar os consumidores a descobrir “o produto ideal para cada ocasião, auxiliando sobre o melhor grau de maturação das frutas, legumes e verduras, dependendo do objetivo.”)

Segundo Pimentel, a companhia treinou as equipes dessas lojas em técnicas de hotelaria e varejo de luxo de shopping.

Em termos de sortimento, a companhia vai aumentar o percentual de produtos mais caros e cortes mais nobres: no açougue, itens como pato, codorna e raças britânicas; em pescados, centolha e camarão rosa grande; na padaria, pães artesanais, biscoitos finos e confeitaria gelada; em charcutaria, produtos presenteáveis.

— Essas lojas vão receber um percentual de importação maior, já que esse público viaja mais para o exterior. Começaremos a trazer, por exemplo, categorias de café da manhã americano, maple syrup (xarope de bordo) etc. — observou o CEO.

Marca própria

 

Outra aposta é a marca própria Pão de Açúcar, que foi lançada sem alarde nos últimos meses e ganhará proeminência no Pão Premium, segundo Pimentel. A companhia já trabalhava com marcas próprias como Qualitá e Taeq (voltadas a produtos saudáveis), mas quer concentrar na marca Pão de Açúcar os itens voltados à classe A.

— O foco dessa marca própria é o segmento premium. Fizemos testes cegos e decidimos lançar em categorias que passaram com avaliação no mínimo igual à da concorrência. Serão, inicialmente, 70 produtos, começando por categorias como massas (massas grano duro), molhos de tomate e doce de leite — acrescentou o executivo.