Veículo: Estadão
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Data: 24/06/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Vendas de eletroeletrônicos enfrentam parada brusca após crescimento recorde no ano passado

Depois de atingir crescimento recorde de vendas em 2024, a indústria de eletroeletrônicos projeta uma freada para o primeiro semestre deste ano. A perspectiva é encerrar junho com queda de 1% no número de unidades vendidas, após avanço de 29% em 2024, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).

A mudança de cenário, que surpreendeu os fabricantes de eletroeletrônicos, pode se agravar por conta da entrada dos Estados Unidos na guerra contra o Irã, alerta ao Estadão o presidente da Eletros, José Jorge Nascimento Jr.

O desdobramento poderá se traduzir em elevação de custos e de preços dos produtos em razão da alta do petróleo e da perspectiva de aumento do dólar, já que muitos componentes usados são importados.

“Estamos muito preocupados de não ter a recuperação no segundo semestre, por vários motivos, e esse cenário de guerra, de instabilidade global que pode agravar as condições econômicas do País e até mesmo de política industrial”, afirma o presidente da Eletros

O segundo semestre normalmente é o melhor período de vendas para o setor em razão das datas comerciais importantes, como Black Friday e Natal.

José Jorge do Nascimento Jr., presidente executivo da Eletros, diz que o quadro poderá se agravar com eventual disparada de petróleo e câmbio
José Jorge do Nascimento Jr., presidente executivo da Eletros, diz que o quadro poderá se agravar com eventual disparada de petróleo e câmbio Foto: Felipe Rau/Estadão

A mudança de cenário de consumo ocorre em meio à 18ª edição da principal feira do setor, a Eletrolar Show, que ocorre entre esta segunda, 23, e quinta-feira, 26, no Distrito Anhembi, em São Paulo.

Eletroportáteis chineses

A virada no desempenho das vendas industriais do setor, que apareceu no primeiro trimestre deste ano, foi provocada pelos eletroportáteis. Esses itens respondem pela maior fatia dos volumes comercializados (66%).

As vendas dos eletroportáteis, que são produtos de menor valor e menos dependentes de crédito, caíram 6% em relação a igual período de 2024. “Há acúmulo de estoques no varejo”, observa Nascimento Jr.

Segundo o executivo, depois da guerra tarifária decretada pelo presidente dos Estados os Unidos Donald Trump, a China buscou novos mercados. Com isso, houve uma grande entrada de eletroportáteis importados, vendidos por meio do comércio eletrônico e canais informais.

Além disso, há concorrência desleal de itens importados, que chegam ao mercado nacional sem atender às normas obrigatórias de eficiência energética, segurança e desempenho, frisa o executivo.

A elevada taxa básica de juros, hoje em 15% ao ano, e o cenário de cautela nas compras imposto ao consumidor, que no momento está dando prioridade às despesas do a dia a dia, afetadas pela alta dos alimentos, prejudicaram a comercialização de produtos dependentes de crédito, na análise da Eletros.

As vendas de geladeiras, fogões e lavadoras, a chamada linha branca, por exemplo, avançaram apenas 1% no primeiro trimestre, e os volumes comercializados de TVs ficaram praticamente estáveis, com alta de apenas 0,3%, segundo a entidade.

A perspectiva é de que as vendas de eletroportáteis encerrem o primeiro semestre com recuo de 4%, enquanto TVs e linha branca avancem apenas 1% e 2%, respectivamente.

Até mesmo o segmento de aparelhos de ar-condicionado, que tem andado na contramão do mercado, com crescimento de 21% nas vendas entre janeiro e maio de 2025 ante o mesmo período de 2024, está ameaçado, segundo Nascimento Jr.

A obrigatoriedade imposta pelo governo aos fabricantes de aparelhos de ar-condicionado de comprar 15% dos compressores no mercado nacional, produzidos por uma única indústria, tem dificultado a produção local.

Segundo Nascimento, diante da grande demanda, esse fabricante nacional não tem volumes suficientes para atender aos pedidos.

Contratações interrompidas

A reversão nas vendas de eletroeletrônicos já começa a ter os primeiros impactos na indústria. “Temos relatos de empresas do setor de ar-condicionado, linha branca e de eletroportáteis que pararam processos de admissões”, conta Nascimento Jr. No momento, a indústria emprega diretamente 250 mil trabalhadores.

“Havia uma possibilidade de aumento no número de empregos, considerando o crescimento do consumo”, observa o presidente da Eletros, ressaltando que demissões estão descartadas. Ele argumenta que a indústria investe muito na qualificação de trabalhadores. “Demissão é a última coisa que a gente procura fazer.”