Veículo: Valor Econômico - Pipeline
Clique aqui para ler a notícia na fonte
Região:
Estado:
Alcance:

Data: 24/06/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
Assuntos:

José Isaac Peres e a obra torta que ergueu a Multiplan

Se Deus escreve certo por linhas tortas, a vida do empresário José Isaac Peres é “uma obra torta do acaso”, em suas palavras. O fundador da Multiplan relembra a própria trajetória como uma sequência de “casos de acasos” que levaram o homem, hoje aos 84 anos, a se tornar um dos principais nomes do empreendedorismo do Brasil desde os anos 1960.

O primeiro acaso é sua formação. Não é formado em administração de empresas, nem tinha o sonho de empreender. Nascido em Ipanema, Peres queria ser arquiteto. A escassez de projetos apontada por amigos da área afastou o jovem da carreira. Tentou economia e entrou na Escola Nacional de Economia da Universidade do Brasil, hoje UFRJ.

“Na primeira aula, um professor disse: ‘Se vocês vieram para cá para ganhar dinheiro, estão redondamente enganados. Economista ajuda os outros a ganhar dinheiro. Não é um empresário, e sim assessor’”, lembra Peres a convidados em evento privado na Hípica do Rio de Janeiro, na última sexta-feira. No fim, ele acabou sendo mais empresário que economista – e com um patrimônio avaliado em US$ 1,3 bilhão em 2024, segundo a Forbes.

O primeiro empreendimento imobiliário de Peres foi também pelas linhas tortas do destino. Atuando como corretor de imóveis, ganhou dinheiro com a venda de um apartamento no Leblon do amigo Livio Civiletti, italiano que era barman e cantor no Little Club. Os dois decidiram usar o excedente da transação para comprar um terreno na Lapa e fazer a incorporação.

Civiletti pagou a parte dele à vista, enquanto Peres ficou com uma dívida para ser paga em 30 prestaçõs. O jeito foi subir o prédio, para tentar recuperar o capital, num prazo de seis meses. Em novembro de 1963, com as vendas esgotadas, nasceu a Veplan Imobiliária, primeira passo de Peres no empreendedorismo. “E aí comecei minha vida”, diz.

A vida lhe proporcionou alguns “causos”, lembra ele à plateia. Nos anos 1990, em Portugal, um diretor apareceu com um problema: os portugueses não recebiam lojas sem portas, ao contrário do Brasil, onde o espaço é entregue na planta. “Ouvi que o conselho de ministros de Portugal parava para ver novelas brasileiras”, diz. A solução foi contratar a atriz Betty Faria, estrela da novela Tieta, para entregar as chaves das lojas do Cascais Shopping.

Em outro momento, Peres, um declarado fã de óperas, conseguiu negociar a contratação do ícone italiano Luciano Pavarotti para a abertura de um empreendimento em Miami, o Il Villaggio. A inauguração, em 1999, reuniu 200 mil pessoas em frente à praia – e marcou a primeira vez do tenor na cidade. “Isso impulsionou todo o desenvolvimento de South Beach, que hoje é uma coisa fantástica.”

Em 1971, a Veplan, já um dos principais nomes do real estate brasileiro, abriu capital na bolsa do Rio de Janeiro (quando Peres tinha 30 anos de idade). Depois, o carioca fez a fusão com a H.C. Cordeiro Guerra, tornando-se Veplan Residência, que viria a ser responsável pela construção do Shopping Ibirapuera, sua primeira experiência no segmento, inaugurando o modelo de centro comercial com serviços no país. Depois disso, venderia sua participação na Veplan para criar a Multiplan.

Hoje, a Multiplan é o segundo maior grupo de centros comerciais do país – dono de 20 propriedades pelo Brasil, com 890 mil m² de ABL e participação média de 80,7% (6 mil lojas) –, atrás da Allos. Peres ficou no comando do grupo até fevereiro de 2023, quando passou o bastão para o filho, Eduardo Kaminitz Peres.

“O cenário está um pouco mais difícil. Há certa insegurança, mas é preciso se adequar à política. Precisamos deixar as coisas esfriarem para seguir em frente”, aponta o empresário.