Veículo: Folha de S.Paulo
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Data: 09/06/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Não é ‘só’ sobre raça

Alerta de spoiler: O texto a seguir não é “só” sobre raça (rsrsrs).

Brincadeiras à parte, o conteúdo se aplica a uma série de situações inconstitucionais, injustas e inaceitáveis que se repetem cotidianamente no país. Sendo assim, claro que inclui as desigualdades étnico-raciais vigentes nestas terras desde antes de o Brasil ser Brasil.

Entre tantas inconsistências, destaco a resiliência do discurso do mérito desconsiderando as circunstâncias. Refiro-me ao “basta se esforçar para vencer na vida” e a todo o blá blá blá com base em métricas de resultados fundamentadas na lógica do “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.

Pôster produzido por estudante do Colégio Equipe após protesto antirracista no Shopping Higienópolis
Pôster produzido por estudante do Colégio Equipe após protesto antirracista no Shopping Higienópolis – Reprodução

Na realidade, há uma distância monumental separando o direito formal (previsto na norma) do direito material (que se concretiza). E esse é o tipo de coisa que, além de ferir a Constituição, é injusta, imoral, inadequada e, infelizmente, fatal para pessoas negras em muitos casos.

Aposto um doce como todos já ouviram ao menos uma vez na vida a célebre expressão “bandido bom é bandido morto”. Aposto também que poucos já pararam para pensar no complemento “desde que seja negro” implícito na sentença.

O que fez lembrar da imagem da multidão aglomerada em Bangu (RJ) para festejar a libertação de MC Poze, um dos funkeiros mais populares da cena nacional. Parece uma amostragem bem razoável do poder e da força que o povo tem quando se une, como observou a intelectual diferentona Bárbara Carine em rede social.

Para além das “minudências” que constituem esse caso concreto, e muito longe de qualquer apologia do crime, a quantidade de cidadãos brasileiros com vivência suficiente para se solidarizar com a dor de um homem negro humilhado em público e preso por agentes do Estado mediante uma acusação genérica é um alerta vermelho.

Não, esse texto não é “só” sobre raça. Este texto é sobre um projeto de nação que criminaliza quem desde sempre foi obrigado a “se virar” com as “lições que aprendeu e as experiências que teve” (minha livre adaptação de versos do MC Poze).