Veículo: Valor Econômico
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Data: 06/06/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Operações de grande porte marcam aquisições no ano

O volume de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) envolvendo ativos brasileiros somou R$ 145,1 bilhões neste ano até 4 de junho, aumento de 50% em relação a igual intervalo do ano passado. No entanto, o crescimento veio do suporte de operações multibilionárias. Em número de transações, houve recuo de 31% na mesma base comparativa, para um total de 255, conforme dados da consultoria Dealogic, que coleta dados globalmente.

Das principais transações do ano, até o momento, estão o anúncio de fusão entre Marfrig e BRF, no setor de proteínas; o acordo de R$ 15 bilhões que a J&F, da família Batista, firmou com a Paper Excellence para a compra da totalidade das ações da Eldorado, após longo litígio; e a proposta da compra das ações da Serena (ex-Omega) por Actis e GIC, por meio de uma oferta pública de aquisição (OPA) da empresa de energias renováveis.

Entre as operações pesos-pesados, está ainda a aquisição, pela CDPQ, das linhas de transmissão da Equatorial, por R$ 10 bilhões.

Segundo banqueiros de investimento, o interesse de estrangeiros no Brasil foi renovado desde o acirramento da guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A questão tem levado empresas e investidores financeiros a colocar na mesa a necessidade de diversificação geográfica. Executivos dos bancos apontam uma maior participação desse público nos processos que estão hoje em discussão, além de um olhar não tão pessimista como os investidores locais.

O corresponsável pela área de fusões e aquisições do Goldman Sachs no Brasil, Pedro Muzzi, afirma que as grandes transações continuam ocorrendo e que os estrangeiros estão ativos nos processos, mostrando-se “menos impactados com questões locais”.

“As transações de companhias de infraestrutura, energia ou recursos naturais tendem sempre a ocorrer, temos visto interesse além desses setores”, afirma.

Os estrangeiros têm se mostrado menos afetados pelo noticiário local, em termos relativos. “Sentimos o investidor estrangeiro menos pessimista com o Brasil do que investidor local’, diz o chefe do banco de investimento do Morgan Stanley no Brasil, Fábio Medeiros. O executivo nota que ainda se vê interesse de investidores chineses no Brasil, inclusive com delegações visitando o país.

Diogo Aragão, responsável pelo pela mesa de M&A do Bank of America no Brasil, diz que a presença dos chineses nas negociações começa a refletir o pano de fundo geopolítico global, inclusive com nomes ainda não presentes no país. Ele também diz que as discussões estão ocorrendo em um ritmo mais acelerado, a despeito de questões macroeconômicas. No entanto, as transações têm levado mais tempo para chegar a um desfecho diante da falta de convicção dos investidores na hora de assinar o cheque.

No geral, a quantidade de mandatos para coordenar as operações tem crescido nos bancos, indicando aquecimento das transações. “O mercado de M&A no segundo trimestre mantém o observado no primeiro trimestre, com bons volumes e ‘pipeline’ [operações em preparação] crescente”, afirma o chefe global pelo banco de investimento do Itaú BBA, Roderick Greenlees.

Sentimos o investidor estrangeiro menos pessimista com o Brasil do que o investidor local”
— Fabio Medeiros

Dentre as empresas de capital aberto, segundo o executivo, há um olhar para dentro de casa com o objetivo de identificar ativos que podem ser vendidos para destravar valor. “Estamos vendo algumas conversas nesse sentido. Mesmo que a venda não seja de 100% do ativo, a ideia é mostrar que existe um valor implícito em um múltiplo muito maior”, diz.

O aumento recente dos volumes financeiros reflete transações que ficaram represadas nos últimos anos. Algumas das conversas são antigas, mas voltaram agora para a mesa, segundo o responsável pela área de M&A do Citi no Brasil, Antonio Coutinho.

Para Thiago Rocha, que comanda fusões e aquisições no Santander Brasil, ao longo do ano outras transações bilionárias tendem a ser anunciadas, mas de forma mais pulverizada. A concentração de negócios vista em maio, diz ele, dificilmente deve se repetir.

No UBS BB, segundo o responsável pelo banco de investimento, Anderson Brito, as comissões advindas da atividade de M&A subiram 15% em relação ao ano passado e o número de mandatos está em curva ascendente. “Vemos um ambiente positivo quando comparamos com o ano passado”, afirma. Segundo ele, os mandatos de mineração e tecnologia estão ajudando a incrementar o pipeline da instituição.

O calendário também pode jogar a favor para que mais transações saiam nos próximos meses.. O responsável pelo banco de investimento do Bradesco BBI, André Moor, afirma que algumas empresas engajaram processos de venda de ativos para não entrar em 2026 com processos de M&A na rua, já que historicamente anos de eleição são mais difíceis.

De acordo com Moor, algumas empresas também colocaram negócios à venda para reduzir seu nível de endividamento diante do longo período de juros altos, enquanto outras decidiram se desfazer de ativos fora da atividade principal para seguir investindo. “O que também tem ajudado tem sido o interesse renovado do estrangeiro desde abril”, afirma.