Veículo: Valor Econômico
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Data: 08/05/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Análise: Copom indica possível alta da Selic em junho e segura apostas no ciclo de baixa

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central passou três mensagens principais sobre os juros no comunicado que detalha sua decisão de subir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 14,75% ao ano.

Primeiro, indica chances de mais um movimento de alta na taxa básica no encontro de junho, de 0,25 ponto percentual, embora numa linguagem flexível o suficiente para adequar a decisão à evolução do cenário econômico.

Segundo, avisa que está vigilante e que, se vier a ser necessário, vai calibrar o grau de contração monetária para garantir a queda da inflação até a meta.

Terceiro, indica que os juros vão ficar bem altos por um bom tempo para, de novo, assegurar que o índice de preços caia até o objetivo de 3% definido pelo governo.

O Copom diz que, para a próxima reunião, o cenário de incerteza e o estágio avançado do ciclo de aperto demandam “cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica da inflação”.

A rigor, não está escrito literalmente que haverá uma nova alta de juros. O Copom diz que a “cautela adicional” se aplica à “atuação da política monetária”. Em março, nesse trecho, o Copom falava em “ciclo de aperto monetário em curso”. Ou seja, a linguagem é vaga o suficiente para permitir uma alta ou uma manutenção dos juros.

Mas, quando fala em “mais cautela”, o Copom usa uma gradação na linguagem que, no passado, foi utilizada quando o comitê desacelerou o ritmo de aperto. Essa expressão passa a ideia de que, depois de 0,5 ponto, o movimento seguinte seria de 0,25 ponto.

A segunda mensagem importante do Copom foi dizer que “se manterá vigilante” e que “a calibragem do aperto monetário apropriado seguirá guiada pelo objetivo de trazer a inflação à meta no horizonte relevante”.

Historicamente, o Banco Central usa a expressão “vigilante” ao final ou na vizinhança do término de ciclos de aperto, em geral para indicar que há riscos de a taxa Selic subir no futuro. É uma forma de evitar que, ao final de um ciclo de aperto, o mercado financeiro precifique apenas o risco de queda da Selic.

Na situação atual, a mensagem de vigilância faz mais sentido porque o Copom disse que o cenário inflacionário tem “caudas grossas” – ou seja, riscos relevantes de a inflação ficar tanto abaixo da meta quanto acima dela.

Os riscos estão descritos pelo BC no comunicado, mas o destaque é o tarifaço de Trump e a execução da política fiscal dentro do Brasil. Nesse segundo caso, a preocupação, em particular, é com a possível adoção de medidas de estímulo econômico pelo governo.

A terceira mensagem sobre os juros é uma clara tentativa de segurar as apostas do mercado em cortes, agora que o ciclo de alta caminha para o fim, se não houver surpresas.

O Copom diz que o cenário inflacionário “prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta”.

No conjunto das três mensagens, o Copom está mantendo sua linguagem conservadora na política monetária, embora haja sinais de que o cenário para a inflação tenha melhorado – ainda que de forma insuficiente para colocá-la na meta.

O Copom mira agora colocar a inflação, que roda em 5,5%, na meta de 3% no fim de 2026. Sua projeção de inflação para o próximo ano melhorou muito marginalmente, de 3,7% para 3,6%, e segue bem acima do objetivo.

Sua projeção para 2025 melhorou um pouco mais, recuando de 5,1% para 4,8%, provavelmente por causa da queda do dólar. No horizonte mais longo, esse efeito positivo da moeda se dissipa. O fato de a projeção para 2026 não ter caído é um sinal de que, possivelmente, o Copom não incorporou um nível mais alto de ociosidade da economia em virtude do cenário internacional.

Um fato positivo é que o Copom agora vê riscos equilibrados de a inflação superar ou ficar abaixo de sua projeção; até março, o risco altista era maior. Mas, embora equilibrados, os riscos são mais significativos, dos dois lados.

No fim, a decisão e o comunicado não surpreendem em relação ao que os membros do Copom haviam sinalizado: agora, da mesma forma que foi importante encontrar o grau de aperto suficiente, será necessário ter perseverança para manter o torniquete até ficar claro que o cenário vai se desenrolar da forma esperada e que a inflação vai mesmo para a meta.

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