Veículo: Valor Econômico
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Data: 13/12/2024

Editoria: L-Founders
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Tanure deve assumir Dia, e GPA está no radar

O investidor Nelson Tanure deve assumir o controle da rede de supermercados Dia e, passada a fase de renegociação de débitos e reestruturação da cadeia, analisa criar um grupo nacional de varejo mais robusto, segundo fontes ouvidas. “A intenção é montar uma ‘corporation’ de varejo alimentar”, diz uma pessoa a par do projeto.

No radar, neste momento, pelas análises preliminares, há interesse de uma fusão do Dia com o GPA, dono da rede Pão de Açúcar, apurou o Valor. Maurício Quadrado, ex-sócio do Banco Master, e parceiro de Tanure, tem assessorado o investidor para a discussão de um desenho viável.

Quadrado deixou a sociedade no Master em setembro, e ficou com o Letsbank, subsidiária do Voiter (antigo Indusval), comprado pelo Master neste ano. Por meio dessa licença, está montando a sua empresa de investimentos, que inclui as gestoras Macam e MAM Asset – esta última, atual controladora da rede Dia.

Não há, neste momento, negociações em andamento entre GPA e Tanure. O foco é finalizar o plano de recuperação judicial do Dia em 2025, colocando a varejista de pé, e então avaliar ativos de varejo com potencial, caso o plano realmente avance. “É aí que o GPA entra, pelo seu perfil, porque é um ativo muito descontado ainda”, diz uma segunda pessoa a par do tema

Nas conversas de Tanure com assessores, o Valor apurou que já haveria algum desenho operacional sendo considerado com o GPA. A marca Dia poderia ser descontinuada, e traria consigo cerca de 300 pontos de alto valor imobiliário, e o foco seria operar com a marca Pão de Açúcar nas unidades hoje com a bandeira Dia. Haveria, porém, uma canibalização de pontos a sr gerida.

A princípio, a entrada no GPA poderia ocorrer de forma relativamente simples, pela compra de ações no mercado, considerando que 66% do capital está pulverizado. Pelo estatuto social do GPA, porém, qualquer acionista que adquira posição igual ou superior a  25% das ações do grupo tem de realizar oferta pública de aquisição da totalidade.Tanure é conhecido pelo seu apetite por negócios em reformulação com preços muito descontados – em 2023, montou posição em Gafisa e Light ampliando a sua fatia na bolsa.

Varejo nunca foi o seu foco, só que a conversa entre ele e Quadrado em torno de um modelo possível começou a fazer sentido nos últimos dois meses, em parte, pelo nível de preços no setor e melhora da situação de dívida do GPA. Ambos devem ser parceiros nessa transação, caso evolua.

Gestores ouvidos são céticos sobre qualquer negociação envolvendo o GPA, após a série de informações sobre eventual interesse de fundos e empresas, como o Pátria, os chilenos do Cencosud, e outros investidores. E, até hoje, sem avanços.

Os franceses do Grupo Casino, que foram vendendo sua posição no GPA, ainda têm 20,4% da empresa por meio da Segisor, veículo de investimento da companhia, e são os maiores acionistas. Ronaldo Iabrudi, ex-presidente do GPA, tem 5,4%, numa compra recente de ações da empresa. O BTG Pactual soma 2,89%.

Procurados, Tanure e Quadrado preferiram não comentar. O Master não tem, hoje, relação com um eventual desenho de acordo do Dia com outras redes varejistas, caso isso evolua.

O grupo Dia, em recuperação judicial desde março, é controlado pelo fundo Lyra II FIP Multiestratégia, cuja criação foi viabilizada pela MAM Asset. A gestora faz parte da empresa de investimentos de Quadrado. O ex-sócio do Master estava no banco quando a transação foi fechada com o Dia por meio do FIP. O fundo assumiu a operação após a venda da operação local pelo grupo espanhol controlador.

O Lyra II tem apenas um cotista como sócio, cujo nome não é público. Como o Valor publicou em junho, segundo informações de mercado, Tanure seria esse investidor, mas pessoas próximas a ele negavam. Ontem, a “Folha de S.Paulo” informou que Tanure deve assumir o Dia por meio do fundo Arila. O Valor confirmou a informação.

Nos últimos meses, o Dia liquidou dívidas com o Banco do Brasil e Daycoval, segundo o último relatório de atividades da rede, e ainda está num processo de retomada de fornecimento da indústria, após recente aprovação do plano de recuperação pelos credores. De janeiro a setembro, a rede faturou R$ 1,7 bilhão, frente a R$ 3,9 bilhões em 2023.

São 1,1 bilhão em dívidas concursais, já reescalonadas pelo atual plano. Para o mercado, qualquer operação envolvendo o Dia exigiria algum aporte de capital, mesmo após a reestruturação atual.

Hoje, só a marca Pão de Açúcar vale quase quatro vezes o valor de mercado do GPA, de R$ 1,1 bilhão, e a rede perdeu valor nos últimos anos, por conta das elevadas dívidas e perda de participação de mercado. A recente reorganização financeira do GPA, e a saída dos franceses do controle, reduziu o risco da empresa.