Veículo: Valor Econômico
Clique aqui para ler a notícia na fonte
Região:
Estado:
Alcance:

Data: 18/11/2025

Editoria: L-Founders, Shopee/Shein
Assuntos:

Depois da Shein, a chinesa JD.com entra na Europa

Terceira maior plataforma da China compra 40% da alemã Ceconomy, um das maiores varejistas do mercado europeu
Por Daniela Fernandes — Para o Valor, de Paris
18/11/2025 05h01 Atualizado há 8 horas

Sandy Xu, CEO da JD.com, planeja criar uma “plataforma europeia de nova geração” — Foto: Seong Jooncho/BloombergSandy Xu, CEO da JD.com, planeja criar uma “plataforma europeia de nova geração” — Foto: Seong Jooncho/Bloomberg

A poeira dos protestos na França contra a Shein, que acaba de abrir sua primeira loja física no país, nem abaixou ainda – o pedido de suspensão da plataforma será examinado em 26 de novembro pelo Tribunal de Justiça de Paris. E um outro gigante chinês do comércio online já provoca rebuliços que se estendem pela Europa: o grupo Jingdong, mais conhecido como JD.com.

Este grupo deu um passo importante para reforçar suas atividades no continente: comprou, por € 2,2 bilhões, a alemã Ceconomy, uma das maiores varejistas de eletroeletrônicos da Europa e que também é a segunda maior acionista da francesa Fnac Darty, do mesmo segmento.

Trata-se da terceira maior plataforma da China, atrás da Alibaba e Temu, com receita de US$ 158,8 bilhões no ano passado. A operação que propôs € € 4,60 por ação da Ceconomy, o que representou um bônus de 43%, foi concluída em 10 de novembro. Assim, a JD levou quase 40% do capital da varejista alemã de eletroeletrônicos e assegurou o apoio da família fundadora, que mantém 25% da companhia. Um novo período de subscrição de ações está previsto entre 14 e 27 de novembro e deve ampliar a fatia da gigante chinesa.

A aquisição de € 2,2 bilhões é a maior realizada na Europa por um grupo chinês de comércio eletrônico. Ela já recebeu o sinal verde das autoridades de concorrência da Alemanha, mas ainda falta o aval do Ministério da Economia. A operação garante para a JD.com acesso à rede de quase mil lojas das bandeiras MediaMarkt e Saturn da Ceconomy na Alemanha, Espanha e Itália, geralmente situadas em shopping centers e áreas centrais das cidades, com a possibilidade de ampliar a oferta de produtos chineses nessas redes. A companhia alemã, com faturamento de €22,4 bilhões, emprega 50 mil pessoas e faz um quarto de suas vendas pela internet.

“A parceria com a Ceconomy permitirá criar a primeira plataforma europeia de nova geração voltada para o setor de eletroeletrônicos”, disse a CEO da JD.com, Sandy Xu, acrescentando que o objetivo é ampliar as atividades nos países do bloco. O efeito prático é imediato: a compra da empresa líder na Alemanha permitiria a entrada no mercado francês, já que a Ceconomy possui 22% do capital da Fnac Darty, especializada em produtos culturais e eletroeletrônicos, com faturamento de € 8 bilhões em 2024. Na Fnac Darty, a alemã fica atrás apenas do fundo de investimentos do bilionário tcheco Daniel Kretinsky (28%), o mesmo que assumiu o controle do grupo Casino de supermercados em 2024.

A direção da Fnac Darty e Kretinsky não comentaram sobre a movimentação dos chineses. Mas as autoridades da França acompanham de perto o caso. O ministério francês da Economia – que recentemente ameaçou suspender o site da Shein após o escândalo das bonecas sexuais com aparência infantil e também de armas vendidas na plataforma – declarou que a operação da JD.com será examinada “com rigor e vigilância”, com base em processos de controle de investimentos estrangeiros na França “para preservar os interesses econômicos” do país.

O processo de validação é obrigatório na França quando uma empresa fora da União Europeia adquire mais de 10% dos direitos de voto de uma empresa do país cotada em bolsa e que atue em setores sensíveis como defesa, tecnologia e infraestrutura, mas para o governo o caso requer uma análise. “A Fnac Darty vende produtos culturais, que são bens de consumo diferentes. Além disso, estaremos extremamente atentos ao fato de que os eletrodomésticos fabricados na França e vendidos pela varejista continuem a ser produzidos localmente”, disse uma fonte do ministério da Economia ao jornal Le Monde.

A Fnac Darty tem 1,5 mil lojas no mundo, principalmente na França, mas também está presente na Espanha, Portugal, Bélgica e Suíça, além de países da África e do Oriente Médio. Para contornar a guerra de preços com a Amazon, a empresa se voltou nos últimos anos a produtos mais sofisticados e a oferta de serviços, como planos de assinaturas para manutenção e conserto de aparelhos. Segundo o canal BFM TV, o CEO da empresa, Enrique Martinez, tentou se associar à alemã Ceconomy para ampliar seus negócios na Europa, mas como não deu certo ele acabou adquirindo a italiana Unieuro.

A recente ofensiva da JD.com no mercado europeu é, na avaliação de analistas, uma estratégia para recuperar seu atraso no continente em relação a outras grandes plataformas chinesas como Alibaba, Temu e Shein, que inaugurou no dia 5 sua primeira loja mundial em Paris e anunciou a abertura de mais cinco unidades em outras cidades do país, embora as inaugurações tenham sido adiadas. Em meio à guerra comercial entre China e Estados Unidos e o aumento das tarifas de importação americanas, os gigantes chineses de comércio eletrônico também buscam reforçar suas atividades na Europa.

Enquanto aguarda o que pode ocorre com a Fnac Darty, a JD.com não perde tempo. Lançou no final de outubro seu site na França, o JoyBuy, uma referência ao cachorro Joy que é o mascote da empresa. O objetivo, segundo especialistas, é competir diretamente com a Amazon. Um modelo semelhante voltado a um maior volume de produtos vendidos pela plataforma em várias categorias – de sabão em pó a artigos alimentícios e de decoração, alé, de roupas, brinquedos e eletroeletrônicos, de marcas internacionais ou da marca própria Ochama.

A JD.com se mantém discreta até o momento, sem publicidades sobre o lançamento, apenas publicações em redes sociais. Na página de abertura do site há vários produtos em promoção. Também já foram alugados milhares de metros quadrados para a logística. Depois de uma primeira tentativa infrutuosa de entrada no mercado francês em 2019, com um site que não foi adiante, a gigante chinesa retorna com ambições por toda a Europa.