Veículo: Folha de S.Paulo
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Data: 22/09/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Varejo quer investir mais no Natal e menos na Black Friday neste ano, diz CNDL

Enquanto nos Estados Unidos a Black Friday costuma ser usada pelos varejistas para desovar estoques antes do Natal, no Brasil, a data pegou de um jeito diferente.

Os brasileiros preferem antecipar as compras de Natal na última sexta-feira de novembro para aproveitar os descontos, já usando a primeira parcela do 13º salário, e deixar só lembrancinhas de última hora para dezembro, além dos tradicionais itens para a ceia.

Neste ano, os varejistas brasileiros estão dispostos a investir menos em propaganda em torno da Black Friday. A ideia é colocar menos produtos em promoção e dedicar esforço maior para as vendas de Natal, nas quais dão menos descontos e, portanto, obtêm maior margem de lucro.

A análise é de Daniel Sakamoto, gerente executivo da CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas) e um dos responsáveis pela pesquisa da entidade sobre as contratações do varejo para o fim do ano.

Essa lógica não vale, porém, para produtos de tecnologia e eletrônicos, uma das principais categorias oferecidas na Black Friday e que vão continuar tendo na data o seu pico de vendas anual, afirma.

Movimentação em loja da região da 25 de Março, centro de comércio popular em São Paulo, na Black Friday de 2024 – Allison Sales-29.nov.24/Folhapress

“Muitos varejistas dizem que vão tirar um pouco da força de mídia da data, para dar maior foco ao Natal, onde conseguem uma margem melhor”, diz o executivo, ressaltando que não se trata de apagar a Black Friday do calendário promocional —apenas adaptar a estratégia para que a última sexta-feira de novembro não “mate” as vendas de dezembro, como tem acontecido nos últimos anos.

“Até os pequenos e médios varejistas acabam entrando [nas promoções], porque os grandes fazem. Tem Black Friday para tudo”, diz. Há alguns anos, porém, o varejo percebeu que a estratégia da Black Friday no Brasil está equivocada, mas agora a preocupação com a margem aumentou, afirma.

“Com o avanço dos grandes marketplaces e concorrentes asiáticos, o varejo nacional está operando com margens muito pequenas. Todas as grandes varejistas estão alavancadas, com empréstimos e financiamentos que pagam altas taxas de juros. Se você trabalha com promoção o tempo todo para conseguir vender, no fim do dia, sobra pouco dinheiro em caixa. Não vale brigar por preço para vender muito na Black Friday e pouco no Natal.”

A regra é diferente para os marketplaces, que operam com margem menor —até porque não fazem estoque dos produtos— e vendem grandes volumes, especialmente itens de tecnologia, e apostam muito na data, diz Sakamoto.

Os próprios consumidores, porém, já não se mostram tão entusiasmados com a Black Friday como nos primeiros anos da década de 2010, quando a data se tornou popular no Brasil. Como já apontaram reportagens da Folha, os descontos já não são tão atraentes e alguns itens até sobem de preço.

O tema é tabu para os varejistas. Como o público aderiu à Black Friday, ninguém quer assumir que a data não compensa financeiramente e que vai diminuir o ritmo, com medo de perder consumidor para a concorrência.

Mas o diretor de uma rede de supermercados de médio porte em São Paulo afirmou à Folha que já não tem interesse em promover a Black Friday neste ano porque as vendas não estão compensando a redução de margem.

Já a executiva de uma fabricante de eletrodomésticos informou à reportagem, em condição de anonimato, que os varejistas estão bastante estocados e não compraram muito para a Black Friday. A indústria costuma apoiar o varejo em ações promocionais.

“Seguiremos exatamente como nos anos anteriores, com uma atuação forte em todas as categorias. Essa é uma data muito importante, porque oferece ao cliente a oportunidade de economizar e comprar desde itens do dia a dia —como fraldas, café e bebidas— até presentes, brinquedos e eletroeletrônicos”, afirmou, em nota, Marco Alcolezi, diretor de operações do Carrefour, para os formatos hiper, super e express.

INCERTEZAS PESAM PARA 2026

Independentemente da divisão de pesos entre Black Friday e Natal, os varejistas em geral esperam um fim de ano animador, diz Daniel Sakamoto. “Há muitas compras que foram represadas ao longo do ano, tendo em vista o clima de incertezas, mas a tendência é que o consumidor aproveite o último trimestre em busca de promoções.”

Por conta disso, o varejo nacional está abrindo 118 mil vagas para o fim do ano, de acordo com a pesquisa da CNDL e do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) feita por telefone junto a 533 empresas de diferentes portes e de todas as regiões do país entre 23 de junho e 16 de julho. A margem de erro é de 4,2% para mais e para menos e o intervalo de confiança é de 95%.

Nas 118 mil vagas, estão oportunidades de trabalho temporário, efetivo, informal e terceirizado. O total representa um aumento de 7,3% em relação às 100 mil vagas abertas no mesmo período do ano passado.

Existem indicadores positivos no cenário macroeconômico que favorecem as boas expectativas para o último trimestre, como o menor índice de desemprego desde 2012, de 5,6% para o trimestre encerrado em julho, segundo a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE.

Também a taxa Selic parou de subir e, embora estacionada em um nível alto (15%), pode vir a cair até o começo do ano que vem, diz Sakamoto.

Do total de empresários entrevistados, 59% afirmaram que não vão contratar para o fim do ano, um patamar que se mantém o mesmo dos últimos anos. Neste ano, porém, o clima de incerteza está maior. “Não sabemos se o cenário macroeconômico vai continuar positivo em 2026, que será mais um ano eleitoral de disputa acirrada”, diz.

Entre os que não vão contratar, 32% citaram como motivo a “instabilidade econômica”. Na pesquisa de 2024, essa resposta havia sido dada por 12% dos entrevistados.

“Boas notícias geram consumo. Até o fim do ano, as expectativas são positivas. Mas o varejista investe quando percebe que o consumidor está disposto a gastar. Se o público temer pelo futuro do seu emprego ou dos seus negócios, vai gastar menos ou deixar de comprar”