Veículo: Folha de S.Paulo
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Data: 19/09/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Construtora restaura Palacete Piauí, símbolo da chegada da elite cafeeira a Higienópolis

As escavações do Estúdio Sarasá são feitas dentro do imóvel. Camada por camada, os profissionais buscam as histórias originais a partir de suas paredes, portas, janelas e pisos. Assim foi o trabalho coordenado pelo “conservador e restaurador”, como se autodefine, Antonio Sarasá no Palacete Piauí, na esquina das ruas Piauí e Itacolomi, em Higienópolis, na região central de São Paulo.

Tombado pelo Conpresp (conselho de patrimônio municipal) desde 2012, o casarão foi mantido pelas construtoras Helbor e MPD Engenharia, que arremataram o terreno em um leilão do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), em 2018. O investimento das empresas na restauração foi de R$ 10 milhões.

Restauração do Palacete Piauí

A imagem mostra uma casa antiga, de dois andares, com paredes brancas e detalhes em azul. A estrutura apresenta sinais de desgaste, como manchas e janelas com grades. Há uma escada que leva à entrada principal, e um pé de palmeira à esquerda. O ambiente é arborizado, com árvores e plantas ao redor, e ao fundo, é possível ver um edifício moderno. O céu está limpo e azul.
A imagem mostra uma casa de estilo arquitetônico clássico, iluminada à noite. A estrutura é de cor clara, com janelas e portas em verde. O jardim ao redor é bem cuidado, com iluminação suave que destaca a vegetação. O caminho de pedras leva até a entrada da casa, que possui uma escada. Ao fundo, é possível ver edifícios altos, indicando um ambiente urbano.

Palacete Piauí, em Higienópolis, passou por restauração e agora as construtoras Helbor e MPD Engenharia vão construir duas torres de apartamentos residenciais em seu terreno – Divulgação/Estúdio Sarasá

O casarão tem 900 metros quadrados e fica em um terreno 2.640 metros quadrados. É neste quintal, em uma área valorizada da cidade, que as empresas estavam mais interessadas. Na lateral e nos fundos do prédio histórico, elas vão construir duas torres de apartamentos residenciais. A torre A terá 20 andares, divididos em 40 unidades, com metragem média de 254 metros quadrados; na torre B, serão 96 unidades, com metragem média de 28 metros quadrados.

Antes do início das obras das torres, no entanto, decidiram se dedicar à restauração do palacete, a cargo da empresa de Sarasá. Ele comanda diversas obras de restauração espalhadas pelo país, tanto de iniciativas públicas quanto privadas. Para isso, conta com oficina própria para desenvolver ferramentas necessárias e para recortar réplicas de pisos, azulejos e pastilhas originais.

O palacete estava fechado desde 2003, quando a Polícia Federal inaugurou sua nova sede paulistana, na Lapa. Antes, parte das delegacias ficava na região central e outra parte no prédio de Higienópolis, onde também estava instalada a carceragem.

Palacete Piauí

A imagem mostra um ambiente interno, possivelmente uma sala, com paredes desgastadas e um teto decorado. Há várias janelas abertas que permitem a entrada de luz natural e oferecem vista para um espaço verde externo. No centro, há uma mesa de madeira com alguns objetos em cima, uma cadeira de escritório e uma cadeira verde. Um televisor está posicionado em uma parede, e há sacos de lixo e um botijão de gás no canto. O piso é de madeira e apresenta sinais de desgaste.
A imagem mostra um cômodo vazio com piso de madeira em padrão de espinha de peixe. As paredes são de cor amarela clara e há várias janelas com molduras brancas, permitindo a entrada de luz natural. No canto inferior direito, há um aspirador de pó e alguns objetos. O ambiente parece bem iluminado e arejado, com vista para a vegetação externa através das janelas.

O palacete estava fechado desde 2003, quando a Polícia Federal inaugurou sua nova sede paulista, na Lapa – Divulgação/Estúdio Sarasá

Desde os anos 1980, o porão da casa recebeu réus famosos, como os mafiosos italianos Tommaso Buscetta (1983), da Cosa Nostra, e Francesco Toscanino (1989), da Camorra, o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto e o ex-senador Luiz Estevão, ambos acusados de participação no esquema de corrupção na construção da sede do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2).

Antes, o prédio já havia servido, durante a ditadura militar, como sede do Dops (Departamento de Ordem Política e Social). Isso fez com que o secretário municipal de Direitos Humanos da gestão Fernando Haddad (PT), Rogerio Sottili, chegasse a cogitar a transformação do local em um museu dedicado à proteção e divulgação dos direitos humanos. Proposta que acabou não vingando.

Palacete Piauí

A imagem mostra uma parede de um ambiente em reforma, com uma textura irregular e manchas de tinta. Há um arco na parte esquerda da imagem, que dá acesso a uma janela com grades. A luz natural entra pelo arco, iluminando a parede que apresenta um tom esverdeado e marcas de desgaste. O ambiente parece estar em processo de restauração, com partes da pintura descascadas e uma aparência de abandono.
A imagem mostra um detalhe de uma pintura em uma parede, com um fundo verde claro. No centro, há um círculo vazio cercado por um padrão de corda. À esquerda e à direita do círculo, existem laços decorativos em tons de marrom e dourado. A parte superior da imagem apresenta uma faixa horizontal em um tom mais claro, e a parte inferior é um pouco mais escura, sugerindo uma transição de cores na parede.

O investimento das construtoras Helbor e MPD Engenharia na restauração do palacete foi de R$ 10 milhões – Divulgação/Estúdio Sarasá

A escavação de Sarasá foi mais longe. Ao retirar as camadas mais recentes de uso do prédio, ele chegou ao início do século 20.

Na época, o prédio foi construído pela família do ex-presidente Rodrigues Alves. “A Angélica, Maria Antônia e Dona Veridiana começaram a lotear a antiga propriedade para a mudança da elite da época, que saía da região da várzea dos rios para uma área mais alta, sem os problemas relacionados a alagamentos”, explica Sarasá. A ideia de higiene já fica marcada no nome do novo bairro, Higienópolis.

Palacete Piauí

A imagem mostra uma parede com várias camadas de tinta descascada, revelando um fundo verde e detalhes em marrom. No centro, há um desenho de flor em preto, que parece ser uma parte de um trabalho de restauração ou decoração. A parte superior da parede possui um acabamento em gesso branco, e há fita adesiva segurando o desenho no lugar.
A imagem mostra uma pintura decorativa em uma parede, predominantemente em tons de verde. A pintura apresenta um grande vaso estilizado com folhagens e detalhes em dourado. A parte superior da imagem exibe um friso branco com um padrão texturizado. O fundo é uma mistura de verde e dourado, com detalhes intrincados que embelezam a composição.

Folhas de café são representadas nos vitrais e outros elementos decorativos da construção – Divulgação/Estúdio Sarasá

O palacete, segundo Sarasá, seguia um estilo da época, quando as famílias de produtores de café ainda moravam nas fazendas do interior, mas construíam casas na capital paulista como forma de mostrar seu poder político e econômico.

A origem da riqueza está marcada nos detalhes: folhas de café são representadas nos vitrais e outros elementos decorativos da construção. Os vitrais foram restaurados e devem ser colocado em breve na casa. A restauração também recuperou partes do piso e da pintura originais.

A Helbor afirma que pretende criar uma “agenda de atividades com foco em arte e cultura, firmando parceria com escolas e faculdades do bairro” no palacete por enquanto. O público em geral poderá se inscrever pelo site do palacete, para fazer as visitas entre outubro e novembro deste ano.

Depois, o espaço terá alguma atividade privada. Um restaurante, livraria, café e galeria de arte são algumas das vocações que a construtora vê para o espaço. É a segunda vez que o INSS vende o imóvel a uma construtora. Em 1990, a Encol não concluiu a compra, que acabou cancelada.

No mês passado, a construção das duas torres provocou protestos do coletivo Pró-Higienópolis e da Associação de Proprietários, Protetores e Usuários de Imóveis Tombados (Appit). Eles reclamam que a obra descaracteriza o bairro e sufoca o bem tombado.