
A Casa Piauí, palacete histórico em Higienópolis, região central de São Paulo, vai abrir as portas para visitas a partir de 6 de outubro. O tour será guiado pela equipe de monitores do Estúdio Sarasá, responsável pelo projeto e execução do restauro. O passeio tem duração média de 30 a 40 minutos e é gratuito, mediante inscrição prévia.
A ideia é contar a história do casarão de estilo art nouveau. Construído em meados dos anos 1910, em plena efervescência da belle époque, é um dos casarões da elite cafeeira paulistana e testemunha das transformações profundas no bairro e na cidade.
O local já foi residência da família do ex-presidente Rodrigues Alves (que governou de 1902 a 1906) e sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) na ditadura.
Fechado por cerca de duas décadas, o imóvel foi leiloado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), por R$ 26 milhões, em 2018. O valor foi quase 75% maior do que o lance inicial.
Desde 2012, é tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade (Conpresp) por ser um “exemplar de moradia abastada do início do século 20”.

Após as reparações do Estúdio Sarasá, é possível ver parte dessa história com vitrais, piso e pinturas originais. Chamam a atenção os símbolos das folhas dos cafés espalhados em detalhes da casa, marcando o ‘ouro’ da época.
O restauro, que demandou cerca de R$ 10 milhões, já está concluído. Após o período de visitas programadas para os próximos dois meses (que podem ser estendidas), o espaço deve virar restaurante, café ou livraria e respeitará as regras para um imóvel e ambientes tombados, conforme os responsáveis.
As inscrições para as visitas já foram abertas e podem ser feitas aqui: www.palacetepiaui.com.br.
O imóvel hoje é de propriedade das incorporadoras Helbor e MPD, responsáveis por custear o restauro. Além do casarão de 900 m², no projeto das empresas é prevista a construção de dois prédios de alto padrão no entorno do terreno, que tem 2.640 m² no total.
Na primeira torre, de 23 andares, serão três pavimentos de lazer e outros 40 apartamentos com com metragens que variam entre de 249 m² a 260 m². Já a torre B, 96 unidades, com apartamentos de metragem média de 28 m².

Por que obra recebeu críticas?
Esse empreendimento tem motivado críticas de associações do bairro. O Coletivo Pró-Higienópolis e a Associação de Proprietários, Protetores e Usuários de Imóveis Tombados (APPIT) já fizeram protestos contra a obra. As entidades também procuraram o Ministério Público de São Paulo, que abriu inquérito para investigar o caso.

Em nota, a Helbor destaca que o projeto é desenvolvido “com total respeito” à legislação e ao Plano Diretor. “Mais do que restaurar um edifício, queremos contribuir para que a cidade mantenha vivo seu patrimônio”, diz Fabiana Lex, diretora de Marketing, Produto e Comunicação da empresa.
Dentre as críticas das associações, está a distância de cinco metros dos novos prédios em relação ao casarão, ocupando mais de 70% do lote e quase toda a área do antigo jardim.

Essa opção para a obra, aponta o inquérito do MP-SP, é “frontalmente contrária ao modelo urbanístico e à resolução de tombamento, que prevê a preservação integral do imóvel e admite novas construções apenas com recuos mínimos, sem acréscimos à edificação principal”.
Antônio Sarasá, responsável pela restauração, diz que o tombamento do palacete não prevê esse tipo de restrição, incluindo só a preservação da fachada e de três ambientes internos, o que deixa livre a construção no terreno do jardim.
Segundo ele, haverá monitoramento de prováveis movimentações no terreno, quando as obras começarem. “A casa movimenta – a gente tem essa certeza com as casas antigas. A argamassa é feita com cal para aguentar essa movimentação e tudo que foi feito aqui foi pensado para aguentar essa movimentação”, diz.
Ainda não há data para o início das obras das torres.