A Amazon deu mais um passo estratégico no mercado latino-americano ao adquirir uma participação relevante na startup colombiana Rappi, conhecida por sua atuação em entregas rápidas. O movimento reforça a presença do gigante global do e-commerce na região e acende o alerta para concorrentes já consolidados.
O investimento, realizado por meio de uma nota conversível de US$ 25 milhões, pode render à Amazon até 12% de participação caso metas específicas sejam atingidas. Mais do que um simples aporte, a iniciativa sinaliza uma estratégia agressiva da companhia em fortalecer sua logística e ampliar os benefícios do programa Prime.

Compra da Rappi: O movimento estratégico da Amazon em 2025
Como foi estruturada a aquisição
A operação foi realizada na forma de uma nota conversível, o que permite à Amazon transformar o investimento em participação acionária. Essa modalidade dá flexibilidade à empresa e garante que a operação seja escalável conforme os resultados da Rappi.
O valor de US$ 25 milhões pode parecer modesto diante do porte da Amazon, mas o impacto está na possibilidade de converter o aporte em até 12% da empresa, caso metas de desempenho sejam cumpridas.
O papel da Rappi no ecossistema de entregas
A Rappi é uma das principais startups da América Latina quando o assunto é entregas rápidas. Sua operação se estende por diversos países, com destaque para Brasil, México, Colômbia, Chile e Argentina.
Além de atuar em setores como restaurantes, farmácias e supermercados, a empresa se consolidou como pioneira no conceito de entregas ultrarrápidas, chegando a oferecer prazos de até 15 minutos em algumas localidades.
A visão dos analistas sobre o negócio
Bradesco BBI: reforço ao ecossistema Prime
De acordo com o Bradesco BBI, o investimento é coerente com a estratégia global da Amazon. A instituição destaca que a companhia já havia testado parcerias semelhantes no México, com a criação do Rappi Pro para membros Prime.
A avaliação do banco é que a Amazon pretende expandir os benefícios do Prime, tornando-o mais atrativo por meio de cupons de entrega de comida e outras vantagens exclusivas. Isso cria um ciclo de fidelização ainda mais forte entre clientes.
Santander: um novo estágio da competição
O Santander enxerga a movimentação como parte de uma fase pós-logística no e-commerce. Para o banco, o foco da disputa entre marketplaces migra agora da escala de entregas tradicionais para a densidade de entregas ultrarrápidas.
Segundo os analistas, o impacto imediato sobre empresas como o Mercado Livre é limitado, mas o médio prazo exige atenção, já que os consumidores passam a esperar conveniência em tempo recorde.
Impactos para o mercado de e-commerce
O efeito sobre o Mercado Livre
O Mercado Livre segue como líder consolidado na região, mas o avanço da Amazon levanta questionamentos sobre a necessidade de diversificação. A aquisição recente de uma farmácia em São Paulo é um exemplo de que a empresa já se prepara para disputar o setor de conveniência.
Apesar disso, os analistas reforçam que, em termos de geração de valor, o Mercado Livre ainda oferece melhores retornos de médio e longo prazo para investidores.
A posição do iFood no Brasil
No Brasil, o iFood domina o segmento de entregas rápidas. Contudo, a entrada da Amazon via Rappi pode aumentar a competição, sobretudo em áreas metropolitanas onde a demanda por conveniência é mais forte.
Ainda que o iFood mantenha vantagem por sua base consolidada, a presença da Amazon cria um ambiente de disputa mais acirrado e pode pressionar margens em setores como farmácias e supermercados.
O papel da logística e da “última milha”
O que significa “last mile”
O termo last mile refere-se à etapa final de entrega, quando o produto sai do centro de distribuição para chegar ao cliente. Essa é considerada a parte mais cara e complexa da logística, especialmente em cidades grandes e congestionadas.
A Amazon, reconhecida mundialmente por sua eficiência logística, vê na parceria com a Rappi a chance de acelerar sua presença no segmento de entregas rápidas e reduzir custos associados ao last mile.
Sinergias possíveis entre Amazon e Rappi
A união entre as duas empresas pode gerar benefícios mútuos:
- Ampliação do alcance: a Amazon pode usar a malha de entregadores da Rappi para complementar sua rede própria.
- Maior eficiência: o compartilhamento de dados logísticos pode otimizar rotas e reduzir prazos.
- Benefícios Prime: cupons e promoções vinculadas a serviços da Rappi fortalecem o pacote de vantagens oferecido pela Amazon.
A concorrência chinesa de olho no setor
Meituan e Keeta entram na disputa
Além da disputa entre Amazon, Mercado Livre e iFood, novos competidores chineses começam a se movimentar. A Meituan, por meio da Keeta, já sinalizou interesse em investir de forma contínua no mercado brasileiro.
Esse movimento pode representar uma ameaça significativa, uma vez que empresas chinesas costumam operar com forte subsídio e agressividade comercial.
O impacto da entrada de novos players
Com mais competidores no setor, a tendência é que os custos operacionais aumentem. A disputa por entregadores e a necessidade de oferecer promoções agressivas podem pressionar a rentabilidade das empresas, especialmente no Brasil.
O futuro do e-commerce na América Latina
O desafio da rentabilidade
Embora as entregas rápidas sejam uma tendência crescente, o setor enfrenta dificuldades para alcançar rentabilidade sustentável. Os custos elevados de logística, somados à concorrência intensa, tornam o equilíbrio financeiro um desafio para todos os players.
Expectativas para os próximos anos
Especialistas acreditam que, até 2026, a disputa no setor ficará ainda mais acirrada, com maior intensidade de subsídios e uma guerra por entregadores disponíveis. Isso pode favorecer consumidores no curto prazo, mas representa um risco para empresas que não conseguirem equilibrar receitas e despesas.

O investimento da Amazon na Rappi é mais do que um simples aporte: trata-se de um recado claro de que a empresa está disposta a disputar espaço no mercado de entregas rápidas da América Latina.
Enquanto a concorrência se intensifica com Mercado Livre, iFood e novos entrantes chineses, a Amazon busca integrar conveniência, logística e fidelização em seu ecossistema. A mensagem ao mercado é direta: a batalha pelo futuro do e-commerce regional será decidida não apenas pela escala, mas pela capacidade de entregar valor em tempo recorde.