Veículo: Folha de S.Paulo
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Data: 02/09/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Executivo de 38 anos é o mais cotado para gerenciar fortuna do império da Chanel; conheça

Arthur Heilbronn possui todas as características de alguém preparado para herdar uma das maiores fortunas multigeracionais do mundo. Conexões familiares profundas? Sim. Diploma de universidade da Ivy League? Positivo. Conhecimento de Wall Street? Confirmado.

Por isso há sinais cada vez maiores de que o herdeiro da dinastia por trás do império Chanel está se aproximando do topo da empresa que supervisiona sua fortuna de US$ 90 bilhões.

Heilbronn, 38, assumiu cargos de gestão supervisionando os investimentos imobiliários, bancários e de mídia dele e de seus parentes desde que ingressou há seis anos na Mousse Partners, um dos maiores e mais discretos escritórios de sucessão do mundo.

Um homem está posando para a foto, vestindo um terno cinza e uma camisa azul com uma gravata azul. Ele tem cabelo escuro e liso, e está em um ambiente interno com uma decoração neutra ao fundo. O homem tem uma expressão séria e confiante.
Arthur Heilbronn é favorito para assumir controle da Chanel – Divulgação/Rothschild & Co

Em mais um indício de seu crescimento, o executivo formado pela Harvard Business School e ex-banqueiro do Goldman Sachs se tornou diretor no início deste ano de uma das principais entidades holding da Mousse, ocupando um cargo que estava vago desde a morte de Michael Rena, executivo veterano da Chanel, segundo os registros oficiais.

Arthur é filho de Charles Heilbronn, fundador da Mousse e presidente da empresa desde 1991. Charles é meio-irmão de Alain e Gerard Wertheimer, herdeiros de terceira geração da fortuna Chanel.

Os Wertheimers são netos de um dos parceiros comerciais originais de Gabrielle “Coco” Chanel, que fundou a casa de moda em 1910. Eles compartilhavam a mesma mãe que Charles, Eliane Heilbronn, que era considerada a matriarca do império até morrer no ano passado. Seus filhos estão todos na casa dos 70 anos.

Um representante da Mousse recusou-se a comentar.

Os Wertheimers, que teriam participações iguais na Chanel, empresa de capital fechado, têm um patrimônio líquido de cerca de US$ 45 bilhões cada, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg. Essa fortuna se manteve estável durante boa parte da pós-pandemia, mesmo quando uma desaceleração nos bens de luxo atingiu rivais, incluindo a LVMH, liderada por Bernard Arnault, e a Kering, controlada pela família Pinault.

A ascensão de Arthur Heilbronn dá alguma sinalização dos planos de sucessão da família, que é avessa à mídia e há muito tempo busca manter sua riqueza longe dos olhos do público. David Wertheimer, filho de Gerard Wertheimer, iniciou um empreendimento de private equity, embora não haja indicação de que outros filhos dos dois herdeiros estejam envolvidos com a Mousse.

“Eles parecem menos um family office e mais uma dotação privada para um império de luxo”, afirmou Marc Debois, fundador da empresa de consultora FO-Next, sobre a Mousse. Entre seus pares, “o que os coloca no verdadeiro 1% superior não é o tamanho; é o tempo; paciência alimentada por dividendos e múltiplos ciclos”.

Pelo menos um quinto dos indivíduos entre as 500 maiores fortunas do mundo agora tem um “family office” que ajuda a supervisionar riqueza totalizando mais de US$ 4 trilhões, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg.

Uma pesquisa recente com 317 clientes de “family offices” do banco UBS descobriu que pouco mais da metade deles tem um plano de sucessão em vigor, sendo que quem está nos EUA e no Sudeste Asiático são os mais propensos a terem feito esses arranjos.

“É um tema enorme”, disse Eric Landolt, chefe global de consultoria familiar do UBS, sobre planos de sucessão para “family offices”. “É algo que surge em quase todas as discussões.”

Heilbronn entrou na Mousse como diretor em 2019, tornando-se diretor administrativo alguns anos depois, de acordo com seu perfil no LinkedIn. Atualmente, ele é um dos chefes de investimentos diretos em private equity e venture capital com outro diretor administrativo, Paul Yun.

Ele foi nomeado para o conselho de supervisão da Rothschild & Co. depois que a Mousse Partners fez um de seus investimentos mais importantes até o momento, juntando-se a outras duas dinastias francesas em 2023 para ajudar a privatizar o banco. Ele também é diretor da Almacantar, uma empresa imobiliária londrina por trás de projetos de grande escala na capital inglesa.

A holding final da Chanel é a Mousse Investments, dos Wertheimers, sediada nas Ilhas Cayman, que não revela números financeiros. A Mousse Partners é a divisão de investimentos e também possui escritórios em Pequim e Hong Kong.

A Mousse Investments descreve-se como tendo uma “ampla gama de classes de ativos em mercados públicos e privados” além da Chanel. Embora a Mousse não divulgue quanto dinheiro controla, algumas empresas pasaram a nomeá-la como participante em negócios ou como acionista. Isso aponta para investimentos em ações, imóveis, crédito e private equity.

A Mousse Partners emprega mais de 35 pessoas em todo o mundo e conta com ex-analistas bancários do JPMorgan Chase e Wells Fargo entre seus funcionários. Suzi Kwon Cohen ingressou como diretora de investimentos há quase uma década, depois de liderar o private equity da América do Norte para o fundo soberano de Singapura, colocando-a entre as principais executivas no espaço de “family office” historicamente dominado por homens.

Ao longo dos anos, a Mousse Partners apoiou uma ampla gama de startups, incluindo o provedor de saúde mental Brightside Health, a empresa de publicidade digital Brandtech, a empresa de biotecnologia Evolved by Nature, a empresa alimentícia Harmless Harvest e o provedor de saúde Thirty Madison. No ano passado, a Mousse juntou-se à bilionária herdeira da L’Oreal investindo na marca de roupas de luxo The Row.

Nem todas as apostas se mostraram lucrativas. A Beautycounter falhou no ano passado, enquanto um par de participações públicas da Mousse está em declínio. O “family office” tem uma participação de aproximadamente 8% na empresa francesa de entretenimento digital NetGem e 5,7% na fabricante de produtos para cabelo Olaplex. Os preços das ações de ambas as empresas despencaram de seus níveis de oferta pública inicial e não se recuperaram.

A Mousse também investe há décadas na indústria editorial e audiovisual francesa através da Media-Participations, que possui uma variedade de negócios de publicação de livros, mídia especializada, desenhos animados e quadrinhos.

A família por trás da Chanel juntou-se a outros bilionários franceses do luxo com participações em mídia no país. Bernard Arnault é proprietário dos jornais Les Echos e Le Parisien, além da revista semanal Paris Match. O clã Pinault possui as revistas Le Point e Point de Vue.

Embora a Mousse não esteja envolvida nas operações da Chanel, ambas as empresas têm escritórios em uma torre de vidro ao sul do Central Park em Manhattan, famosa por seus aluguéis caros e lista de importantes inquilinos financeiros. Tanto Arthur quanto Charles Heilbronn listaram seu endereço de trabalho nessas instalações em Nova York, na “Billionaires Row” de Manhattan, onde Alain Wertheimer também mantém um escritório há muito tempo.

Por trás das portas fechadas nessa rua, os próximos passos nos planos de sucessão para a Mousse Partners podem já estar se formando, embora seja improvável que alguém da dinastia por trás da Chanel comente publicamente sobre o assunto.

“Somos uma família muito discreta”, disse Gerard Wertheimer em 2001. “Nunca falamos.”