Veículo: Info Money
Clique aqui para ler a notícia na fonte
Região:
Estado:
Alcance:

Data: 01/09/2025

Editoria: L-Founders, Mercado Livre
Assuntos:

Mercado Livre entra no mercado de farmácia no Brasil: o quanto ela pode abalar setor?

Ações do setor registraram forte queda na sexta, mas analistas ainda avaliam impacto para as empresas

Lara Rizério

01/09/2025 10h00 • Atualizado 2 horas atrás

A tarde da última sexta-feira (29) foi movimentada para o setor farmacêutico.

A notícia, depois confirmada pelo Mercado Livre (BDR: MELI34), de entrada no setor, fez com que as ações de farmacêuticas tivessem forte baixa – notoriamente RD Saúde (RADL3), que viu sua ação cair 6,90% na sexta. Pague Menos (PGMN3) caiu 3,72%, enquanto Panvel (PNVL3) teve baixa de 0,97%.

O Mercado Livre comprou a farmácia da healthtech Memed, marcando sua entrada no mercado farmacêutico aqui no Brasil (a empresa estreou no México em 2023, onde a regulamentação permite).

A entrada efetiva, contudo, pode levar tempo. Por exemplo, para atingir uma presença física nacional – atualmente presente na região Sul e em São Paulo, a Panvel leva seis dias para ser entregue na sede da Pague Menos em Fortaleza, com um custo de entrega de R$ 60.

Olhando estritamente para RD Saúde, o Bradesco BBI aponta que a entrada do Mercado Livre é negativa, mas não disruptiva, considerando que: (i) os marketplaces já competem com ela em quase 1/3 das vendas (cuidados pessoais e medicamentos sem prescrição, como vitaminas e suplementos); (ii) a regulamentação para medicamentos é mais rigorosa (os medicamentos só podem ser vendidos em farmácias licenciadas, não em marketplaces; anúncios não são permitidos; medicamentos exigem logística de produtos especiais); (iii) O modelo integrado e a capilaridade da RD são fortes vantagens competitivas, permitindo uma cobertura de 60% da população em um raio de 5 km de suas 3,3 mil lojas, 96% das entregas em menos de uma hora, com 67% de retirada na loja sem custo de frete, e um NPS bom/melhor (79 no aplicativo, 82 para entregas, contra 91 nas lojas); (iv) a concorrência digital é alta, respondendo por mais de 20% das vendas dos principais players, com baixo lucro bruto (quase R$ 15, considerando um ticket médio de R$ 60 apenas para medicamentos e margem de 25%) para cobrir a logística (R$ 12 na RD para entrega na última milha) e outras despesas de vendas; e (v) a concorrência deve acelerar a consolidação, e a RD está melhor posicionada para se beneficiar.

Ainda assim, uma queda de 1 ponto percentual na margem Ebitda (Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações/receita líquida) da RD reduziria o lucro líquido de 2026 em 20%.

Apesar da notícia negativa, o BBI manteve recomendação de compra para RADL3 por enquanto, com um novo preço-alvo para o final de 2026 de R$ 23,00 (ante R$ 18,00 para o final de 2025), após incorporar resultados do 2T25 mais fortes do que o esperado.

A XP Investimentos, por sua vez, vê este como o primeiro passo do Mercado Livre para construir uma presença no mercado farmacêutico. A empresa poderia usar essa farmácia como um projeto piloto e, em seguida, adquirir lojas estrategicamente localizadas em todo o país para expandir a categoria.

Índices futuros dos EUA avançam juntos em dia de feriado

“Acreditamos que o Mercado Livre enfrentará pouca resistência para encontrar farmácias dispostas a vender — especialmente as independentes — devido às altas taxas de juros, à crescente concorrência em RX/HPC e ao acesso limitado (ou inexistente) a medicamentos GLP-1”, avalia.

A XP avalia que os EUA dá algumas dicas sobre como poderá ser o caminho do Mercado Livre.

“Embora as comparações sejam limitadas pela estrutura de saúde diferente dos países, o estudo de caso oferece lições úteis: a Amazon já oferece entrega no mesmo dia em oito cidades, com planos de expandir para mais de 20 até o final de 2025, enquanto os programas de fidelidade e o recurso ‘Subscribe & Save’ servem como alavancas importantes para construir a fidelidade do consumidor”, avalia.

Já a mudança seria positiva para o Mercado Livre, abrindo um mercado grande e de alta recorrência (mais de R$ 200 bilhões, incluindo HPC).

“Por outro lado, isso representa um risco relevante para as empresas farmacêuticas, já que o Mercado Livre poderia eventualmente causar uma mudança na categoria assim que construísse uma rede capilar. Dito isso, acreditamos que as farmácias tradicionais ainda mantêm uma vantagem competitiva na entrega ultrarrápida, enquanto as lojas físicas continuam a oferecer uma proposta valiosa por meio de um atendimento personalizado e uma experiência diferenciada ao usuário”, avalia a XP.

O Itaú BBA também aponta que a notícia é negativa para as drogarias, enquanto a MELI precisará se destacar em conveniência para competir de forma eficaz.

“A chegada de um novo concorrente de alto calibre traz implicações competitivas claramente negativas para as redes de drogarias já estabelecidas. Dada a importância do segmento farmacêutico para a MELI no fortalecimento da recorrência, a empresa pode optar por operar com margens relativamente mais baixas, especialmente em medicamentos isentos de prescrição (OTC), onde as margens brutas são estruturalmente maiores (cerca de35% contra entre 15-17% para medicamentos com prescrição)”, avaliam os analistas do banco.

Dito isso, as maiores redes estão relativamente melhor posicionadas para resistir à pressão, avalia.

“No segmento farmacêutico, a conveniência é um fator crítico na decisão de compra, e as principais redes desfrutam de vantagens estruturais. Quando estão doentes, os consumidores geralmente querem acesso imediato”, aponta.

Na RD, por exemplo, mais de 70% das vendas são no modelo click-and-collect, e sua rede de lojas garante que a maioria dos consumidores de alta renda do Brasil viva a menos de cinco minutos de uma unidade. “Isso torna a entrega na última milha extremamente eficiente, limitando a vantagem competitiva inicial da MELI nesse aspecto”, conclui.